Apesar das dúvidas, existe “uma probabilidade razoável de a Volta ao Algarve ainda se realizar em 2021”. A convicção é de Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), que espera ter esta semana uma confirmação da União Ciclista Internacional (UCI) sobre o pedido de recalendarização da prova, adiada de fevereiro para maio na sequência do agravamento da situação pandémica em Portugal.

O encaixe, num calendário já muito preenchido, não será fácil, mas o adiamento era “inevitável”, como o classificou a FPC quando informou, no dia 21 de janeiro, que “a corrida não poderá realizar-se nas datas previstas, 17 a 21 de fevereiro”, apontando o período de 5 a 9 de maio como a solução pretendida para o reagendamento.

Uma “falsa partida para todo o ciclismo”, nacional e internacional, confessa o dirigente ao JPN, que pode ser também um revés para a promoção da região do Algarve. Em termos competitivos, também se preveem “prejuízos”, mas podia “ser bem pior”, na opinião do jornalista e comentador de ciclismo, Frederico Bártolo.

As consequências do adiamento

A 47.ª edição da Volta ao Algarve seria aquela com mais equipas de sempre: 25, 14 das quais do WorldTour, um recorde de equipas do primeiro escalão, entre as quais se destacam equipas de topo como a UAE Team Emirates, INEOS-Grenadiers, Deceuninck-Quick-Step, Jumbo-Visma, Movistar Team, entre outras.

Por causa do adiamento da competição, a prova “não terá certamente o mesmo quadro de atletas”, prevê Delmino Pereira e não se sabe ao certo quantas equipas internacionais vão participar. Na opinião de Frederico Bártolo, a corrida “fica obviamente prejudicada por não ser em fevereiro”. Contudo, “podia ser bem pior se tivesse sido adiada para abril, devido à quantidade de competições de uma semana e clássicas de um dia”.

Confirmada a data, a corrida pode ser um ponto atrativo para ciclistas que procuram recuperar a forma física após o mês de abril ou até ganhar ritmo para competições importantes no verão, como o Tour de France.

Para Delmino Pereira, esta será também uma “excelente oportunidade para as equipas portuguesas serem protagonistas”. Com o prestígio que a prova tem acumulado nos últimos anos e apesar da redução do número de equipas, o presidente da FPC afirma que estarão reunidas todas as condições “para termos uma grande corrida e com segurança”, como foi mostrado na Volta a Portugal de 2020.

“É um arranque (de temporada) mais calmo. Por esta altura do ano passado, já estavam a decorrer os campeonatos de pista, taças de Portugal, provas de BMX, estava tudo a avançar, este ano, ainda não tivemos uma prova e isto atrasa o ciclismo”, diz Delmino Pereira, pela incerteza decorrente do “como e quando podemos recomeçar” com as provas.

O período de 5 a 9 de maio até pode ser “benéfico para os ciclistas nacionais”, diz Frederico Bártolo, “aproximando a Volta ao Algarve a outras corridas do calendário nacional” como a Volta ao Alentejo e a Volta a Portugal, criando assim um espaço mais curto entre as competições e menos tempo de paragem prolongada entre a Volta ao Algarve e as restantes provas nacionais.

Uma prova versátil e com vencedores ilustres

Com mais de 60 anos de história, a Volta ao Algarve é, neste momento, a prova de ciclismo nacional com maior importância no panorama internacional. Sendo uma prova considerada de segundo escalão e estando inserida no circuito Pro Series, é a única competição em Portugal que pode acolher equipas do ProTour – escalão principal da União Ciclista Internacional (UCI) – dando assim a possibilidade à Federação Portuguesa de Ciclismo – organizadora da prova – de convidar equipas de topo para começar a sua temporada em Portugal.

Delmino Pereira afirma que a Volta ao Algarve é um “evento de grande importância na perspetiva de afirmação do ciclismo português no mundo” e essencial para a ”divulgação da região do Algarve para o mundo”. Também Frederico Bártolo, jornalista e comentador, reitera que este evento “é importante para o ciclismo nacional, porque nos permite colocar as equipas portuguesas e os seus ciclistas a competir com os melhores do mundo” e é “a única forma do ciclismo português ter acesso a determinada concorrência” internacional.

Apesar da importância que a Volta a Portugal tem ao nível nacional, a Volta ao Algarve tem-se estabelecido como a competição portuguesa mais importante para as equipas estrangeiras. Realizada normalmente em fevereiro, a prova é uma das primeiras competições de uma semana presentes no calendário da UCI, sendo que muitas das principais equipas do pelotão internacional apreciam a versatilidade da corrida. “Reúne tudo aquilo que as equipas do WorldTour procuram”, diz Frederico Bártolo.

Ao centro, de amarela, o eslovaco Primoz Roglic, vencedor da Volta ao Algarve de 2017, acompanhado, à direita, do segundo classificado, Michal Kwiatkowski (Sky) e, à esquerda, pelo terceiro, Tony Gallopin (Lotto-Soudal). Foto: João Fonseca/Volta ao Algarve/Facebook

Habitualmente composta por cinco etapas, a Volta ao Algarve “apresenta percursos distintos, incluindo etapas talhadas para sprinters, trepadores e contrarrelogistas”, indica o jornalista e comentador de ciclismo. Esta versatilidade tem atraído as atenções das principais equipas do mundo e dos seus ciclistas principais, aproveitando assim para preparar as clássicas de abril e adquirir ritmo competitivo para o início da temporada.

No lote de vencedores da Volta ao Algarve constam grandes nomes do ciclismo mundial, também vencedores de pelo menos uma das três Grandes Voltas (Giro d´Itália, Tour de France e Vuelta a España). São disso exemplo:

  • Tadej Pogacar – vencedor da Volta ao Algarve 2019 e do Tour 2020;
  • Primoz Roglic  – vencedor da Volta ao Algarve 2018 e da Vuelta 2019 e 2020;
  • Geraint Thomas – vencedor da Volta ao Algarve 2015 e 2016 e do Tour 2018;
  • Alberto Contador – vencedor da Volta ao Algarve 2009 e 2010, do Giro 2008 e 2005, do Tour 2007 e 2009 e da Vuelta 2008, 2012 e 2014.

Na edição de 2020, venceu o jovem belga Remco Evenepoel, um dos mais promissores ciclistas do pelotão internacional, que parecia lançado para uma época de sonho não fosse a impressionante queda que sofreu meses depois, na Volta à Lombardia.

Artigo editado por Filipa Silva