O escritor chileno Luis Sepúlveda morreu esta quinta-feira (16), aos 70 anos, em Espanha, vítima da COVID-19. Sepúlveda estava internado, desde o final do mês de fevereiro, no Hospital Universitário Central das Astúrias, em Gijón.

O escritor manifestou os primeiros sintomas de COVID-19 dias depois de ter marcado presença no festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, que se realizou entre 15 e 23 de fevereiro – ainda não havia à data casos confirmados de COVID-19 em Portugal. Esse fator levou o Correntes d’Escritas a recomendar uma quarentena voluntária a todos os participantes do evento.

Nascido em Ovalle, no Chile, a 04 de outubro de 1949, Sepúlveda residia em Gijón, nas Astúrias, desde 1997. O escritor deixa para trás uma vasta carreira no mundo da literatura, tendo publicado mais de vinte livros. A sua primeira obra, Crónicas de Piedro Nadie (Crónicas de Pedro Ninguém, em português), foi publicada em 1969.

Dentre a sua bibliografia destacam-se os romances O Velho que Lia Romances de Amor e História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar. Com mais de 18 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, a obra de Luís Sepúlveda está traduzida em 60 idiomas.

Além de romancista, foi também realizador, roteirista, jornalista e ativista político e ambiental. Luis Sepúlveda era casado com a poetisa Carmen Yáñez, que também esteve hospitalizada e em isolamento.

Reações à morte de Luis Sepúlveda

A morte do escritor, que visitava regularmente Portugal e tinha toda a sua obra traduzida para português, originou diversas reações de diversas figuras no panorama nacional.

Marcelo Rebelo de Sousa, afirma, numa nota publicada no site da Presidência da República, que recebeu com “particular tristeza” a notícia, afirmando que Luis Sepúlveda era “um amigo de Portugal”.

“Amplamente traduzido em Portugal, visita habitual do nosso país, o seu desaparecimento é especialmente sentido pelos portugueses, sentimento a que me associo, apresentando as minhas condolências à sua mulher, a escritora Carmen Yáñez”, disse ainda o Presidente da República.

O escritor José Luís Peixoto, por sua vez, diz numa publicação no Facebook ter recebido “com choque a notícia do desaparecimento deste amigo”.  José Luís Peixoto recorda as histórias que partilhou com Sepúlveda e termina dizendo que “Lucho era o nome pelo qual gostava de ser tratado pelos amigos. Por isso, agora, não consigo chamar-lhe outro nome. Querido Lucho”.

Recebo com choque a notícia do desaparecimento deste amigo. E passam-me pela cabeça estes quase vinte anos de encontros…

Publicado por José Luís Peixoto em Quinta-feira, 16 de abril de 2020

Francisco José Viegas, editor literário e ex-secretário de Estado da Cultura, homenageou o escritor chileno, no Twitter. “Tratávamo-nos por «el gordito» um ao outro. Isto assim não está bem. Ao fim de quase dois meses, um adeus anunciado”, escreveu.

A escritora Lídia Jorge, num testemunho prestado à Porto Editora, recorda o primeiro contacto que teve com as obras de Luis Sepúlveda, que se tornou “num dos escritores mais queridos das últimas décadas”.

“Luis Sepúlveda é um contador maior. Os seus livros são jóias preciosas, marcados pela terra sul-americana que lhe deu origem, pela língua espanhola que lhe deu a plasticidade vigorosa da narrativa, e sobretudo pelo cunho de criador incomum, que lhe permite ser traduzido e amado em todas as línguas”, afirma Lídia Jorge.

Também o escritor João Tordo reagiu à morte de Sepúlveda. Numa publicação do Facebook, João Tordo dirigiu os “mais sinceros pêsames” à família e afirmou que a obra do escritor chileno “continuará entre nós”.

Internado desde o final de Fevereiro, morreu hoje, vítima do Covid-19. À família e a todos os que o lêem, os mais sinceros pêsames. A obra continuará entre nós.

Publicado por João Tordo em Quinta-feira, 16 de abril de 2020

Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, partilhou uma fotografia do livro O Velho Que Lia Romances de Amor, afirmando que o leu “há muitos anos”, tendo voltado ao livro “algumas vezes”. “Continuarei a voltar. Hoje é um dia triste”, acrescenta Catarina Martins.

Artigo editado por Filipa Silva.