Já são conhecidos os vencedores do World Press Photo 2020, anunciados na noite desta quinta-feira, numa edição que não contou com uma celebração presencial como é costume devido à pandemia de COVID-19. Entre os grandes vencedores destacam-se as fotografias de revoltas populares em África, no Sudão e na Argélia. Na lista de galardoados constam ainda imagens das revoltas estudantis em Hong Kong, na China, assim como um vídeo de uma projeção de um mundo sem água.

Melhor Fotografia do Ano

Foram seis os nomeados à categoria, que podem ser vistos aqui, na qual se sagrou vencedor Yasuyoshi Chiba, da agência de imprensa francesa Agence France-Presse, com a fotografia “Straight Voice”. O vencedor deste ano foi escolhido após ponderação de sete juízes.

A fotografia mostra um jovem, iluminado por lanternas dos telemóveis à sua volta, que recita poesia num protesto não violento enquanto se repetem slogans que pedem ordem cívica, com a cidade às escuras, em Cartum no Sudão. Os protestos tinham-se iniciado no país em dezembro e foram crescendo por diversos motivos, principalmente pela insatisfação da população com o governo e a forma como atua.

O fotógrafo que capturou o momento, explicou o momento à organização do World Press Photo: “O local era um apagão total. Então, inesperadamente, as pessoas começaram a bater palmas no escuro. Seguravam telemóveis para iluminar um jovem no centro. Ele recitou um famoso poema de protesto, improvisado. Entre a respiração dele, todos gritaram ‘thawra’, a palavra revolução em árabe. A expressão facial e a voz dele impressionaram-me, não consegui parar de me concentrar nele e capturei o momento.”

Melhor Fotografia de História do Ano

Na segunda categoria de maior destaque no concurso, o vencedor foi Roman Laurendeau, da França, com a série fotográfica que recebeu o nome de “Kho, the Genesis of a Revolt”. A palavra “Kho” significa “irmão” no coloquial arábico norte-africano. A história contada é a de uma profunda inquietação da juventude, que desafiou a autoridade do governo e inspirou o resto da população e fez nascer o maior protesto na Argélia em décadas.

“Era impossível para uma parte de mim não me reconhecer nesses jovens. Eles são jovens, mas estão cansados ​​dessa situação e só querem viver como toda a gente”, explicou Roman Laurendeau.

Melhor Fotografia Interativa do Ano

Hong Kong tem estado num momento totalmente crucial de protestos nos últimos meses. Foi com “Battleground PolyU, vencedor do prémio, de DJ Clark do “China Daily” que estes movimentos foram mostrados com maior imersão. Os protestos chegaram a um ápice em novembro de 2019, quando um polícia baleou um protestante. Vários estudantes ocuparam as principais avenidas e universidades da cidade, onde as lutas com as autoridades se tornaram diárias. A atenção voltou-se, então, para a “Hong Kong Polytechnic University” (PolyU) onde os estudantes criaram um bloqueio no túnel que dava acesso a universidade.

Este movimento e toda a luta realizada pelos estudantes na PolyU é apresentado de forma interativa pelo vencedor do prémio. A audiência é transportada para a mente dos protestantes e dos jornalistas que reportam a situação. O vídeo interativo está disponível no site do concurso.

Melhor Vídeo Online do Ano

Em “Scenes Form a Dry City, vencedor desta categoria, de Francois Verster e Simon Wood, expõe a desigualdade social presente na Cidade do Cabo, na África do Sul, devido a falta de água. A cidade tem crises de falta de água desde 2017. O vídeo mostra tanto o ambiente, afetado pelas mudanças climáticas, como a população descontente com a situação ao mesmo tempo que passa dificuldades diárias.

“Queríamos criar algo futurista, algo que nos permitisse espreitar o futuro e imaginar um mundo sem água”, explicou Simon Wood.

Ao World Press Photo concorreram 4.282 fotógrafos de 125 países, num total de mais de 73 mil fotografias no total. Além disso, na categoria de Melhor Fotografia de História do Ano, estiveram 287 produções a concurso – entre elas 81 interativas, 88 curtas, e 108 longas. Dos diversos inscritos, a competição reduziu-se a 44 fotógrafos.

Artigo editado por Filipa Silva.