O Corona Short Film Festival, o primeiro festival internacional de cinema sobre a pandemia e o auto-isolamento, já tem finalistas e abriu no domingo (10) a votação ao público. Bárbara Tavares, realizadora brasileira a residir no Porto, foi uma das 35 selecionadas, com a curta-metragem “Mulheres em quarentena”, filmada em Portugal e no Brasil apenas com recurso aos telemóveis das protagonistas.

A curta é uma história documental que mostra a vida de duas mulheres, que são mães, uma no Brasil e outra em Portugal. O projeto tem o intuito de mostrar o lado feminino destas mulheres, como elas conseguem lidar com os problemas que estão à sua volta.

A maior dificuldade de Bárbara Tavares foi a quarentena imposta no país, que a obrigou a conversar com as participantes à distância. “Foi desafiador por não ter muito controle. Deixei elas livres, a única coisa que eu pedi foi para ser filmado na horizontal. Não sabia muito o que ia receber, dava ideias de acordo com o que via, mas não tinha a menor ideia do que ia vir. Meu trabalho foi de juntar tudo e tentar disso fazer uma história”, contou a argumentista e realizadora da curta ao JPN.

As duas pesonagens da história são Eloá Chaignet, em Brasília, e Michele Nogueira, em Lisboa. Ambas são mães de filhos menores de dez anos e tiveram que passar esta quarentena a cuidar deles. Foram escolhidas após Bárbara ter entrado em contacto com mulheres nestes países que estariam dispostas a filmarem um pouco de suas vidas diárias.

O filme é o início de uma ideia maior, a qual Bárbara Tavares já estava a considerar antes de o produzir. Para entrar no Corona Short Film Festival, o projeto final acabou por ter que ficar com apenas cinco minutos de duração e reduzido a dois personagens. Ao JPN, a mentora do projeto explica a intenção futura: “Seria bacana ter a perspetiva da mulher vivendo esse confinamento. Não só mães, mas mulheres, sejam solteiras, separadas, idosas… ver como é”, conclui.

Primeira curta em Portugal foi sobre os Caminhos de Santiago

Bárbara Tavares vive no Porto desde 2016 e concluiu recentemente na Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD) do Politécnico do Porto o mestrado em Cinema Documental. “Bom Caminho”, curta documental sobre a rota portuguesa dos Caminhos de Santiago, foi a primeira que filmou em Portugal. O trabalho, produzido no âmbito do curso, venceu em 2019 o prémio do júri do Festival de Cinema Aventura de Matosinhos.

Anos antes, em 2010, a realizadora fundou uma produtora de vídeo no Rio de Janeiro, a Bodhgaya Films, projeto que partilha com o marido e sócio, Frandu Almeida. Ambos mudaram de país há quatro anos com esperança de melhorar a forma de vida: “Demorávamos mais de uma hora no trânsito no Rio de Janeiro para andarmos dois quilómetros, e temos uma filha. Percebemos que estávamos perdendo qualidade de vida”, conta ao JPN a realizadora.

Curta foi filmada em Lisboa e Brasília, apenas com recurso ao telemóvel. Foto: D.R.

A visão que tinham da Europa era uma “ideia de expansão”, num continente conectado, onde poderiam mais facilmente difundir o seu trabalho, um “veículo de fazer cinema, que transforma, que inspira”, completa Bárbara Tavares.

Atualmente, a realizadora documental está a trabalhar numa longa-metragem chamada “Veg Revolution”, na qual conta a história de ativistas veganas e do próprio movimento, que de acordo com Bárbara Tavares é um dos mais pujantes da atualidade. “Dar ouvidos a estas pessoas, levantar esta causa em forma de storytelling, contar a história deste movimento social. Como pequenas ações podem fazer com que o movimento cresça tanto”, explica Bárbara Tavares.

Festival único que espera não ter segunda edição

O Corona Short Film Festival foi criado com a ambição de não vir a repetir-se no futuro e com o objetivo de desafiar e estimular a criatividade, num contexto que convida à estagnação.

Dejan Bucin, ator alemão de origem sérvia, é o diretor e mentor do projeto, cuja iniciativa é de caráter totalmente voluntário, sem investimento nem expectativa de lucro.

O festival entrou no domingo na fase de votação das 35 curtas-metragens selecionadas para a competição. Foram 1.262 submissões de filmes de mais de 70 países. Os filmes escolhidos vão competir por dois prémios: o grande prémio do júri e o prémio do público. Até ao dia 24 de maio, os interessados podem aceder ao site da competição e votar nas três curtas de que mais gostaram, o que vai decidir o vencedor de um dos prémios.

Para quem for escolhido pelo público, o reconhecimento monetário vai ser de 500 euros, enquanto o escolhido pelo júri vai ganhar 1.500 euros. Os vencedores também vão receber uma divulgação e distribuição no parceiro do festival, o “interfilm Berlin”, outro festival de curtas-metragens na Alemanha.

O prémio do júri vai ser votado por vários profissionais da indústria cinematográfica que estão em auto-isolamento nas suas casas. São sete no total: Tom Wlaschiha, Marta Popivoda, Claire Burger, Dr. Catherine Colas, Sara Lazzaro, Nesrin Cavadzade e Adis Djapo.

Os vencedores vão ser anunciados depois de 24 de maio. O visionamento das curtas é gratuito, mas o festival deixa em aberto a possibilidade de se fazerem donativos para a organização médica internacional Médicos Sem Fronteiras. A duração de todos os vídeos é de duas horas e oito minutos.

Artigo editado por Filipa Silva