Os atores António Capelo, Maria do Céu Guerra e Leonor Seixas, os escritores Maria Teresa Horta, Alice Vieira e João Tordo, o maestro António Vitorino de Almeida, o músico Filipe Pinto e o escultor Francisco Simões são alguns dos mais de trinta artistas que assinaram o manifesto, lançado na quarta-feira (22), em defesa da cultura depois da pandemia.

A iniciativa intitula-se “A cultura na resposta à crise” e tem como objetivo que, depois da pandemia, “a cultura não fique esquecida, que seja dirigida ao lugar que merece e que seja tratada em simultâneo com todas as outras urgências que vão surgir”, afirma ao JPN a escritora Ana Filomena Amaral, impulsionadora do manifesto.

Ana Filomena Amaral relembra que, nesta altura de isolamento social, os portugueses recorrem à cultura para passarem o tempo. “Quem está em casa está a fruir da cultura, está a ouvir música, está a ler, está a ver filmes, está a ver teatro. Portanto estou convencida que ela continue a ser imprescindível e necessária após o confinamento”, acrescenta.

“Não é supérfluo lembrarmos sempre que a cultura está aqui e precisa também de ajuda. Encarem também cultura como uma área prioritária, porque ela é uma área prioritária”, afirma ainda a escritora.

O manifesto assinala que o mundo enfrenta uma pandemia com “efeitos devastadores” em todas as áreas, como a saúde, a economia e a cultura. Assim sendo, é defendida a necessidade do país se reerguer e reconstruir um mundo “mais justo e mais solidário, em que a Humanidade se reaproxime da Natureza”, e em que “a cultura seja valorizada”, lê-se no texto.

O documento vai ser enviado ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues e à ministra da Cultura, Graça Fonseca, no dia 02 de maio. O manifesto pode ser assinado por quem quiser, através do email [email protected], até 30 de abril.

“A cultura é a alma de toda a comunidade”

No documento, alguns dos artistas deixaram os seus testemunhos. O pianista Adriano Jordão afirma que “a cultura é a alma de toda a comunidade”. Já a escritora Alice Vieira recorda uma frase de Churchill, quando foi proposto um corte no financiamento da cultura, durante da II Guerra Mundial: “Se cortássemos na cultura, então por que é que estaríamos a lutar?”.

O poeta António Carlos Cortez realça que “mais do que nunca, cabe a quem decide políticas de educação e cultura exigir, no orçamento de Estado, e exigir à própria Europa comunitária, no contexto dos planos de recuperação financeira e económica que se avizinham, um incentivo claro para que as atividades culturais não morram”.

Para a pintora Gracinda Candeias “se o pão é fundamental como alimento para o corpo, a cultura é fundamental para a alma”. À semelhança, o escritor Rui Zink compara a cultura ao ato de respirar, “tão essencial que mal lhe damos valor”.

Joana Bértholo, escritora e dramaturga, afirma que, para fazer cultura são precisas muitas pessoas, realçando que “é urgente dar-lhes condições”.

“E talvez, quando sairmos disto, possamos sair com as respostas que nos foram dadas pelo que lemos, pelo que ouvimos, pelo que vimos num poema, num romance, num plano de filme, numa réplica teatral, numa canção ou numa peça musical. Se for isso que levarmos para a liberdade plena, quando ela surgir, não teremos perdido tudo neste isolamento”, escreve o poeta e ensaísta Nuno Júdice.

Artigo editado por Filipa Silva.