Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito como Presidente da República, este domingo, com 60,70% dos votos. O resultado representa uma subida de mais de oito pontos percentuais face ao seu resultado nas eleições de 2016.

O atual Presidente saiu, assim, politicamente reforçado da eleição e evitou o cenário da segunda volta. Tornou-se mesmo o primeiro candidato a ganhar todos os concelhos do país em eleições presidenciais. A percentagem de votos mais alta obteve-a na Madeira, onde recolheu 72% dos votos.

Ana Gomes ficou em segundo lugar, com 12,97% dos votos, acabando por não conseguir ameaçar o segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, mas cumprindo o objetivo de superar André Ventura. A candidata tornou-se a mulher mais votada em eleições presidenciais e teve o seu melhor resultado no distrito do Porto – 15,58% dos votos. No frente a frente com André Ventura, Ana Gomes saiu-se melhor nos distritos do litoral do país (com exceção de Leiria e Faro), enquanto Ventura dominou por completo no interior. A socialista recolheu, ao nivel nacional, mais 43 mil votos que o terceiro classificado.

André Ventura ficou, assim, atrás da fasquia que o próprio tinha definido, tanto de ficar à frente de Ana Gomes, como de levar Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta. O líder do Chega conseguiu 11,90% dos votos, em ligeira desvantagem para o segundo lugar. Desta feita, o partido tem o seu melhor resultado eleitoral e aumenta mais de sete vezes a votação que obteve nas legislativas de 2019: de quase 68 mil votos passa para quase 500 mil. Portalegre foi o distrito onde obteve uma votação mais alta – 20%.

João Ferreira

João Ferreira Foto: João Ferreira/Facebook

João Ferreira obteve 4,32% dos votos, ficando ligeiramente acima dos 3,95% do candidato do Partido Comunista Português das eleições de 2016, Edgar Silva, mas obtendo menos votos ao nível nacional. O candidato comunista conseguiu superar a candidata do Bloco de Esquerda (BE), Marisa Matias, mas foi ultrapassado pela direita por Ventura em distritos onde a CDU costuma ter grande peso: casos de Beja, Évora e Setúbal. Foi, ainda assim, em Beja que o eurodeputado conseguiu o melhor score: 15%.

Marisa Matias

Marisa Matias Foto: Marisa Matias/Facebook

Marisa Matias sofreu uma das derrotas mais pesadas da noite, ficando pelo quinto lugar, com apenas 3,95% dos votos. A candidata bloquista sofreu uma queda em relação às eleições anteriores – em que tinha alcançado 10,12%, o melhor resultado do BE em eleições presidenciais. Coimbra, o seu distrito de origem, foi aquele onde se saiu melhor, mas mesmo aí não foi além dos 5,48%.

Tiago Mayan

Tiago Mayan Foto: Tiago Mayan/Facebook

Tiago Mayan Gonçalves ficou em sexto lugar. O candidato da Iniciativa Liberal acabou por consolidar o eleitorado do partido face às legislativas de 2019, duplicando a votação nos liberais. O candidato obteve o melhor resultado no Porto (4%), cidade de onde é natural. Foi nos grandes centros urbanos – Porto e Lisboa – que recolheu mais votos.

Vitorino Silva

Vitorino Silva Foto: Vitorino Silva/Facebook

Em último lugar, com 2,94%, ficou Vitorino Silva. O candidato de Rans não alcançou uma surpresa semelhante à de 2016 e acabou por ter uma percentagem de votos mais reduzida – nas anteriores presidenciais tinha conseguido 3,28% dos votos – e menos votos: passou dos 151 mil para os cerca de 122 mil. Talvez a grande derrota, ainda assim, tenha sido a que sofreu em casa: se em 2016, Tino foi de longe o mais votado na sua freguesia (com 61% dos votos), desta vez foi Marcelo a vencer. Teve mais 20 votos que Vitorino. Nas ilhas, contudo, o líder do RIR, ficou à frente do candidato da CDU e foi o quarto mais votado em vários distritos do Norte do país.

Como era esperado, a abstenção aumentou em comparação com as presidenciais de 2016 e fixou-se nos 60.51% – a mais alta de sempre. O universo de eleitores aumentou, em relação há cinco anos, pelo facto de terem sido incluídos no universo eleitoral todos os portugueses residentes no estrangeiro que têm cartão de cidadão. Mesmo assim, os números da abstenção não chegaram aos piores cenários, que apontavam para uma percentagem perto dos 75%.

Um Presidente de “coração aberto”

No discurso de vitória, que Marcelo Rebelo de Sousa escolheu fazer a partir da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), onde estudou e foi professor, começou por enumerar os dados da pandemia, em Portugal. “É a minha, a vossa, a nossa primeira missão: conter e aliviar a pandemia”, disse o Presidente reeleito.

Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se de “coração aberto e profundamente honrado” pelo reforço na votação que obteve nestas eleições. Como sempre disse ao longo da campanha, esta vitória refletiu, na sua visão, a vontade dos portugueses de quererem um Presidente “que estabilize, que não seja de fação”.

Por sua vez, Ana Gomes lamentou a “não comparência” do Partido Socialista a estas eleições. A militante que não obteve o apoio oficial do próprio partido responsabilizou o PS por ter contribuído para “dar a vitória” a Marcelo Rebelo de Sousa. A ex-eurodeputada destacou ainda a importância da sua candidatura “não fazer o jogo da extrema-direita, [não] permitindo elevá-la a alternativa”.

André Ventura fez um discurso efusivo, apesar do resultado aquém das expetativas. A promessa acabou por ser cumprida e o líder do Chega disse que vai “devolver a palavra aos militantes” do partido para decidirem se ainda mantêm a confiança no candidato. André Ventura alertou ainda que a mensagem destas eleições foi “para o coração da direita e do centro-direita” e repetiu o que tem vindo a dizer ao longo dos últimos meses: “Não haverá Governo em Portugal sem o Chega”.

João Ferreira tentou explicar que houve “vários fatores” que justificam os resultados eleitorais e admitiu que “não foi o desejado”. Sobre uma possível liderança do PCP, o candidato recusou falar de “atos eleitorais futuros” e destacou que o secretário-geral do partido, Jerónimo de Sousa, já se encontrava na sala.

Marisa Matias admitiu a derrota e que os resultados “estão longe do objetivo” traçado. No entanto, a candidata bloquista atribuiu culpas ao PS pela “esquerda não ter somado mais nestas eleições”.

Tiago Mayan Gonçalves monstrou-se contente pelo “sucesso” da campanha. O candidato liberal reiterou que “valeu a pena” a candidatura a Belém e sinalizou a “onda liberal” que este domingo demonstrou que cresceu.

Por fim, Vitorino Silva mostrou-se sorridente e satisfeito com os resultados que obteve. Nas declarações que prestou à imprensa, a partir de uma casa particular em Rans, afirmou: “Eu há cinco anos concorri contra o candidato Marcelo, desta vez concorri contra o Presidente da República”.