Chama-se Isabel, mas toda a gente a trata por Béu e foi com esse nome que ganhou notoriedade nas redes sociais. Aos 19 anos, Béu Lopes tem milhares de seguidores no Youtube e no Instagram. Em entrevista ao JPN, a jovem de Vila Nova de Gaia diz que gosta pouco de “rótulos”, mas o de influenciadora digital assenta-lhe como uma luva, pelo menos naquela que é a sua “bolha” – a dos que mais apreciam moda, beleza e lifestyle.

Para ter sucesso nas redes, diz que o fundamental é a autenticidade e a competência na comunicação. Também por isso, entrou este ano para o curso de Ciências da Comunicação na Universidade de Fernando Pessoa. Gostava de poder viver das redes, mas não é esse para já o “plano A”. Até porque, como gosta de dizer, os influenciadores têm uma vida para lá dos ecrãs.

JPN – Tens, neste momento, 63,7 mil seguidores no Instagram. Qual é o segredo do teu sucesso?

Béu Lopes – É ser genuína. As pessoas ligam muito ao facto de nós mostrarmos quem realmente somos. Até porque nós não somos mais do que os que estão do outro lado do ecrã. Acho que é por causa disso que me seguem. E também porque se relacionam comigo de alguma maneira – seja por causa da maquilhagem, da minha roupa, da minha maneira de ser…

JPN – Sentes a pressão e o peso da responsabilidade associados ao teu elevado número de seguidores?

BL – Sim, é uma grande responsabilidade. Tudo aquilo que nós dizemos causa um impacto do outro lado. Não posso simplesmente dizer aquilo que me apetece no momento, da boca para fora. Não quero ofender ninguém. Claro que também não planeio à risca. Mas, antes de cada publicação, penso sempre muito bem naquilo que digo e faço. Agora, até estou a começar a pôr legendas nos meus stories para as pessoas que têm deficiências auditivas, para conseguir incluir toda a gente.

JPN – Em que momento é que te começaste a sentir influencer?

BL – Eu não me rotulo muito como influencer. Não gosto do termo “influenciadora” – parece que só estou ali para influenciar alguém a fazer algo e não é, de todo, esse o meu objetivo. Eu gosto de partilhar um pouco da minha vida com toda a gente. Mas comecei a perceber a minha notoriedade quando me começaram a abordar na rua, nos shoppings, em festivais… As pessoas reconheciam-me, vinham ter comigo, pediam fotografias e eu pensava: “Calma lá! Isto é um pouco estranho”, sendo que eu me sinto exatamente igual a toda a gente. Comecei a notar também pelas mensagens, que recebo todos os dias. As pessoas queriam realmente comunicar comigo.

Não é o meu plano A, é o meu plano B.

JPN – Se não te rotulas como influencer, que nome darias àquilo que fazes?

BL – Eu acho que sou o que sou. Não gosto muito de rótulos – não gosto que as coisas sejam definidas como “és X ou Y”. Claro que é um termo usado hoje e tenho de me rotular como tal, porque é assim que me reconhecem. Mas eu faço aquilo que gosto, no Instagram. Isto é um hobby para mim. Para já, não é um trabalho, ainda estou a estudar. Não é o meu plano A, é o meu plano B. Obviamente, no futuro, espero bem que isto também dê para trabalho, porque é algo que eu adoro fazer.

JPN – O que é que decididamente te recusas a fazer neste teu hobby?

BL – Tudo aquilo que possa prejudicar o meu público e que não se identifique comigo. Eu não represento nenhuma marca que não goste, nem que não use. Isto é muito importante para não perder a credibilidade. Vejo que
muitos influencers fazem tudo por dinheiro – tudo aquilo que vem à rede é peixe. E não deve ser assim, porque cada um de nós tem uma identidade e tem que representá-la. Por exemplo, eu não vou fazer publicidade a uma marca de chuteiras. Não tem nada a ver comigo, seria completamente descabido.

JPN – És uma pessoa diferente fora das redes sociais?

BL – Tenho a certeza que sou exatamente igual, tanto nas redes sociais, como fora das câmaras. Até porque eu não sei como conseguiria ser outra pessoa que não eu. Claro que, pessoalmente, sou mais extrovertida e falo mais – não posso fazer mil stories por dia a comentar tudo aquilo que vejo na rua e que me apetece! Tenho que controlar um bocadinho a quantidade de publicações que faço. E enquanto que eu normalmente falo muito rápido, em frente das câmaras tenho que falar devagar e pensar antes no que vou dizer. Portanto, acho que a questão da comunicação é a única diferença. 

JPN – Muitas pessoas dizem que os influencers apenas partilham o lado bom da vida, ou seja, um mundo ideal, e não o mundo real. Qual é a tua opinião sobre isto?

BL – Eu partilho os dois lados, mas, quando estou em baixo, tento não mostrar tanto. Mesmo fora das câmaras, sou uma pessoa que não mostra muito os sentimentos quando está triste. Quando estou feliz, é a toda a gente! Mas, quando estou triste, gosto de me reservar um bocadinho mais. Também tenho que ter um pouco a minha privacidade. E acho que as pessoas não gostam de sentir as energias negativas. Quando alguém está em baixo, isso transmite-se para quem está a ver as publicações. Mas tento partilhar coisas más também, para as pessoas perceberem que nós somos exatamente iguais a elas, com sentimentos, e que a vida não é só um mar de rosas. Nós também temos maus dias. Há dias em que estamos super irritados, há dias em que só nos apetece chorar. É perfeitamente normal. Nós não somos uns robôs, nem somos diferentes de ninguém.

JPN – Falaste na questão da privacidade. Sentes que os influencers têm obrigação de partilhar, com os seus seguidores, aspetos da vossa vida privada? Os seguidores têm o direito de saber?

BL – Não, de todo. Isto [a partilha nas redes sociais] é ótimo, mas, a partir do momento em que entra no espaço pessoal, já começa a ser demais. Nunca conheci nenhuma influencer que chegasse ao ponto de meter mesmo o público dela na sua “bolha de privacidade”. Temos de separar. Não vamos falar da nossa vida privada a um ponto extremo. Acho que tem que haver limites para tudo.

JPN – Sentes perigo associado a este trabalho?

BL – Não, não sinto perigo nenhum. Claro que, às vezes, assusto-me um bocadinho… Por exemplo, há pessoas que me mandam mensagens todos os dias. Quando são meninas, eu não me importo e são muito bem-vindas! Quando são homens – e, às vezes, até mandam fotografias -, é um bocado incomodativo. Mas acho que não é por eu estar mais exposta. Muitas de nós (tendo a vida mais pública ou não) recebemos [mensagens] desses homens, infelizmente… E não acho que seja bem uma questão de perigo, é medo de algumas pessoas que estão do outro lado do ecrã. Não sabemos quem está realmente desse lado e o que é que são capazes de fazer. Mas nunca recebi nenhuma ameaça. Só esse tipo de comentários estúpidos e fotografias.

JPN – Costumas conseguir ignorá-los facilmente?

BL – Sim. Não me afetam, de todo. Porque sinto que nunca vão conseguir chegar a mim. 

Quem começa nesta área com o intuito de ganhar dinheiro nunca chega a lado nenhum.

JPN – Qual é o teu principal objetivo com aquilo que fazes no Instagram?

BL – O meu propósito é que as pessoas se identifiquem comigo e que me vejam como uma amiga. Claro que não é pessoalmente (não podem conversar comigo em pessoa), mas, ao menos, têm alguém com quem se podem identificar. Também quero chegar a muita gente, porque há pessoas que se sentem muito sozinhas.

JPN – E esse é o propósito de todos os influencers?

BL – Infelizmente, acho que o propósito da maioria dos influencers é o dinheiro. Mas eu não estou aqui por isso. Quem começa nesta área com o intuito de ganhar dinheiro nunca chega a lado nenhum. Nós estamos a influenciar pessoas, nunca deve ser com o objetivo de ganharmos mais dinheiro, mas sim de recomendarmos ao público algo de que gostamos. Até pode ser publicidade, mas se realmente gostamos de um batom, por exemplo, queremos que as pessoas o experimentem. O mesmo acontece fora das redes sociais – quando uma amiga nossa gosta de uma camisola, nós gostamos de saber esse seu feedback e saber que, realmente, aquele produto daquela marca é bom. E também gostamos de saber o contrário: que ela não gosta nada daquele produto.

JPN – Para ser influencer, é preciso alguma formação?

BL – Não é preciso nenhuma formação. Mas há personalidades que se adequam mais a este mundo digital do que outras. Por exemplo, alguém tímido teria que trabalhar muito a sua personalidade. Talvez em aulas… Tirar um curso de Ciências da Comunicação pode ajudar bastante. As pessoas deste lado têm que saber comunicar muito bem e fazer chegar a mensagem ao outro lado. 

JPN – Que conselhos darias, então, a alguém que quer ser influencer?

BL – Comunicar muito bem e encontrar o seu público-alvo (sejam as pessoas que gostam de futebol, ou as que gostam de maquilhagem, ou as que gostam de roupa…). Tens que fazer uma “bolha” e focar-te muito nela. E não querer fazer tudo ao mesmo tempo – deves tentar encontrar um público que realmente te acompanhe desde o início e fazer tudo para que essas pessoas continuem lá sempre, contigo.

JPN – Disseste há pouco que este não era o teu plano A. Ou seja, no futuro, não tencionas viver apenas do trabalho que fazes no Instagram?

BL – Eu queria bastante fazer sempre isto, para a vida. Mas também temos que sair um bocadinho do ecrã e ter outros objetivos. Não digo que esses outros objetivos não tenham a ver com o Instagram (por exemplo, lançar uma marca ou associarmo-nos a uma marca), mas não tem que ser tudo no Instagram. Também temos que alargar um bocadinho os nossos horizontes – não nos podemos focar só numa coisa. Eu, por exemplo, estou a tirar o curso de Ciências da Comunicação, precisamente para conseguir evoluir nesta área e tentar abranger ainda mais gente e mais “mundos” da comunicação (como o mundo da televisão). Portanto, eu gostava muito que fosse o meu plano A. Mas, infelizmente, não podemos só viver disto. A qualquer momento, isto pode tudo acabar – basta o Instagram ser apagado e quem é que nós somos? Também temos que ter uma vida fora do ecrã.

JPN – Tens algum tipo de rotina como influencer?

BL – Não. Deveria ter, porque se deve publicar todos os dias. Quanto aos stories, eu costumo fazê-los quase sempre, a não ser que não tenha nada de interessante para mostrar às pessoas. Gostava de ter um fotógrafo todos os dias para poder publicar fotos diariamente, mas não tenho essa possibilidade. Também não posso estar sempre a pedir às pessoas que estão à minha volta para me tirarem fotografias, nem posso tirar tudo sozinha – nesse caso, o meu feed ficaria muito monótono.

JPN – Então, os teus posts não são planeados, ou seja, acabam simplesmente por surgir?

BL – Eu tento planear ao máximo. Pelo menos uma vez por semana, tento publicar alguma coisa, até porque, se não o fizer, os números começam a descer – as interações com as pessoas, as visitas [ao meu perfil]… Mas quando não dá, não dá. E, às vezes, só publico duas vezes por mês, porque há alturas em que ando mesmo atarefada.

JPN – Qual é o maior prazer associado a ser influencer?

BL – Eu acho que é fazermos aquilo que gostamos e as pessoas gostarem disso. É saber que as pessoas gostam de me ver.

JPN – Já te aconteceu acordares e não te apetecer “dar sinal de vida” nas redes sociais?

BL – Acontece-me muitas vezes. Todos temos dias off e, apesar de haver pessoas que pensam que eu estou sempre ao telemóvel, isso não é verdade. Quando estou com a minha família, amigos ou namorado, desligo o telemóvel. Tamb]em há dias em que acordo e não me apetece [publicar]: estou de pijama, vou fazer o almoço, vou arrumar a casa. Não tenho que estar sempre a publicar.

JPN – Quão importante é o feedback dos teus seguidores?

BL – Eu não ligo muito ao feedback negativo. E uma coisa é dar um comentário negativo, outra coisa é ser ofensivo. Eu não me importo de ter comentários negativos, desde que sejam construtivos, e esses quero que me deem, para poder melhorar. Já o ódio gratuito não aceito e, se tiver que apagar comentários, apago. As pessoas do outro lado do ecrã dizem tudo o que lhes apetece, porque acham que nunca vão chegar a nós diretamente. Quanto aos comentários positivos, recebo muitos por dia e fico muito contente com as mensagens que as meninas me mandam, especialmente quando me pedem vídeos ou me falam de temas que gostavam que eu abordasse. Aí sim, sinto-me motivada.

JPN – Que mudanças houve no trabalho dos influencers devido à pandemia da COVID-19?

BL – Este é um ano atípico. As marcas não estão a comunicar tanto quanto nós gostaríamos e estão a ter dificuldades, mesmo as maiores marcas. E claro que este [o departamento da comunicação] é um departamento em que é mais fácil reduzir os custos; ou seja, reduzem em publicidade para tentarem não reduzir em produção ou noutros departamentos. Portanto, claro que nós saímos prejudicados, porque estão a reduzir o nosso meio. Mas espero que, para o ano, tudo volte ao normal.

JPN – Porque é que, hoje em dia, há tanta gente a querer ser influencer?

BL – Uma das razões é a questão do dinheiro. E acho que é também pensarem: “Ela trabalha com a L’Oréal e com a Sport Zone, e eu também quero receber esses produtos de graça como ela”. Essa é a mentalidade da maioria das pessoas que querem seguir esta área. Mas acho que quem vem para este meio com esse intuito nunca chega a lado nenhum.

JPN – Porquê a predominância das mulheres jovens no mundo dos influencers?

BL – Acho que isto é muito recente. O Instagram, há pelo menos dez anos, não existia. Então, isso já exclui uma grande parte da população. E a partir do momento em que começou a existir Instagram e começámos a perceber de que maneira é que conseguimos chegar às pessoas do outro lado, foi aí que se criou uma geração à volta desta rede social. E acho que as meninas são sempre as meninas. Nós temos imensa coisa para falar; os homens não têm tanto gosto em dizer onde é que compraram uma camisola, por exemplo. Nós queremos saber tudo: de onde é o batom, onde é que a nossa amiga fez o cabelo… Temos muitos mexericos e gostamos de conversar sobre estes assuntos. 

JPNNa edição do dia 10 de outubro, da Revista E do Expresso, o jornalista Luís Pedro Nunes escreveu um artigo de opinião precisamente sobre o Instagram e os influencers. Pedíamos-te que comentasses a caracterização que o autor fez do Instagram, como sendo uma “fossa global de narcisistas”, cuja “ideologia inerente” é “a inveja”.

BL – Neste mundo, existe muita inveja e isso nota-se à distância, especialmente quando as pessoas nos encontram pessoalmente. Há muita gente que nos julga por aquilo que vê nas redes sociais e tira as suas conclusões sem qualquer tipo de fundamento. Tenho a noção de que, por exemplo, cem das partilhas que eu tenho numa publicação são a criticar algo (seja o nariz, seja as calças). No entanto, cada partilha, quer seja boa, quer seja má, é uma partilha e dá ênfase à publicação. Acho que o Instagram é um lugar bonito, porque conseguimos fazer com que algumas pessoas não se sintam sozinhas e se identifiquem connosco. E inveja há sempre, em todos ramos.

Não é uma fotografia, é toda uma fotografia 

JPN – Gostaríamos também que comentasses a forma como Luís Pedro Nunes, no mesmo artigo, define influencer: “uma das profissões criadas por esta rede”, é “o novo hiperelevador social mítico para adolescentes em todo o mundo e aparentemente o mais democrático meio para chegar à fama e riqueza sem «grande esforço»: viajar, comer, receber os melhores produtos apenas colocando posts lindos no Instagram”.

BL – Não acho que isso seja verdade, até porque nós temos bastante trabalho, por detrás das câmaras. Não é uma fotografia, é toda uma fotografia. Claro que é um tipo de esforço diferente, é um esforço por gosto, pelo menos falo por mim. Mas não deixa de ser um esforço. Por exemplo, muitas pessoas não têm noção do trabalho que dá fazer um vídeo para o YouTube. Primeiro, tenho de planear o vídeo todo. Depois, tenho que gravar o vídeo, gravar uma introdução 15 ou 20 vezes porque não gostei do resultado. Os nossos vídeos vão para o YouTube com dez minutos, mas nós gravámos uma hora e tal. Eu demoro cerca de 10 horas a editar. Mas quem corre por gosto não cansa!

Artigo editado por Filipa Silva

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina TEJ-Imprensa – 2º ano