Na cidade natal de Alepo, Sebouh Soghomonian trabalhou como ourives. Mas a vontade de viver na Europa falou mais alto e, nos anos 90, o sírio de ascendência arménia mudou-se para a Grécia. O modo de vida europeu correspondeu às suas expectativas: “Na Europa as pessoas são mais livres, pouco religiosas”, diz.

Numa fase inicial, trabalhou como ourives, mais tarde aventurou-se pela restauração e essa passagem mudou-lhe a vida

A trabalhar à noite, quis o destino que se apaixonasse por uma portuguesa que estava de férias em Atenas. Foi amor à primeira vista e passado um ano casaram-se. Cedo começaram a pensar em mudar-se para Portugal. 

Sebouh, 50 anos, não tem qualquer formação em cozinha, mas os seus cozinhados sempre foram apreciados por todos os amigos. Por sua parte, a esposa, Célia, conhecia bem a cidade do Porto. Juntou-se o saber à vontade de empratar e assim surgiu o conceito Sabores do Sebouh

O restaurante, de portas abertas desde 2011 no número 34 da Rua de Miguel Bombarda, oferece sabores da cozinha síria, libanesa e grega. Quem entra no espaço é imediatamente transportado para o Médio Oriente: todo o restaurante está decorado com azulejos hidráulicos a cobrirem o chão e metade das paredes e há sempre música árabe. 

Diz-nos Sebouh que a experiência tem sido um sucesso, alimentado sobretudo pelos que visitam o Médio Oriente e querem voltar a provar os sabores daquela região do Mundo e pelos que simplesmente se fizeram clientes habituais. Gente de todos os credos, que aprecia um menu dominado por pratos vegetarianos, à base de produtos biológicos, mas com alternativas de carne, como os kebabs de frango. 

Restaurante abriu em 2011 na Rua de Miguel Bombarda. Foto: Daniela Oliveira

Sebouh está em Portugal há 17 anos e confessa que a adaptação não foi muito fácil. A língua foi uma barreira, pois apesar de falar árabe, inglês, arménio, grego e alemão, não sabia falar português. Mas em três anos começou a dominar a língua e a integração começou a fluir. A gastronomia também o convenceu: “Gosto muito da comida portuguesa. O que não como é comida com sague: arroz de cabidela, morcelas. De resto, como de tudo”, conta.

Para o sírio, os portugueses são mais conservadores que os gregos e demoram a confiar no que é diferente. Em comparação com os sírios, diz, preocupam-se demasiado: “Nós, os sírios, temos sempre dificuldades. Já estamos habituados ao difícil. Quando uma criança nasce não tem futuro. Aqui, há mimo.”

Em Portugal há poucos sírios, portanto, Sebouh não tem muito contacto com os seus conterrâneos. Só há pouco tempo, vieram alguns refugiados. Sebouh faz questão de frisar que não é refugiado, como muitas vezes é confundido. “Saí da Síria há 24 anos. Não sou refugiado.” 

Sobre os que fogem da Síria, lamenta que fiquem pouco tempo em Portugal. “Muitos nem sabem ler e escrever em Árabe. Como se vão integrar? Vem de aldeias. É muito difícil.” Sebouh tem vontade de regressar à Síria, mas não para já. “Não é seguro voltar.”

Sabores do Sebouh abre todos os dias à hora de almoço e de jantar, com exceção do dia de domingo e da hora de almoço de segunda-feira.

Artigo editado por Filipa Silva

Este trabalho foi originalmente realizado para o jornal O Impresso no âmbito da disciplina de AIJ/Online e Imprensa – 3.º ano