Entre 70 a 115 potenciais vacinas estão a ser desenvolvidas para o novo coronavírus. Dados da Organização Mundial da Saúde e da Revista norte americana "Nature", mostram números dispares, talvez explicados pela desistência de algumas empresas na procura do antidoto para a pandemia.

Ultrapassada a barreira dos dois milhões de casos de COVID-19, a comunidade científica concentra esforços no sentido de encontrar vacinas e tratamentos para retardar a pandemia e diminuir as repercussões na sociedade e na economia. O número de testes é agora bastante mais vasto, mas as previsões continuam a apontar para o próximo ano.

António Guterres alerta que a vacina “pode ser a única ferramenta para o mundo regressar à normalidade”. O secretário-geral das Nações Unidas afirma que a vacina para a COVID-19 “pouparia milhões de vidas e milhares de milhões de dólares”, apelando assim à rapidez no desenvolvimento de uma vacina de acesso “universal”.

A revista “Nature” contabiliza 115 testes em desenvolvimento para uma vacina: 78 confirmados como ativos e 37 não confirmados. Dos 78 testes ativos, cinco estão em fase de ensaios clínicos. O balanço, atualizado na quarta-feira, foi feito com base em dados recolhidos pela Coligação para a Inovação na Preparação contra Epidemias (CEPI, em inglês).

Criada em 2017 para incentivar e acelerar o desenvolvimento de vacinas contra doenças infecciosas emergentes, a CEPI financia alguns dos testes mencionados pela “Nature“. Dinheiro que é suportado por vários governos, pela Fundação Bill e Melinda Gates, a organização britânica Wellcome Trust e pelo Fórum Económico Mundial.

Já um recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela números mais baixos. A OMS diz estão em curso 70 estudos de vacinas, dos quais 67 estão na fase pré-clínica e os restantes três já estarão a realizar testes em humanos.

Estudo das Vacinas. Quem lidera?

Mas voltemos aos dados da “Nature”. De acordo com a publicação especializada em ciência, 56 dos 78 testes ativos são da responsabilidade de farmacêuticas (72%); os restantes 22 projetos são liderados por instituições académicas, setor público e organizações sem fins lucrativos (28%).

Destes, cinco candidatos passaram recentemente para o desenvolvimento clínico, com testes em humanos por quatro instituições:

  • Moderna
  • CanSino Biologicals
  • Inovio
  • Shenzhen Geno-Immune Medical Institute (dois estudos em curso)

A vacina mais avançada no processo clínico será a que está a ser desenvolvida em conjunto pelo Instituto de Biotecnologia de Pequim, da Academia de Ciências Médicas Militares e a CanSino Biologics, uma empresa sediada em Hong Kong.

O estudo chinês que decorre em três locais diferentes em Wuhan, cidade onde o surto se desenvolveu, está já na Fase 2, envolvendo 108 adultos, com idades entre os 18 e os 60 anos. Testada anteriormente em animais, a avaliação do impacto no corpo humano vai prolongar-se até ao fim de janeiro de 2021.

As vacinas desenvolvidas pela Shenzhen Geno-Immune Medical Institute não constam do relatório disponibilizado pela OMS, no entanto, segundo a “Nature“, elas estão em fase de testes. A primeira, iniciada em 15 de fevereiro com 100 participantes, procura avaliar a imunidade de um antigénio artificial do novo coronavírus. Uma segunda vacina com proteínas virais selecionadas, começou a ser testada no passado mês, com o mesmo número de voluntários. Apesar de os testes clínicos destas duas vacinas estarem em fase avançada comparativamente com as restantes, os seus testes só devem estar concluídos no final de 2024.

Nos Estados Unidos decorrem testes clínicos com duas soluções em fase também avançada.

Uma delas está a ser desenvolvida pela farmacêutica Moderna Inc., que em pouco mais de dois meses (63 dias), conseguiu iniciar o seu teste em humanos, depois de identificar a sequência genética da Sars-CoV-2. Iniciada no dia 3 de março, a fase 1 do teste contempla 45 adultos com idades entre os 18 e os 55 anos, que vão ser submetidos a três doses de mRNA-1273, sendo acompanhados até junho de 2021, data prevista para o final do teste.

Um numero semelhante de participantes submetidos a teste é o de outra empresa que tem a sua investigação avançada: a INOVIO. Das 3 mil doses já disponíveis, a farmacêutica norte-americana está numa primeira fase a testar nos Estados Unidos em 40 pessoas entre os 18 e 50 anos. Cada uma vai receber duas doses de injeção com quatro semanas de intervalo. Com financiamento do CEPI (8,2 milhões de euros) e da Fundação Gates (4,6 milhões). As fases posteriores dos testes vão decorrer na China e Coreia do Sul. O estudo estará completo no dia 20 de novembro deste ano.

A resposta Europeia

Cientistas da Universidade de Oxford vão iniciar na próxima semana testes em humanos para uma potencial vacina contra o novo coronavírus. Após um progresso significativo nos estágios iniciais de desenvolvimento, os investigadores esperam que o tratamento possa ser lançado no outono.

Num artigo citado pelo Independent, os investigadores do Jenner Institute e do Oxford Vaccine Group, contam que a vacina esteja pronta a partir de setembro. A professora Sarah Gilbert, vacinologista de Oxford, diz estar “80%” confiante de que será um sucesso.

A Universidade de Oxford junta-se a outros três grupos de investigadores – dois nos Estados Unidos e um na China, nos testes iniciais em 510 pessoas, depois de terem testado com sucesso a vacina em vários animais.

As quatro fases até encontrar uma vacina

Um dos problemas com que a comunidade científica se tem deparado durante os testes, passa pelo saltar de etapas para encontrar um placebo que responda eficazmente ao novo coronavírus.

As preocupações são suscitadas pela necessidade de encontrar o mais rápido possível uma vacina para a COVID-19 e por isso, uma corrida apressada pode trazer mais prejuízos que benefícios para a sociedade.

Os avanços no sequenciamento genético assim como os desenvolvimentos tecnológicos, aceleraram alguns dos trabalhos em laboratório para o desenvolvimento de vacinas. A revista de saúde online Healthline, apresenta as quatro fases porque passa o desenvolvimento de uma vacina:

  • Fase I. O medicamento é administrado a um pequeno número de pessoas saudáveis e pessoas com uma doença para procurar efeitos colaterais e descobrir a melhor dose.
  • Fase II. O medicamento é administrado a várias centenas de pessoas com a doença, procurando verificar se funciona e se existem efeitos colaterais que não foram detetados durante o teste inicial.
  • Fase III. Neste ensaio em larga escala, o medicamento é administrado a várias centenas ou até 3.000 pessoas. Um grupo semelhante de pessoas toma um placebo ou composto inativo. A análise geralmente pode levar 1 a 4 anos. Esta fase fornece a melhor evidência de como o medicamento funciona e os efeitos colaterais mais comuns.
  • Fase IV. Os medicamentos aprovados para uso passam por um monitorização contínua para garantir que não haja outros efeitos colaterais, principalmente os graves ou a longo prazo.
Fonte: FDA

A COVID-19 já provocou, até esta sexta-feira (17), mais de 147 mil mortes em todo o mundo, uma lista já liderada, de forma destacada, pelos Estados Unidos (28.998), seguido por Itália (22.170), Espanha (19.315), França (17.920) e Reino Unido (14.576). Portugal tinha esta sexta-feira registados 657 óbitos causados pela doença.

Artigo editado por Filipa Silva