A distribuição de cabazes alimentares solidários é uma das iniciativas que a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLUP) tem levado a cabo desde o fim do mês de março. Os relatos de estudantes que tinham que optar entre pagar as propinas, a renda da casa ou a alimentação começaram a chegar desde o início da pandemia, como confirma ao JPN o presidente da AEFLUP, André Rodrigues. O estudante espera manter a iniciativa até ao final do mês de julho.
Contudo, a continuidade na distribuição de cabazes pelos 23 estudantes sinalizados pela associação depende das doações. Os cabazes são entregues a cada duas semanas – a próxima doação terá lugar na próxima semana, de 25 a 29 de maio – e incluem bens alimentares como produtos secos, enlatados e fruta.
A solidariedade de estudantes, docentes e alguns produtores agrícolas que têm doado excedentes tem permitido à AEFLUP continuar a ajudar os estudantes, nacionais e internacionais. Contudo, o dirigente associativo lembra que a sustentabilidade do projeto “vai depender das doações” que receberem.
Apesar de haver um quase equilíbrio entre alunos nacionais e internacionais, dos 23 abrangidos pela iniciativa a maioria são de outros países, sobretudo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como explica André Rodrigues ao JPN.
Numa primeira fase, a distribuição dos cabazes foi financiada pelo orçamento da própria associação. Contudo, “é impossível para a associação financiar mais do que as vezes que financiou, duas ou três, porque os custos começam a aumentar e o orçamento é limitado“, explica o presidente da AEFLUP. “A alimentação tem que ser uma prioridade”, reflete.
“Uma medida que já ajudou foi a suspensão dos juros de mora do pagamento das propinas. Mas há muitos casos de estudantes que não conseguiram pagar o alojamento e que tiveram que regressar a casa dos pais ou ao país de origem”, sustenta.
Aquela associação de estudantes sinalizou os alunos com carências mais urgentes através de dois inquéritos – um deles realizado ainda antes da Universidade do Porto (UP) anunciar o subsídio de emergência social (que abrangeu mais de 230 estudantes da academia) – cujos resultados foram enviados à direção da faculdade e à reitoria da UP. Alguns dos 23 estudantes que a AEFLUP tem auxiliado já estão a usufruir desse subsídio, como confirma André Rodrigues.
“Só com a ajuda de todos é que conseguiremos marcar a diferença, tornando esta ação mais abrangente e sustentável. As doações de bens alimentares podem ser entregues na secretaria da AEFLUP, junto à Reprografia, no piso um do edifício principal da FLUP”, informa a associação num e-mail enviado à comunidade escolar.
Na FLUP estudam cerca de 3.500 alunos de grau (licenciaturas, mestrados e doutoramentos).
Pedidos de ajuda abrandam, mas há o perigo de abandono escolar
Como a AEFLUP, também as restantes associações de estudantes da UP assim como a Federação Académica do Porto (FAP) têm acompanhado de perto o evoluir da situação provocada pela crise pandémica e económica junto dos estudantes. “Felizmente, nas últimas semanas os pedidos de ajuda têm abrandado mas houve períodos em que foram recebidas centenas de pedidos de ajuda“, refere o presidente da FAP, Marcos Alves Teixeira, ao JPN.
As razões para a situação precária destes alunos prendem-se, principalmente, com a perda do emprego ou dos pais ou dos próprios, que eram trabalhadores estudantes. Essa quebra no rendimento familiar “fez com que a capacidade para suportarem as despesas fosse diminuindo”, sustenta.
Para o presidente da FAP, a situação mais dramática a evitar é o abandono escolar. “Basta olhar para o exemplo da última crise económica, de 2009, em que a taxa de abandono disparou e era de cerca de 30%. No ano passado estávamos nos 10,6%, quase a convergir com a média europeia, e eu tenho muito medo que o valor volte a disparar e que tenhamos que voltar a fazer o caminho de novo”, afirma Marcos Alves Teixeira.
“O sistema de ação social tem que conseguir dar resposta, de forma musculada até para garantir confiança aos estudantes de que conseguem estudar para que não tenham que optar entre estudar e não estudar”, remata o presidente da FAP.
Artigo editado por Filipa Silva.