Foi um dos primeiros cinemas a reabrir em Portugal, na terceira fase de desconfinamento, e conseguiu esgotar a capacidade da sala, agora reduzida, no primeiro dia, a 1 de junho. O Cinema Trindade, no Porto, passou a trabalhar com 60% das receitas que tinha antes da pandemia de COVID-19. E aguarda para ver se a programação do próximo ano não fica comprometida depois de uma pandemia que contagiou também os grandes festivais de cinema, como Cannes ou Veneza.

“Se estes festivais forem afetados, aí sim teremos problemas, mas garantidamente até meados de 2021 estamos à vontade porque há imensos filmes produzidos que inclusive não estrearam em Cannes e transitaram para o próximo ano”, explica ao JPN, Américo Santos, responsável da Nitrato Filmes, que tem a cargo a programação do Trindade. Américo Santos aponta ainda que, como cinema independente, o Trindade procura mostrar filmes que tenham o “crivo da crítica”. Nesse sentido, a estreia de filmes em festivais de cinema dá “valor acrescentado” à película.

“Não se pode lançar um filme se ele não for falado. Se não houver festivais teremos de nos reinventar e ir buscar outras formas de poder estrear esses filmes com outros meios”, ressalva. “O importante para o Trindade é que haja a garantia de que temos estreias de filmes que vêm com chancelas dos grandes festivais”, completa.

Apesar disso, o responsável pela reabertura do espaço na Baixa do Porto garante que nos próximos meses e até ao fim do ano haverá estreias suficientes para manter o trabalho do Trindade a bom ritmo. “Antes de abrir, fizemos um contacto prévio com os distribuidores de modo a assegurar pelo menos dois meses de programação, junho e julho, com estreias contínuas, e uma programação estimulante porque achamos que era essa a melhor forma de poder cativar o público”, refere.

Para Américo Santos, importa agora trabalhar a curto prazo com o objetivo de recuperar públicos. “Se até agosto conseguirmos ter uma frequência normal [dez sessões por dia], o cinema irá ter o seu funcionamento como antes da pandemia ou até melhorar”, diz.

No dia em que o JPN foi ao Trindade, no início da semana e já ao final da tarde, a sessão do filme “Family Romance“, apresentado no Festival de Cannes do ano passado, contou com oito pessoas. Por norma, as sessões no cinema Trindade têm-se reduzido a oito e não contam mais que duas dezenas de espetadores.

A redução da capacidade das salas de cinema foi uma das mudanças.

A redução da capacidade das salas de cinema foi uma das mudanças.

“Estamos a funcionar com 60% daquilo que funcionávamos anteriormente. Achávamos que era fundamental funcionar sempre acima dos 50%, como se estivéssemos a abrir novamente a sala”, exemplifica. Devido à pandemia de COVID-19, o Cinema Trindade foi dos primeiros a encerrar, a 13 de março.

Agora o ato de ir ao cinema mudou. No Trindade, como em outros espaços, foi reduzida a capacidade das salas e é obrigatório o uso de máscara, além da desinfeção de mãos e a etiqueta respiratória recomendada. Ali, espaçaram-se também as sessões, com intervalos de 15 minutos a meia hora, para que os clientes não se tenham que cruzar. No final de cada sessão, as duas salas, que continuaram ambas a funcionar, são limpas.

Aposta no público portuense

Um quinto do público do Trindade eram turistas ou estrangeiros residentes no Porto, mas a pandemia do novo coronavírus veio alterar essa realidade. Assim, a aposta do Trindade reside ainda mais nos espetadores portuenses.

“Estamos focados em valorizar muito o Porto. É a nossa cidade, e também queremos dar visibilidade a quem fez coisas aqui. O Trindade ainda tem dentro do Porto uma grande possibilidade de crescimento. Ainda há muita gente que não veio cá, mas que já ouviu falar”, sustenta.

O destaque de Américo Santos vai, assim, para momentos especiais de debate e de partilha de ideias a que o Trindade já habituou os seus espectadores, fator diferenciador, acredita. Nesse sentido, desvenda que para o mês de julho está agendado um programa de curtas-metragens de jovens portuguesas, com a presença de duas dessas realizadoras.

Leonor Teles – realizadora de 28 anos que ganhou em 2018 o “Prix International de la Scam” do Festival Cinéma du Réel, em Paris – será uma das convidadas, com um trabalho filmado no Porto. “Será uma sessão de reencontros”, aponta o responsável.

Um outro destaque vai para um cineconcerto de “Surdina”, um trabalho de Rodrigo Areias a estrear em julho, que vai contar com Tó Trips, ainda durante a primeira quinzena desse mês e com data a anunciar pelo Trindade.

Artigo editado por Filipa Silva.