A Federação Académica do Desporto Universitário (FADU) tem o objetivo de, no próximo ano letivo, introduzir no calendário competitivo oficial uma novidade: os eSports ou desportos eletrónicos. Uma intenção que acabou por ser antecipada devido à situação provocada pela COVID-19, que fez com que a federação tivesse a oportunidade de realizar uma “espécie de pré-época” antes de entrar no período competitivo, em setembro, como explicou André Reis, presidente da FADU, ao JPN.
As consequências provocadas pelo novo coronavírus fizeram com que os eSports ganhassem outra relevância na vida das pessoas. Sem competições nos estádios, nas pistas, nas piscinas ou nas mesas, muitas foram “substituídas” pelo seu equivalente nos desportos eletrónicos. Seja no futebol, com a luta entre os dois rivais PES e FIFA, na Fórmula 1, com o F1 da Codemasters, no basquetebol, com o NBA 2K, ou no futebol americano com o Madden, os videojogos baseados em desportos serviram para organizar campeonatos durante este período atípico.
Na mesma linha, numa perspetiva de combater o isolamento, a FADU também apostou em fazer competições deste género. Em abril, o Challenge CNU Futebol 11 no FIFA 20 foi o pontapé de saída, uma competição virtual amigável que foi disputada entre estudantes-atletas inscritos no Campeonato Nacional Universitário de Futebol de 11 real, cuja fase decisiva não chegou a decidir-se nos relvados – o que, em condições normais, teria acontecido justamente no mês de abril.
Segundo André Reis, a escolha do simulador da EA Sports deveu-se à crença de que este seria o jogo mais jogado entre os universitários. “Assumimos que o FIFA seria o jogo que mais estudantes do ensino superior teriam e mais acessível para as pessoas jogarem, e com o maior número de fãs”, diz o responsável ao JPN. Para além do videojogo, a consola, no caso a PlayStation 4, e posterior acesso online ao jogo, através da subscrição PlayStation Plus, eram os outros requisitos que acabaram por bater certo com a “suspeita” de “que [o FIFA 20] provavelmente seria o jogo mais jogado”.
Depois de finalizado o torneio, a aposta continuou e na semana passada foi iniciado e concluído mais um torneio amigável no jogo da EA Sports. Desta vez, com a prova Students Leaders Challenge, direcionada aos dirigentes estudantis ligados ao desporto universitário.
Ainda assim, como salientou o presidente da FADU, desengane-se quem pense que a ideia de apostar nos eSports foi algo pensado em cima da hora: “Desde que esta direção tomou posse, em outubro de 2019, que se andava a refletir sobre a entrada da FADU no ramos dos eSports. Evidentemente, que queríamos lançar um projeto sustentado, com coerência, com uma linha estratégica e não fazia sentido fazê-lo a meio da época desportiva. Andávamos por isso a pensar começar em setembro deste ano civil, coincidindo com a época desportiva e com o ano letivo, de setembro de 2020 a junho de 2021. Acontece que, com o que se passa atualmente no país, decidimos antecipar esta estreia nos eSports sem prejuízo de a partir de setembro termos uma época oficial”.
O impacto das iniciativas já teve resposta por parte das universidades, com a Universidade do Minho a criar a AAUMinho eSports já a 1 de junho. A competição é organizada pela Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) e os Serviços de Ação Social da Universidade do Minho (SASUM) e está aberta a todos os estudantes da instituição, que têm a oportunidade de se inscrever até ao dia 28 de maio para poderem competir no FIFA 20 por prémios.
Fase Final do Students Leaders Challenge – Facebook FADU Portugal
Esta “espécie de pré-época” permitiu à “FADU ter a oportunidade de se testar a si própria, verificando os recursos que precisa, que estrutura interna é que pode ter para avançar com esta área e, ao mesmo tempo, divulgar este ramo dos eSports pelos clubes da FADU, pelas associações de estudantes”. A ideia é tê-los alerta: “para, no início de setembro, termos um projeto já a funcionar e podermos chamar a isto uma espécie de campeonato nacional universitário de eSports”, acrescenta André Reis.
Este campeonato nacional universitário viria assim corrigir fragilidades apontadas pelo presidente, nomeadamente, os torneios organizados dentro das faculdades não darem aos competidores oportunidades a nível nacional e quando há eventos de âmbito nacional estes acabarem por falhar nesse propósito por só participarem determinadas instituições: “no fundo, trata-se de a FADU regular a área dos eSports dentro do ensino superior, ter uma posição e ao mesmo tempo trazer alguma coerência a este sistema para que não se organizem torneios internos ou espalhados por todas as academias e a coisa terminar ali”, explica André Reis. E complementa: “Os vencedores ficam por ali, as competições ficam por ali, acabam por não se cruzar. Quando há torneios de âmbito nacional, organizados totalmente por empresas privadas, que têm vindo ao longo dos últimos anos a promover esses eventos, acabam por não ser bem eventos de dimensão nacional, porque só participam determinadas faculdades ou só estão abertos a determinadas faculdades e nós pretendemos abrir totalmente a todas as instituições de ensino superior”.
A ideia da nova temporada não é trazer só FIFA, mas também outros jogos eletrónicos. Para além do EA Sports FIFA, também League of Legends (LOL) e Counter Strike (CS) são opções fortes, mas é preciso “averiguar” e “analisar” para saber o que trazer para cima da mesa e em que altura. Estruturar e regularizar os eSports ao nível de todo o território universitário é por isso o posicionamento da federação para responder às necessidades dos alunos.
Outro ponto favorável à introdução desta modalidade é, para André Reis, a criação de comunidades entre os envolvidos. “Para além da importância de estar próxima dos estudantes do ensino superior e ter respostas para eles, o que mais destacamos é o sentimento de comunidade que os eSports criam. É muito isso que nos agrada. Portanto, cria-se aqui uma espécie de comunidade, cria-se uma proximidade, hábitos de socialização, de convívio, que nos agradam muito”.
Para quem olha para este mundo virtual com algum “conservadorismo” – serão os jogos eletrónicos um desporto? – André Reis fala num exemplo semelhante dentro do leque de modalidades da FADU, o xadrez: “um exemplo de uma modalidade que a FADU organiza no seu calendário desportivo nacional, que não se diferencia muito daquilo que são os eSports, é o xadrez. Inclusive, há jogos eletrónicos de xadrez”, comenta.
André Reis admite ainda que para que o projeto ganhe consistência e tenha futuro ainda é preciso responder a algumas questões legais: “há respostas que precisam de ser dadas em termos legais, quem é que tem os direitos de poder organizar competições oficiais, competições inseridas nos próprios jogos, a nível de cada território nacional. É uma coisa ainda muito na dúvida, há algumas licenças que estão em empresas privadas, depois está aí a surgir uma Federação Portuguesa de Jogos Eletrónicos… ainda há aqui muita matéria para ser estudada, muita coisa a ser aprimorada, porque de facto este mercado está a crescer todos os anos a um ritmo brutal”, conclui.
Artigo editado por Filipa Silva