À saída das múltiplas audiências com o Presidente da República, o tom das preocupações do setor dos media é transversal: quebra de receitas, jornalistas despedidos, redações em lay-off, jornais que já não saem para as bancas. Os representantes do setor dos media portugueses estiveram reunidos com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém, na passada sexta-feira, véspera do dia da liberdade.

Depois de apresentarem ao Presidente da República “o estado a que isto chegou” nos media, a pergunta impõe-se: o que fazer para se alterar o paradigma?

Numa carta publicada no site do Sindicato dos Jornalistas (SJ) é pedido que a resposta ao setor dos media seja “tomada e coordenada pelo primeiro-ministro”, considerando que este “não é um assunto setorial, do ministério ou da secretaria de estado, é um assunto da democracia”, vinca o sindicato.

Por isso, o SJ pediu que as “conversações” prometidas pelo secretário de Estado para o Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, aconteçam “sem mais delongas”, depois de ter sido garantida uma reunião há mais de uma semana.

De forma a contrariar a quebra de 75% de vendas em banca para os jornais desportivos e de 50% para todas as publicações, o Sindicato dos Jornalistas elencou as seguintes sugestões:

  • a “redução do porte pago e outros apoios urgentes à imprensa regional”;
  • a criação de “vales para que o Estado ofereça a assinatura de um jornal/meio digital a cada cidadão”;
  • a oferta direta aos cidadãos, ou compra pelo Estado, de subscrições online de órgãos de informação;
  • assegurar que o Estado e as suas empresas do setor empresarial passam a comprar informação jornalística diretamente a quem a produz e não às empresas de clipping, ou que se crie legislação que obrigue estas a pagarem pela informação que distribuem;
  • Implementar “benefícios fiscais e alívio de impostos para as empresas de informação e os cidadãos que consomem informação”;
  • a “criação de um imposto sobre as plataformas digitais”.

Citada pela TSF, a presidente daquele órgão sindical, Sofia Branco, assegura que o “Presidente [da República] comprometeu-se, desde logo, a tentar perceber em que se traduzirá este apoio dos 15 milhões, com que moldura e que critérios”, de forma a serem “adotadas outras medidas que obviamente têm de acompanhar esta medida de emergência que não é suficiente“. A presidente do SJ lembrou ainda a indicação que Marcelo Rebelo de Sousa vai ajudar na agilização das “reuniões prometidas pelo Governo com o setor que não aconteceram ainda”.

Imprensa e rádios locais

Quem também explanou as preocupações do setor ao Presidente da República foi o responsável pela Associação Portuguesa de Imprensa. À TSF, João Palmeiro, revelou que alguns jornais já fecharam porque “não tinham dinheiro”. “Acho que é uma coisa muito difícil de dizer em 2020: uma empresa, de repente, ficou sem dinheiro“, sublinhou.

A associação adiantou ainda que durante a pandemia o setor da imprensa perdeu a edição de 30 jornais e que as reduções de horário ou a suspensão de contratos são agora uma realidade. “Temos uma amostragem de cerca de 50 jornais com trabalhadores com diferentes tipos de lay-off, sobretudo no pessoal administrativo e comercial”, sublinhou João Palmeiro ao jornal “Público”.

Já as rádios locais sofreram uma quebra de receitas publicitárias que ascendem os 70%, números adiantados ao Presidente da República pela Associação de Rádios de Inspiração Cristã.

De acordo com a TSF, a maioria das rádios locais não tem tesouraria para aguentar os próximos dois meses, sendo que algumas já tiveram dificuldade em pagar as despesas do mês de março.

Para o presidente da associação, Nuno Inácio, é o momento de o Governo olhar com cuidado para o setor da informação, particularmente para as rádios locais e regionais, numa altura em que “os portugueses estão hoje a consumir cada vez mais informação”.

Jornalismo sem jornalistas?

A presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), Leonete Botelho, deixou bem vincada a preocupação do organismo: é preciso separar o trigo do joio no que diz respeito ao jornalismo.

Ao jornal “Público”, a CCPJ garantiu ter deixado junto do Presidente da República o pedido de que “os apoios à comunicação social que o Governo já anunciou que vai distribuir tivessem a preocupação fundamental, que é serem distribuídos a órgãos de informação jornalística”.

Sem uma lei que classifique os diferentes órgãos de comunicação jornalística, Leonete Botelho sublinhou que “é muito fácil aferir o que é um órgão de informação jornalístico”, visto que “há um imenso leque de empresas de comunicação social que não são jornalismo, que não têm jornalistas, que têm outro tipo de interesses”, sublinhou a presidente deste organismo à saída da audiência com o Presidente da República.

Artigo editado por Filipa Silva.