Em março de 2020, quando o confinamento começou, tudo se afigurava incerto. Na redação do Porto Canal pairavam muitas dúvidas, sobretudo quanto às informações que chegavam, de forma quase insantânea, de várias fontes.

João Pereira conta que foi na fase inicial da pandemia que os jornalistas se viram mais atarefados, apesar de ainda hoje a informação ser muita e difícil de filtrar: “A toda a hora há um programa, um comentário, toda a gente diz qualquer coisa sobre a COVID-19”. Esta tarefa torna-se ainda mais complexa quando “a mensagem que vem das nossas autoridades de saúde é contraditória”, refere João Pereira. 

O jornalista acrescenta que nesta situação de pandemia há “barreiras complicadas de ultrapassar, porque nós [os jornalistas] queremos respostas e elas não existem”. E depois há “tudo o resto”, explica João: “Nós também somos pessoas, também vivemos a pandemia como as outras pessoas viveram; a diferença é que nós tivemos que trabalhar e nunca deixámos de dar notícias. Em março e abril, nós trabalhávamos sete dias e depois íamos para casa outros sete. Vivemos o primeiro estado de emergência sem ninguém na rua”. 

Em quem acreditar?

As redes sociais acabaram com o quase monopólio do jornalismo no fornecimento de informação às pessoas. “Eu já fiz peças com a ajuda de informações que estavam nas redes sociais; são os sinais dos tempos”, reflete João Pereira. Estes novos difusores de informação têm a seu favor a instantaneidade de divulgação de conteúdos: “As pessoas têm o telemóvel e as notificações estão sempre a cair”, sublinha o jornalista. “Nos canais de notícias há noticiários de hora a hora. Nas redes sociais há informações de minuto a minuto”.

O pivô admite que, na área do jornalismo, as notícias não podem ser difundidas com a mesma rapidez de um post numa rede social, pois é necessário confirmar aquilo que é dito: “É muito fácil, hoje em dia, manipular qualquer informação. Existem pessoas com todas as intenções no Instagram, no Facebook e no Twitter”. Ainda assim, João acredita que “não há nenhum jornalista, em qualquer plataforma, que não queira ser o primeiro a dar a notícia”.

Já colocámos no ar informações que estavam erradas

João Pereira considera que o mais importante no processo de seleção da informação é “verificar as informações de onde quer que elas venham”. Para isso, há um conjunto de fontes que os jornalistas tentam usar ao máximo: “Nós procuramos ter os mais altos especialistas, que participam nas ações de quem decide. Tentamos ouvi-los, tentamos colocá-los em direto, tentamos fazer-lhes as perguntas que toda a gente quer saber”. Contudo, o jornalista admite já terem sido transmitidas notícias incorretas: “Já errámos, como toda a gente já errou, pelo menos uma vez; já colocámos no ar informações que estavam erradas”.

Estúdios do Porto Canal. Foto: Soraia Ramalho

A missão do jornalismo

Apesar das dificuldades sentidas na seleção de informação, João Pereira acredita que “a televisão e o jornalismo em geral têm feito um ótimo trabalho”. Para o pivô, o jornalismo sempre foi “uma profissão nobre”, mas, nesta altura, tornou-se ainda mais importante: “Nós estamos a atravessar um vírus em que quem é contaminado por ele tem que ficar em isolamento, tem que ficar um pouco fora do mundo”. Assim, “a informação assume um papel muito importante, como assumiu naqueles meses de março e abril, quando as pessoas estavam fechadas em casa”, aponta o jornalista.

João Pereira tem consciência da sua responsabilidade enquanto jornalista, especialmente no que respeita ao apuramento da veracidade de certas informações que correm nas redes sociais: “Eu acho que há muita gente que assume que, se está no Facebook, é porque é verdade, e nós [os jornalistas] também nos devemos preocupar com isso. Cabe-nos a nós tentar mudar essa mentalidade e há inúmeros exemplos de como o jornalismo desmentiu muitas histórias das redes sociais”. 

Notícias alarmistas

Durante o confinamento, muitas pessoas desligaram as televisões e optaram por não acompanhar as notícias relacionadas com a Covid-19. Muitos justificam esta decisão com base na ansiedade e stress que estas notícias lhes causavam. João Pereira concorda que, muitas vezes, essas notícias podem afetar as pessoas a nível psicológico, mas lembra que é necessário transmitir aquilo que constitui a atualidade: “Estamos quase há 300 dias a abrir telejornais com a COVID-19. Mas é assim, é o que é preciso dar, não há outra forma, se é a COVID-19 que neste momento está a afetar as nossas vidas, é sobre ela que nós temos que falar”.

É difícil encontrar um equilíbrio entre o que é jornalismo e o que nos vai dar mais audiência

O jornalista lembra que a televisão também está dependente de audiências, o que gera uma dicotomia que para alguns canais é difícil de gerir: “É difícil encontrar um equilíbrio entre o que é jornalismo e o que nos [aos canais televisivos] vai dar mais audiência”.

João Pereira realça que deve haver sobriedade em tudo o que é feito no jornalismo, existindo sempre um aspeto a ter em conta: “a emoção tem que ficar fora”.

Artigo editado por Filipa Silva

Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online