Nas escadas do Monte dos Judeus, em Miragaia, no Porto, aliou-se o tradicional ao moderno e desde sábado que moradores e turistas – que por estes dias são quase nenhuns – passaram a contar com o auxílio de três lanços de escadas rolantes para vencer a encosta. Os moradores veem o empreendimento com bons olhos, “uma obra que valeu a pena”, dizem.

Na manhã desta segunda-feira, 29 de junho, encontramos Luísa Silva, de 70 anos, que vai descendo aqueles degraus. Nascida e criada em Miragaia, vive agora no topo daquela colina e agradece já não ter que a subir, carregada de compras, até à cota mais alta do Porto, Rua do Monte dos Judeus. “As escadas vieram fazer muito jeito, já havia de ter sido era há mais anos”, comenta.

Para a reformada, subir a encosta era já um desafio que crescia a cada dia. Desde sábado que as escadas rolantes estão a funcionar e lhe têm vindo a facilitar a vida. “Vou agora ao supermercado e quando vier carregada com a saca já subo por aqui, que a gente mora lá em cima de tudo. Foi uma obra que valeu a pena”, diz.

Luísa Silva acredita que o recanto que a viu nascer ficou “ainda mais bonito”. “Estas escadas já estavam com as pedras muito gastas e agora puseram isto mais bonito, espero é que não as estraguem”, reflete.

Horário de funcionamento devia ser alargado

A operar desde sábado, com horário das 08h00 às 21h00, o funcionamento das escadas rolantes criou consenso entre os vizinhos: “faz muito jeito”. Apesar disso, Luísa Silva e Florinda Pereira, de 59 anos e também reformada, que se junta à conversa, são da opinião que deviam encerrar mais tarde, “nem que fosse às dez horas da noite”, atira Florinda Pereira.

Florinda Pereira é a favor de um horário de funcionamento mais alargado.

Florinda Pereira é a favor de um horário de funcionamento mais alargado. Foto: Daniela Carmo

A também reformada reconhece valor à obra, mas recorda que alguns vizinhos trabalham até mais tarde e “indo ao supermercado, chegam e têm que carregar tudo na mesma”, diz. “Foi feito para os turistas porque as pessoas de idade que vivem aqui têm medo de andar nisto, mas agora com isto da pandemia não há aqui ninguém, pode ser que agora com o verão melhore”, afirma Florinda Pereira.

As obras foram um “transtorno” para aquela população durante um ano, como diz Luísa Silva, que tinha que ir dar a volta até à Alfândega do Porto para chegar a casa. Apesar disso e do barulho, as duas vizinhas são da opinião de que valeu a pena. “Foi um ano que passamos aqui um bocadinho, mas também é uma obra que tem que se dar valor. Os homens estavam a trabalhar durante o dia, é normal haver barulho. Mas as pessoas têm que ser compreensivas”, remata Florinda Pereira.

Alguns moradores são da opinião que as escadas rolantes foram instaladas para proveito dos turistas. Foto: Daniela Carmo

Mais abaixo, na Casa Mara, na Rua de Miragaia, ainda não se sentem melhorias no negócio, provocadas por curiosos que queiram ir visitar as novas escadas. “Aquilo não é para nós, ainda não notei diferença”, sustenta a proprietária do estabelecimento, Fernanda Helena. “Já morou tanta gente aqui e agora é que fizeram aquilo. Para quem é? Para os turistas”, questiona a mulher de 60 anos.

O equipamento representa um investimento municipal de cerca de 677 mil euros e enquadra-se na estratégia geral de desenvolvimento de uma rede interligada de percursos pedonais assistidos por meios mecanizados. Trata-se do projeto “Percursos Pedonais Ligações Mecanizadas – Miragaia”, concebido em três núcleos: Escadas das Sereias, Escadas do Monte dos Judeus e área adjacente, e zona circundante às Ruas de Cidral de Cima e de Cidral de Baixo.

Artigo editado por Filipa Silva.