Quando em 2014 o preço do petróleo começou a descer consideravelmente, a economia venezuelana passou a enfrentar uma forte inflação que tem levado ao aumento da pobreza extrema e da criminalidade no país. Por essa razão, muitos venezuelanos têm optado por sair do país. Dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) mostram que a Venezuela já perdeu cerca de 12% da sua população, o que significa que, em média, todos os dias 5.000 venezuelanos passam as fronteiras em busca de um futuro melhor.

Portugal tem sentido os resultados dessa onda migratória, sendo que desde o inicio da mais recente crise na Venezuela, o número de imigrantes vindos de lá aumentou consideravelmente. Em 2015, segundo dados do SEF, havia 2.010 venezuelanos a residir em Portugal e este valor tem subido gradualmente, atingindo no ano passado os 6.551 imigrantes, mais do triplo do valor registado quatro anos antes. O chamado fluxo migratório, preconizado pelo número de novos títulos de residência atribuídos, é também revelador: de 241 emitidos em 2015 passaram para 1.880 em 2019.

O arquipélago da Madeira tem sido a região do país que mais venezuelanos acolhe, muitos deles luso-descendentes com ligações à ilha portuguesa. A região norte do país também tem notado a crescente presença venezuelana, principalmente na região  de Entre Douro e Vouga, de onde saíram muitos portugueses na década de 60 rumo ao país de Simón Bolívar. O distrito de Aveiro tem hoje 1.474 imigrantes vindos da Venezuela, enquanto que o Porto conta com 692.

Apesar de não ser o principal destino para onde se dirigem os migrantes venezuelanos, Portugal tem sido uma escolha óbvia para muitos luso-descendentes. Nascido em Caracas, Fernando da Silva, filho de dois emigrantes portugueses na Venezuela, veio para Portugal depois de mais de cinquenta anos a viver do outro lado do Atlântico. Agora a residir em Espinho, o imigrante considera que cá será possível dar um bom futuro aos filhos, algo que não conseguiria fazer caso não fizesse esta mudança. Em declarações ao JPN, destaca o sossego e segurança que o país lhes ofereceu: “Uma pessoa anda com o telemóvel na rua e ninguém se mete com ninguém. Lá não era assim“, exemplifica.

Questionado sobre as principais dificuldades que sentiu na chegada a Portugal, destacou as diferenças entre os sistemas de saúde venezuelano e português, referindo que existem cá burocracias que não esperava encontrar. Por outro lado, a sua filha, Daniela, estudante de Fisioterapia no Instituto Politécnico do Porto, apontou a língua como o seu principal obstáculo na integração e, consequentemente, no acesso ao ensino superior. Mesmo assim, destacam positivamente a forma como foram acolhidos. “Receberam-me cá, em Portugal, como receberam os meus pais na Venezuela há 60 anos“, comentou Fernando.

A Venezuela precisa de muita ajuda. É um regime que mata a gente de fome e medo.

No final da conversa, quando falámos acerca da situação do país latino-americano, o pai de Daniela não poupou nas críticas ao regime de Nicolás Maduro, frisando que a Venezuela só poderá recuperar desta crise com muita ajuda internacional, uma vez que sozinha não será capaz de derrubar o atual governo. Aqui elogia a posição de governo português, que não tem compactuado com Maduro. “A Venezuela precisa de muita ajuda. É um regime que mata a gente de fome e medo”, acusa.

Governo português lançou iniciativas para tentar trazer emigrantes de volta

Arrancou em 2019 um programa apoiado pelo governo português que tem como objetivo auxiliar os emigrantes portugueses que pretendam voltar a Portugal, apoiando-os na instalação e oferecendo uma redução de 50% no IRS durante quatro anos. O Programa Regressar é o mais bem sucedido dos programas semelhantes e, devido à sua grande procura, já foi estendido até 2023. Até ao final do mês de outubro, foram apresentadas 86 candidaturas por parte de emigrantes portugueses na Venezuela, representando 4,49% do total de candidaturas submetidas.

A Rede de Centros Locais de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) também tem feito o seu papel no acolhimento de venezuelanos recém-chegados a Portugal. Estes centros tentam apoiar os imigrantes em todo o seu processo de integração. Desde 2017, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia tem trabalhado em parceria com o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e a Associação de Solidariedade Internacional (ASI), integrando a rede CLAIM. Os imigrantes venezuelanos representam 37,61% do número total de atendimentos realizados por este centro, apenas atrás dos brasileiros, que são cerca de 42%.

Saiba mais sobre a crise na Venezuela na cronologia abaixo

Artigo editado por Filipa Silva

Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online