Sun Oddly Quiet” é o título do segundo trabalho a solo de João Pais Filipe. O baterista, percussionista e escultor sonoro do Porto está envolvido em projetos como HHY & The Macumbas, Paisiel ou Talea Jacta e tem um longo historial de colaborações com outros artistas. Depois do primeiro álbum em nome próprio, em 2018, apresenta agora o sucessor, com lançamento marcado para 24 de abril numa parceria entre a Lovers & Lollypops e a Holuzam.

A música de João Pais Filipe escapa a rótulos: o máximo que dela se pode dizer é que é experimental, percorrendo e mesclando os mais variados géneros. Em “Sun Oddly Quiet”, que faz lembrar uma espécie de ritual tribal, o artista inspirou-se em ritmos africanos e do Médio Oriente, numa exploração que pretende criar “uma ponte entre algo ancestral e algo mais futurista”, como explica em declarações ao JPN.

Ao JPN, diz ainda que o público pode esperar do novo álbum “ritmos mais complexos que o primeiro [álbum], mais longos, estáticos e repetitivos, como um mantra”, mas que, no entender do artista, “se aguentam bem, devido ao ritmo complexo” que usou, que cria “toda a harmonia à volta”.

João Pais Filipe diz haver no novo trabalho não só uma continuidade quanto ao seu precursor, mas também uma evolução. “Acho que em termos rítmicos é um nível mais à frente. Tentei uma coisa mais minimal, temas longos, mas com o mínimo de elementos. A música tem que viver um bocado do que vem de dentro e não com o que a preenches à volta, o meu objetivo é com o mínimo de recursos possível construir uma coisa forte, complexa”, sustenta.

Este minimalismo passa também pelos nomes das faixas, em numeração romana, que, explica o baterista, são referentes aos tempos das músicas. “Queria manter esta ideia minimal, não só musicalmente mas também a nível do conceito, com o mínimo de informação possível”.

E de onde saiu este nome, “Sun Oddly Quiet”? João Pais Filipe explica que, para o título do álbum, procurava “algo que tivesse a ver com o sol, com ciclos” que diz ser uma temática relacionada com a música que produz. Durante a pesquisa sobre ciclos solares, deparou-se com a expressão num artigo sobre a hibernação do sol (um fenómeno natural periódico que vai acontecer em 2020 e que resulta na redução da temperatura na Terra), que descrevia “uma espécie de mini idade do gelo.” “Achei que tinha tudo a ver com o que eu estava a fazer, tanto a nível imaginário como a nível cíclico”, justifica.

O músico diz ter ficado bastante focado no trabalho a solo desde que editou o primeiro trabalho em nome próprio, em 2018, mas que isso não exclui parcerias com outros músicos, até as enriquece. “É muito importante. E acho que isso também se reflete no resto dos projectos com que eu trabalho, é como um alongamento: se não existisse esta pesquisa em mim os outros projectos também não aconteceriam.” Prova disso é um outro novo trabalho cujo lançamento está agendado para maio, “Eurydike”, em colaboração com o músico alemão Burnt Friedman.

O percussionista de 39 anos, sem formação musical institucional, licenciou-se em Belas Artes e costuma fazer os seus próprios kits de bateria. Os metais da bateria, como pratos, gongos ou sinos, são todos feitos por si, e todos os elementos são modificados pelo artista de alguma maneira para terem o som que procura.

O artista aponta o seu “mindset” para conseguir kits diferentes dos restantes. É “o ponto de partida [o mindset], eu nunca estou a pensar num ride ou numa tarola, são já aqueles elementos que normalmente se usam. Desde o primeiro disco tentei desconstruir isso completamente e pensar noutra maneira de tocar. Já sabes onde começa o ritmo e quais são as opções, aqui é exactamente o oposto”, explica. Lamenta, contudo, o facto de não poder usar em concerto uns tambores novos que trouxe do Uganda, no momento, devido à pandemia provocada pela COVID-19, que levou ao fecho das salas de espetáculos.

Como se lida, então, com esta nova realidade? João Pais Filipe diz não saber muito bem como serão os tempos que se avizinham, com todos os concertos cancelados até agosto, e que provavelmente esta será uma altura mais de introspeção, para fazer nova música e dedicar-se a criar novas peças de bateria. Porém para o dia de lançamento de “Sun Oddly Quiet” está já previsto um live streaming, a partir da oficina do músico, embora admita que “vai ser estranho tocar sem público”.

Até lá, já é possível ouvir o single XV, com vídeo:

Artigo editado por Filipa Silva.