A banda esteve no Porto a gravar para o programa “No Ar” da Antena3/RTP. O JPN entrevistou Joana Corker e Ricardo Jerónimo para conhecer melhor a banda e o álbum lançado este ano. A conversa, quase como uma viagem no tempo, foi da génese da banda até à forma como atravessam a atual crise pandémica.

Nasceram “numa altura um bocado deprimente”, num dia chuvoso de Inverno, em que Portugal atravessava uma crise económica. Estavam em Coimbra, em 2010.

Com o intuito de alegrar Joana Corker, Ricardo Jerónimo começou a cantar-lhe uma música e, após várias tentativas, conseguiu que ela se juntasse a ele. Estavam formados os Birds Are Indie: “Foi a primeira tentativa bem-sucedida de ouvir a voz cantante da Joana. E nasceu assim, a fazermos uma canção no quarto para nos alegrarmos, sem qualquer ideia de um dia ter propriamente uma banda e tudo o que isso implica. Nasceu de uma forma muito natural, instintiva e caseira, espírito esse que nós temos tentando manter ao longo dos anos”, conta o guitarrista e vocalista da banda ao JPN, aquando a passagem pelo Porto, em meados de outubro, para gravarem para um programa para a Antena 3/RTP.

Henrique Toscano, que não pôde estar presente na entrevista, foi uma das pessoas que, entre o primeiro e o segundo EP, que lançaram em 2010, se ofereceu para os ajudar na área da gravação e edição de som. “De forma natural começamos a convidá-lo para tocar ao vivo em alguns temas e a certo momento tornou-se membro efetivo da banda. Até hoje”, explica Jerónimo. 

Dez anos volvidos sobre o momento original, a banda que tem Indie no nome e no ADN musical – sem deixar de encontrar referências em artistas como Parquet Courts, Ultimate Painting, R.E.M ou Stephen Malkmus – conta já com cinco álbuns.

Na perspetiva do grupo, eles formaram-se tarde, mas não põem de lado a ideia de continuarem a fazer música quando já tiverem 50 anos. “Nós começámos a banda com 30 anos e normalmente forma-se uma banda quando tens 18, 20 anos. Já não é normal quando formas pela primeira vez uma banda aos 30”, comentou Joana Corker, a designer de formação – é dela o art work dos discos – que dá voz, mas trata também de teclas e da percussão. Jerónimo acrescenta: “Se esta malta – Legendary Tigerman, JP Simões, Raquel Ralha – tem 50 anos ou em torno disso e ainda está a tocar com energia, com projetos e discos novos, porque não daqui a 10 anos nós não estarmos nisso também? Pode acontecer.”

Apesar de pensarem e planearem o seu futuro, os Birds Are Indie não deixam de recordar o passado onde se insere o primeiro concerto, dia 2 de outubro de 2010, no SHE – Sociedade Harmonia Eborense. 

Joana Corker recorda o que pensou quando recebeu o convite para essa atuação inaugural: “Évora é bastante longe de Coimbra, ninguém daqui nos vai ver. Se correr mal, ninguém nos conhece e a coisa termina por ali”. Com a sala cheia e inicialmente dominados pelo nervosismo, Jerónimo recorda também o dia: “A sensação final foi de uma noite bem passada em que pensamos em dar oportunidade a esta coisa de fazer concertos. Se tivesse sido um fiasco, provavelmente não teríamos feito mais, teríamos recusado eventuais convites futuros. Foi uma boa sucessão de coisas que nos foram acontecendo ao início e a gente prosseguiu”.

“Migrations – Travel Diaries #1″ é uma espécie de visita ao passado, mas com o pé posto no presente”

O mais recente projeto da banda “Migrations – Travel Diaries #1” foi lançado em abril de 2020 com o intuito de celebrar o décimo aniversário do projeto. O novo álbum é uma espécie de “best of” que compila temas de discos anteriores com músicas novas: “Pensamos que era uma ideia engraçada – misturar no mesmo disco músicas novas, que eram aquelas que nós tínhamos na gaveta para começar a trabalhar, com músicas antigas de discos que já esgotaram e que poderiam fazer uma combinação engraçada num só disco. É uma espécie de visita ao passado, mas com o pé posto no presente”, explica Jerónimo. 

O conceito de “Migrations” está relacionado com a migração dos pássaros (“Birds”) na medida em que as aves migratórias “vão de um porto seguro para novas terras desconhecidas, onde poderão eventualmente estar mais confortáveis, mas depois voltam e o disco nasceu com tudo isto em mente”, acrescentou ainda o guitarrista.

Enfrentar a pandemia 

Perante a situação pandémica que se vive, os Birds Are Indie achavam que não iam atuar ao todo este ano: “Quando estávamos em março, eu achava que não ia tocar este ano, sinceramente. Comecei a pôr na cabeça: pronto, esquece. Lançaste um disco, mas não vais fazer concertos este ano”, afirma Joana Corker. No entanto, tiveram 12 concertos marcados, o primeiro dos quais em junho.

Sobre o futuro mais imediato é muito arriscado fazer previsões. “Se 2021, por causa da pandemia, for um ano mais parado, se calhar até começamos a trabalhar mais em material futuro. Se for um ano com boas notícias, a normalizar, poderíamos ter menos tempo para isso”, reflete Jerónimo.

A banda esteve no Porto, em meados de outubro, para gravar, nos estúdios Arda Recorders, para o programa “No Ar” da Antena 3/RTP, um programa que vai voltar a ser exibido no próximo ano na RTP e, mais tarde, na web. O concerto teve Jorri como convidado, que faz parte da banda Jigsaw, e que tem tocado ultimamente ao vivo com os Birds Are Indie. “O programa ‘No Ar’ é interessante, tem um registo diferente. É mais uma lógica de estúdio, com todas as condições acústicas, fomos muito bem tratados e estamos curiosos”, contou a banda a propósito.

Para já, há mais um concerto na agenda. Os Birds Are Indie atuam a 3 de dezembro, às 21h30, no evento OuTonalidades no Cine-Teatro de Estarreja.

Artigo editado por Filipa Silva