No espaço de um mês, o movimento “Vizinho Amigo”, criado por um grupo de 15 universitários que frequentam o ensino superior em Lisboa, já soma perto de 5.500 voluntários em todo o país. A ideia é alargar a rede através de parcerias com outras instituições.

O movimento foi criado no dia 14 de março com dois objetivos principais: ajudar os grupos de risco, nomeadamente os mais idosos; e promover o voluntariado entre as faixas etárias mais novas. Os voluntários ajudam nas compras de mercearia e farmácia de quem mais precisa, dentro da área de residência de cada um.

Martim Ferreira é um dos criadores do projeto. Em conversa com o JPN, mostrou-se muito satisfeito e surpreendido com o número de voluntários que têm aderido ao movimento: “nós criámos a página do Instagram numa sexta-feira à noite e ficamos muito surpreendidos com a adesão. Quando lançámos a nossa ficha de voluntário, nos primeiros 10 minutos, tivemos mais de 600 respostas e até pensámos que alguma coisa estava a funcionar mal.”

O jovem estudante no ISCTE explica que o movimento foi criado na altura em que as universidades encerraram aproveitando a ideia “que surgiu em Itália e depois alastrou-se para Espanha e França”. Essa ideia passa por entregar aos “vizinhos mais novos” a missão de “colarem papéis A4 nos seus prédios com informação, de modo a que os vizinhos mais velhos tenham conhecimento que eles estão a oferecer ajuda”.

O processo da criação do movimento no país foi feito por partes: “criámos uma página de Instagram, uma página de Facebook e criámos um cartaz, mais chamativo, e editável, de forma a que o voluntário pudesse colocar lá o nome e o contacto”. Depois, foi criado um formulário para preenchimento dos voluntários dando origem a uma base de dados que é agora “muito grande”, comenta.

A forma como as pessoas conseguem chegar até ao movimento é através dos cartazes, onde fica exposto o contacto dos voluntários, em lugares como os seus prédios ou até mesmo nos estabelecimentos que ainda estão abertos nas imediações, como farmácias, supermercados e mercearias. Há também pessoas que contactam o grupo através das redes sociais.

Uma das missões deste grupo é transmitir confiança e tranquilidade às pessoas: “nós temos frases nas nossas redes sociais que as pessoas que nós ajudamos dizem, como forma de agradecimento”, conta Martim. Muitos voluntários dedicam o seu tempo a fazer companhia: “nós queremos que as pessoas se sintam bem, por isso é que fazemos isto e disponibilizamos companhia”. “Temos muitos idosos que nos oferecem dinheiro extra, mas obviamente nós recusamos, porque isso não está dentro dos nossos objetivos”, sublinha o estudante.

Martim Ferreira diz ainda que o movimento está perto de atingir os 5.500 voluntários, em território continental e na Madeira e nos Açores. Mas o grupo quer crescer e, com esse objetivo, está a tentar fazer parcerias com juntas de freguesias e outras instituições – como por exemplo o Banco Alimentar. A partilha de dados permitiria aumentar o número de voluntários e chegar a mais gente, de forma mais eficiente.

Na base dei Ados do movimento, os voluntários estão organizados por local de residência. No Porto e em Lisboa, é feita a distribuição de voluntários por freguesias, e no resto do país por municípios, “de forma a ser mais fácil atuar”. Acrescenta ainda que a grande maioria dos voluntários é de Lisboa, “penso que há municípios onde não temos, mas são muito poucos, nós estamos muito bem distribuídos por todo o território nacional“, garantiu.

O movimento “Vizinho Amigo” tem como voluntários pessoas maioritariamente entre os 20 e 30 anos, mas há um limite de idade que vai até aos 60, já que, como explica Martim Ferreira, “o voluntário não pode ser do grupo de risco”. No primeiro contacto com os candidatos a voluntários, o grupo procura outras informações: “se o próprio voluntário tiver alguma doença que o impeça de sair de casa, que seja perigoso até para a propagação do vírus, não deixamos que preencha a ficha de voluntário”. Outro fator que têm em atenção é com quem é que o voluntário vive, ou seja, se ele se encontra com pessoas que estão em risco, é pedido que tenham cuidado, porque pode ser perigoso não para voluntário, mas sim para os que vivem com ele.

Martim Ferreira apela a todos os que queiram participar que não hesitem: “todo este mediatismo do vírus apontou para que crescêssemos rapidamente, sendo que o nosso objetivo é ajudar ao maior número de pessoas”, referiu ao JPN.

Figuras públicas como, os atores Pedro Barroso e Ricardo Pereira, já se juntaram ao projeto, como embaixadores oficiais da causa.

Também na ilha da Madeira, um grupo de jovens tomou a iniciativa de ajudar voluntariamente quem precisa na hora de ir à farmácia ou às compras, como noticia o “Diário de Notícias da Madeira”.

Trata-se do grupo “CoFiq em Casa” do qual o “Vizinho Amigo” é parceiro, na partilha da base de dados.

O grupo de jovens da Madeira disponibiliza um número telefónico, para os que se queiram juntar à iniciativa, como transportador e entregador de bens essenciais. Uma condição que é fundamental para adesão neste projeto, é a presença dos voluntários nos últimos 30 dias em território regional.

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Artigo editado por Filipa Silva