Um grupo de estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) desenvolveu um dispositivo online para ajudar os utilizadores a controlarem a quantidade de notícias que leem. O assistente pessoal tem também o objetivo de auxiliar o utilizador no combate às fake news.

A n3wstr4ck é uma extensão para o browser Google Chrome que conta, avalia e classifica as notícias que o utilizador lê de acordo com a legitimidade e o tópico, tendo por base um algoritmo desenvolvido por Inteligência Artificial.

A maratona de programação europeia EUvsVirus, que reuniu participantes de todo o continente com o objetivo de criar soluções no combate à COVID-19, foi o ponto de partida para o projeto dos investigadores da FCUP.

Ao JPN, João Resende, que liderou a equipa responsável pelo projeto, revela que o tema “fake news” serviu de mote para que a “aposta numa solução para mitigar notícias falsas ou com alguma conotação negativa” fosse traduzida num instrumento ao serviço dos utilizadores.

Com o aumento exponencial do consumo de informação devido à pandemia e ao confinamento, a aplicação tem como objetivo final “preservar a sanidade mental do utilizador, controlando a informação menos rigorosa que se espalha no seio da população”, acrescenta o investigador.

De acordo com os programadores do n3wstr4ck, a aplicação funciona através de um assistente que pode ser configurado de acordo com as preferências de cada um. A app emite depois um alerta caso os utilizadores excedam o número recomendado de artigos lidos por dia.

Como explica João Resende, “o modelo está treinado para detetar notícias que possam ter um caráter impróprio. Não só no sentido de informação falsa, mas principalmente se a notícia tem alguma conotação negativa. O modelo estuda a relação das palavras numa frase de maneira a sobressair a génese do texto”, esclarece o estudante do doutoramento em Informática e docente da FCUP.

Para João Resende, a recolha de “estatísticas da leitura de notícias em vários sites” é para já o melhor “indicador da quantidade de notícias” que revelam os “padrões de uma utilização saudável”. Para que a experiência possa ser mais rigorosa, os investigadores vão contar com o apoio de profissionais de saúde que os orientem “nas variáveis que devem ser compiladas”, assegura João Resende.

A multidisciplinaridade do tema permitiu aos investigadores desenvolverem uma aplicação onde se “conectam os temas de controlo de anomalias, autenticidade dos organismos e controlo de informação”, e o “contexto de informação falsa vai de encontro aos assuntos que nos unem”, indica João Resende.

Inicialmente direcionada para “desmascarar” as fake news no contexto da saúde, a aplicação não esquece os efeitos colaterais do excesso de informação a que estamos expostos.

Fica então a questão: o que é mais difícil de rastrear, as fake news ou o excesso de informação?

João Resende começa por explicar que com a “quantidade de informação a aumentar, vemos, também, que o controlo da autenticidade se torna uma tarefa bem mais complicada. Não estamos apenas a falar dos meios de comunicação habituais, mas também das redes sociais que, apesar de tudo, conseguem ter um grande impacto junto da população”, argumenta o docente.

Para o investigador, o excesso de informação acontece porque é necessário “gerar mais notícias que desmintam” as fake news e que “relaxem a situação”, tirando o utilizador de um desequilíbrio emocional. Assim, para Resende a “deteção de notícias falsas” é a “escolha mais simples, uma vez que permite apresentar uma resposta atempada, evitar mal-entendidos que geram o ceticismo na população e, também, controlar uma parte do excesso de informação que as precedem”.

Inês Martins considera que esta solução informática permite que “o próprio utilizador conceda o seu juízo de valor sobre a essência da notícia, quer esta não corresponda às suas expectativas ou haja suspeita de fraude”, conta a investigadora que faz parte da equipa que desenvolveu a aplicação.

A estudante do Mestrado em Data Science defende que “é importante haver um foco principal nas comunicações feitas por autoridades oficiais e controlar o número de notícias que lemos por dia”.

Na página do projeto, pode ler-se que a aplicação é uma “extensão do navegador que atua como um assistente pessoal de autocontrole”. A desinformação é um problema que esta aplicação tenta combater, por isso, as notícias são pontuadas por legitimidade e tópico, dando aos utilizadores “um papel ativo no controle das notícias”, lê-se na página do projeto.

Os investigadores da FCUP vão procurar financiamento para que a app possa ficar brevemente disponível, através de doações, como no Ad-Block e serviços similares, e a exibição de anúncios personalizados em diferentes plataformas, como as redes sociais.

O quinto lugar entre os 67 finalistas do tópico “Mitigação da Propagação de Fake News” foi o resultado do trabalho realizado por uma equipa da FCUP liderada por João Resende, e integrada por, além de Inês Martins, Patrícia Sousa, estudante do doutoramento em Informática e docente da FCUP e André Cirne, estudante do Mestrado em Segurança Informática.

A n3wstr4ck foi desenvolvida em 48 horas, na maratona de programação EUvsVirus, uma iniciativa da Comissão Europeia, que reuniu mais de 20 mil participantes da União Europeia para o desenvolvimento de soluções inovadoras para o combate à COVID-19.

Artigo editado por Filipa Silva