Na noite de quarta-feira, Jesús Corona vestiu a pele de herói. Com um sombrero soberbo logo no início do jogo deu ao FC Porto três dos pontos mais importantes desta edição do campeonato. Um golo foi o suficiente para os dragões derrotarem o Marítimo e descolarem do rival Benfica, assumindo o primeiro lugar isolado da Primeira Liga, à 26.ª jornada.

Num Estádio do Dragão despido da euforia das bancadas, o FC Porto olhava nos olhos a possibilidade de se isolar no topo do campeonato. Instantes antes do jogo começar, os dragões viram o Benfica empatar em Portimão, o que fazia subir o nível de adrenalina de todos os que acompanharam o jogo. Do lado do Marítimo, alguma apreensão: o empate entre o Benfica e o Portimonense fazia com que os insulares pudessem ver encurtada a distância para os lugares de descida. Pontuar no Dragão era, por isso, vital.

Se o técnico do Marítimo, José Gomes, preparara a sua equipa para uma abordagem expectante, viu as intenções negadas por uma obra-prima de Corona, logo aos seis minutos. Na sequência de um lançamento de linha lateral, o mexicano ganhou uma segunda bola à entrada da área e, num remate espontâneo, inaugurou o marcador.

Apesar de estar em desvantagem desde muito cedo, o Marítimo não pôs em causa a ideia de jogo que trouxera ao Estádio do Dragão e a verdade é que, apesar de terem pouca bola, os insulares conseguiram dividir o jogo com o FC Porto. Notava-se muito empenho dos azuis e brancos até chegarem ao último terço, mas muita precipitação na hora de concluir a jogada.

As primeiras duas melhores oportunidades de golo depois de aberto o marcador pertenceram ao Marítimo. Aos 17 minutos, Maeda ficou a centímetros de desviar um bom cruzamento de Nanú e aos 23 minutos um cabeceamento de Joel obrigou Marchesín a uma bela defesa.

Ao intervalo, estava claro que o FC Porto conseguira capitalizar uma boa entrada na partida e aproveitado uma das pouquíssimas distrações defensivas do Marítimo. A exibição dos dragões não era deslumbrante, porque o Marítimo estava compacto e vivo no jogo, mas foi o FC Porto a sair para os balneários em vantagem.

Os primeiros minutos da segunda parte não trouxeram grandes novidades relativas à tendência do jogo: um FC Porto com mais bola e um Marítimo expectante, mas com o jogo bem controlado. Dado o resultado, podia parecer que o tempo corria a favor do FC Porto, mas os níveis de ansiedade da equipa iam subindo dada a incerteza do resultado. Luís Díaz obrigou Charles a uma boa defesa aos 50 minutos, mas apenas três minutos depois Xadas não aproveitou uma má abordagem de Marchesín.

Aos 60 minutos, José Gomes já vencia Sérgio Conceição por 3-0 no que a substituições dizia respeito. Xadas tinha entrado, na sequência da lesão de Rúben Ferreira, Vukovic tinha substituído Moreno e Getterson substituiu Kerkez. Todas as substituições insulares tornavam a equipa mais ofensiva. À medida que os minutos iam passando, o ritmo do jogo tornava-se cada vez mais baixo. Nenhuma das equipas parecia ter argumentos para acrescentar algum sal num espetáculo que na primeira parte tinha sido muito mais interessante.

Apesar de ter tentado, o Marítimo pouco conseguiu depois das alterações. À passagem dos 78 minutos, já depois de Fábio Vieira ter substituído Marega, Soares e Uribe substituíram Zé Luís e Luís Díaz, passando o FC Porto a ter um meio-campo mais robusto. Durante toda a segunda-parte, o FC Porto pareceu acreditar ser possível segurar a vantagem mínima, ao invés de procurar o segundo golo. A partir de certa altura, o próprio adversário começou a deixar de acreditar ser possível pontuar no Dragão.

Aos 85 minutos, surgiu aquele que podia ser um grande tónico para o Marítimo assaltar a baliza dos dragões. Alex Telles, jogador visivelmente desgastado já há largos minutos, travou um contra-ataque que ia ser conduzido por Edgar Costa e viu o segundo cartão amarelo.

Apesar de estar a jogar com dez, o FC Porto conseguiu cerrar fileiras, defender-se categoricamente e até estar mais próximo de fazer o 2-0 do que em qualquer outro momento da segunda parte. Já em tempo de compensação, na sequência de um canto batido pelo estreante Fábio Vieira, Soares cabeceou à baliza de Charles e obrigou Nanú a cortar a bola na linha de golo.

Terminada a partida, apesar da noite não ter sido brilhante, o mais importante foi garantido: a liderança do campeonato. Foi preciso sofrer no fim, mas a verdade é que o futebol se faz de eficácia e os dragões foram mais eficazes.

“Não pensei que fosse tão difícil jogar nestas condições”

Na hora de analisar a partida, Sérgio Conceição garantiu que até ao final do campeonato não haverá “jogos fáceis”, pela pressão a que todas as equipas estão expostas: “Toda a gente está pressionada. Há quem lute pela Europa, pelo campeonato, como é o caso do primeiro e segundos classificados, e por não descer. As coisas vão sendo cada vez mais difíceis, num ambiente diferente do habitual. Aliás, não pensei que fosse tão difícil jogar nestas condições. Os adeptos são essenciais, pela boa pressão que fazem à equipa”, afirmou.

A fechar, questionado acerca do apedrejamento ao autocarro do Benfica, apesar de ter dito que não comentava o que se passava no clube rival, o técnico do FC Porto defendeu que “o vírus do fanatismo é tão perigoso como a COVID-19”.

“Podíamos ter marcado e anulámos muitas vezes os pontos fortes do FC Porto”

Resignado com o resultado, José Gomes lamentou as circunstâncias em que aconteceu o golo de Corona: “No instante anterior, o René estava a ser assistido e no ajustar de posições, pela ausência do René, houve um erro de posicionamento da nossa parte, pois faltou um jogador à entrada da área, o que permitiu ao Corona ter mais espaço”.

Para o técnico insular, a exibição foi positiva, mas a sua equipa pecou por não “converter” as oportunidades criadas: “Podíamos ter marcado e anulámos, muitas vezes, os pontos fortes do FC Porto”.

Na próxima ronda, o FC Porto desloca-se ao terreno do Desportivo das Aves (terça-feira, 21h15). Na véspera, o Marítimo joga frente ao Gil Vicente (segunda-feira, 19h00).

Artigo editado por Filipa Silva