O regresso às atividades presenciais na Universidade do Porto vai ser “muito gradual” e há um “plano B” caso estas tenham de ser novamente suspensas, garantiu o Reitor da Universidade do Porto (UP), António de Sousa Pereira, durante um webinar da instituição que decorreu esta terça-feira.

A sessão, transmitida no YouTube e integrada por vários elementos do grupo de trabalho da UP para a COVID-19, tinha como objetivo responder a algumas questões colocadas previamente pela comunidade académica, relacionadas com a retoma das atividades. Foram submetidas 133 questões no total.

Foi ainda anunciado que a instituição vai criar uma época especial em setembro para os estudantes internacionais ou insulares que já estejam fora do território continental nacional e não possam deslocar-se até à UP em junho/julho para fazer avaliações presenciais. A instituição estima que sejam muito poucos os que vão estar nesta situação.

O ensino à distância não garante aquisição de competências e pode desvalorizar os diplomas

António de Sousa Pereira arrancou o webinar com um esclarecimento de que o fim do estado de emergência e o regresso à (nova) normalidade implica, para a UP, a retoma de apenas “algumas atividades que são consideradas essenciais” de forma “muito gradual”.

“Há áreas de conhecimento em que não é possível, de todo, fazer ensino à distância”, explicou. O reitor destacou o caso de Medicina Dentária como “o mais crítico”, uma vez que “os estudantes que em julho receberem o diploma de médicos dentistas, em agosto podem abrir um consultório”. Os diplomas têm que atestar que os alunos “têm determinadas competências, que não é possível serem adquiridas em ensino à distância”, disse.

Assim, para responder às necessidades de áreas com ensinos laboratoriais e de componente prática muito forte serão retomadas algumas atividades “de forma muito cautelosa, com um número reduzido de alunos presencialmente em cada uma das sessões, e com todas as questões de segurança absolutamente asseguradas”, garante o reitor.

Na sua intervenção, o Reitor defendeu a resposta da UP à evolução da pandemia – que foi primeiro no sentido de manter e depois de suspender as atividades presenciais – e sublinhou que o regresso se justifica por razões de responsabilidade social, para com os contribuintes que continuam a financiar as universidades, e de responsabilidade universitária: “Não é só o prestígio da universidade que está em causa, é o valor social dos diplomas que [os alunos] irão ter na mão que está, também, em causa”, prosseguiu.

Caso as circunstâncias se alterem, António de Sousa Pereira garante que a Universidade do Porto dispõe de um “plano B” que acionará no caso de ser impossível manter atividades presenciais. Por enquanto, uma vez que as várias unidades orgânicas da UP têm alguma autonomia, o reitor assegura que seguirão as normas da reitoria e que serão responsáveis pelas consequências das suas decisões. “Aquilo que vos peço nesta fase é que confiem nas instituições”, apelou.

Estudantes deslocados que não consigam regressar ao Porto não serão penalizados

António de Sousa Pereira destacou a deslocação dos estudantes para casa como uma das grandes preocupações neste regresso, mas atribui a responsabilidade a cada aluno. “Essas decisões foram decisões que foram individuais. Nunca a universidade disse para eles voltarem para as suas terras de origem”, defendeu o Reitor. “Sempre acreditamos que a pandemia ia ter uma duração mais reduzida do que aquilo que era genericamente dito nos órgãos de comunicação social”, sublinhou, atribuindo as deslocações ao “pânico” gerado.

Agora, depois das circunstâncias se terem agravado e os estudantes terem regressado a casa, o Reitor anunciou que o Conselho Coordenador da Melhoria do Ensino-Aprendizagem da Universidade do Porto (CCMEUP) já tomou algumas decisões. Uma delas contempla que “as situações que estejam devidamente justificadas serão levadas em linha de conta e ninguém será prejudicado pelo facto de estar ausente da cidade e não se poder deslocar”.

Quanto à comparência nos exames, o Reitor não exclui a hipótese de haver impedimentos em julho, altura em que decorrem presencialmente, a maioria dos exames. António de Sousa Pereira admite que, no caso do confinamento e a pandemia prevalecerem daqui a dois meses, “temos razões para estar preocupados é com a existência da própria universidade”. Contudo, oferece uma expectativa esperançosa de que “em julho já seja possível não só as pessoas virem ao Porto, como irem à praia, irem ao campo, irem aos restaurantes”.

Alunos das ilhas e estudantes internacionais deslocados têm direito a época especial em setembro

Face a algumas questões relacionadas com os alunos insulares, o Reitor da UP diz que tem estado “em conversações permanentes com o Governo, nomeadamente da Região Autónoma dos Açores“. Contudo, deve-se a uma razão oposta à levantada pelos alunos: “o Governo autónomo dos Açores está muito triste porque dos 314 alunos açorianos que estudam na Universidade do Porto, não tem nenhum nos Açores”, ironizou.

Neste sentido, o Reitor assume que “a questão dos alunos insulares que não podem vir fazer exames é uma questão que não existe, porque os alunos insulares estão cá”, apesar de não dispor de um levantamento dos alunos da Madeira, os quais acredita que estejam também na maioria em território continental.

A vice-reitora Maria de Lurdes Correia Fernandes, responsável pelas áreas da Formação, Organização Académica e Relações Internacionais, avançou a propósito, já no final da videoconferência, que foi criada uma época especial em setembro para os estudantes internacionais e das ilhas “que agora não consigam voltar ao continente ou que os custos da vinda sejam muito elevados“.

Fazendo prova de que estão fora do país, nas ilhas ou nos países de origem, os estudantes “poderão realizar presencialmente as avaliações que os docentes decidam ser presenciais”. Vão manter-se duas épocas, uma normal e uma de recurso, durante a primeira quinzena de setembro. Contudo, segundo a docente, um inquérito apurou que 75% dos estudantes internacionais da UP ainda se encontram em Portugal.

O regresso às atividades vai avançar sem os estudantes doentes

Para o Reitor, a questão dos estudantes doentes – que não podem deslocar-se às aulas – serem desfavorecidos em comparação com os restantes “nunca foi colocada em relação a ninguém”: “se um estudante tem uma doença, seja ela física ou psíquica, nunca interrompemos em lado nenhum as aulas”, defendeu.

Em relação aos doentes infetados com o novo coronavírus, o Reitor deixa a ressalva de que se trata de um número “residual” de casos sem gravidade e em “situações praticamente assintomáticas”. Perante esta inquietação dos estudantes, afirmou que “condicionar a retoma das aulas a não haver estudantes doentes significava fechar a universidade para todo o sempre”.

O Reitor da Universidade do Porto terminou pedindo “cooperação no sentido de fazermos uma retoma com segurança, não colocando em risco a saúde de ninguém”. António de Sousa Pereira relembrou ainda os estudantes de que, ao contrário deles, muitos dos docentes e funcionários são população de risco e que, por isso, deverá haver responsabilidade.

A sessão contou ainda com a presença de outros docentes membros da taskforce da UP para a COVID-19, numa abordagem às recomendações da Universidade do Porto para este regresso. Entre os restantes participantes da videoconferência estiveram a vice-reitora Maria de Lurdes Correia Fernandes, o pró-reitor José Castro Lopes, o presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) Henrique Barros, a investigadora do ISPUP Teresa Leão e, por último, o administrador da Universidade do Porto, João Carlos Ribeiro.

Artigo editado por Filipa Silva