Uma interjeição, uma respiração, o tom que emprestamos à voz. Há várias pistas acerca do nosso estado emocional que são transmitidas pelo que vocalizamos, muitas vezes de forma mais eficaz do que através das expressões faciais ou corporais. No Dia Mundial da Voz, e numa altura em que estamos particularmente ligados através dela, o JPN procurou alguns estudos sobre o papel da voz na transmissão de emoções.

Um estudo do investigador Michael Kraus para a Universidade de Yale concluiu que a nossa audição é mais eficaz a detetar emoção numa conversa, do que a nossa visão perante as expressões do rosto.

Alcançaram-se conclusões semelhantes num outro estudo em França. A metodologia foi simples: pedir à amostra que leia e grave uma pequena história. A voz foi depois alterada, o que levou a que muitas das pessoas tivessem interpretações diferentes da história com base no que ouviram. Por exemplo, se a velocidade voz fosse mais rápida e mais aguda, entendia-se a história como mais excitante. Pelo contrário, se fosse desacelerada e mais monocórdica, já era mais aborrecida.

Esta perceção vai além da interpretação do discurso. Descobriu-se recentemente que os humanos são capazes de denotar pequenas nuances emocionais na voz, independentemente da língua falada. Num estudo para a Universidade de Berkeley concluiu-se que a voz transmite 24 emoções não verbais, através do uso de atores de países e culturas diferentes, desde os Estados Unidos à Índia. Nasceu assim também um mapa interativo das emoções, que pode agora ser usado no contexto clínico para o tratamento de distúrbios emocionais, como o autismo, ou para melhorar a capacidade interpretativa de dispositivos de inteligência artifical, como a Siri.

Mas não é só através da voz falada que as emoções se conseguem transmitir. Num estudo intitulado “As cores da voz”: Expressão das Emoções no Timbre da Voz Cantada”, a investigadora Ana Leonor Pereira usou uma amostra de cantores profissionais a solo de ambos os sexos e de vários tipos vocais e procedeu à gravação das suas perfomances a cappella, para “garantir que não havia no espectro analisado nenhuma interferência de outro espectro dado por um ou vários outros instrumentos”. As atuações foram avaliadas por um júri composto por alunos de canto, que as classificou como transmissoras de alegria, raiva, tristeza ou medo.

Os resultados concluíram que a emoção que foi mais vezes entendida foi a tristeza, enquanto que aquela que foi menos percetível foi a alegria.

Ficou também provado que o timbre dos cantores influencia a expressão das emoções pela voz embora “com efeito subtil” e que cada emoção “tem uma assinatura individualizada no timbre da voz cantada”. Há também diferenças na forma como o género pode influenciar a interpretação das emoções, visto que nos cantores do sexo feminino houve uma “discriminação emocional mais acentuada” e uma maior distinção entre uma voz neutra e uma que transmite tristeza, sendo essa diferença menos evidente nos homens.

Em tempos de isolamento, é importante entender a capacidade que a voz tem de transmitir as emoções. Agora que estamos impedidos de contactar fisicamente, é a hora ideal de pôr esta capacidade à prova, seja através do telefone, de gravações ou até da rádio.

Artigo editado por Filipa Silva