O “New York Times” (NYT) lançou na sexta-feira, dia 5 de fevereiro, um documentário intitulado Framing Britney Spears, que procura enquadrar a longa batalha legal em que a cantora celebrizada por “Baby one more time” está envolvida há largos anos. O filme, disponível na plataforma de streaming da Hulu,  foca-se no movimento Free Britney, composto por fãs ativistas da cantora que acreditam que a vida da artista está a ser controlada contra a sua vontade. O motivo é a tutela legal sob a qual a estrela da pop se encontra há 13 anos, que a declara como incapaz, dando ao pai, Jamie Spears, o poder de controlar a sua carreira, as suas finanças, e os seus cuidados de saúde.

Esta tutela foi imposta judicialmente em 2008, numa fase em que a estrela se encontrava mentalmente instável, depois dos escândalos como o episódio em que rapou o cabelo, danificou o carro de um paparazzi com um guarda-chuva ou quando conduziu com o filho bebé ao colo para fugir aos fotógrafos.

O documentário viaja no tempo até ao início da carreira de Britney, na aurora dos anos 90, e conta resumidamente a sua meteórica ascensão, desde a infância no Louisiana e a participação em criança no programa da Disney “Mickey Mouse Club” até ao sucesso extremo nos anos 2000.

As suas fotografias chegaram a valer um milhão de dólares. Os tablóides fizeram muito dinheiro com a superestrela da pop. Podemos vê-la, por exemplo, sem se conseguir movimentar numa loja de conveniência completamente cheia de fotógrafos. Outra cena mostra dois paparazzi à luta em frente à artista e ao seu filho.

Os fãs questionam se a tutela paternal é do interesse da artista, e há no documentário vários testemunhos que apontam armas nesse sentido. Kim Kaiman, diretora de marketing da Jive Records, editora de Britney até 2011, relembra as únicas palavras que ouviu do pai da artista no início da sua carreira: “A minha filha vai ser tão rica que me vai comprar um barco”. Dave Holmes, video jockey da MTV, acrescenta: “Sempre que se envolve uma quantidade de dinheiro, é necessário questionar os motivos de toda a gente próxima a essa pessoa”.

No documentário, Jamie Spears é retratado como alguém que nunca foi muito presente na vida e carreira da filha e que esteve, no passado, envolvido em problemas com álcool e reabilitação.

“Porque é que ela ainda está nisto?”, questionam-se alguns fãs ouvidos pelo NYT, colocando em questão a pertinência da custódia.

Nos últimos 13 anos, Britney Spears, que tem hoje 39 anos, lançou quatro álbuns (“Circus”, 2008; “Femme Fatale”, 2011; “Britney Jean”, 2013; e “Glory”, 2016), realizou tours de três desses álbuns, participou como jurada no programa The X Factor e foi, com sucesso, a artista residente de uma sala de espetáculos em Las Vegas, onde se apresentou durante quatro anos (2013 a 2017).

Felicia Cullota, amiga e ex-assistente da cantora – dispensada da função depois da tutela legal decretada pelo tribunal – afirma saber, “em primeira mão”, que a artista é capaz daquilo que está impedida de fazer.

“Ela tem medo do pai”

Em 2018, foi anunciado um novo espetáculo da residência em Las Vegas em nome da artista, intitulado “Domination”. As primeiras suspeitas em relação à situação da cantora surgiram numa cerimónia destinada à apresentação do evento. Britney Spears apareceu em palco, sorriu, atravessou a passadeira vermelha, e entrou para o carro sem proferir uma palavra. Imagens deste acontecimento estão incluídas em “Framing Britney Spears”.

Este conjunto de espetáculos viria a ser cancelado pouco tempo depois, no início de 2019, alegadamente por motivos familiares e de doença do pai. No entanto, foi a artista de “Toxic” quem foi internada numa clínica psiquiátrica de seguida. Na mesma altura, Andrew Wallet, co-tutor desiste da função repentinamente, deixando a tutela inteiramente ao cargo do progenitor. Britney não atua ao vivo desde então.

Foi criado o movimento Free Britney, neste contexto, em 2019 e, com ele, aumentaram a generalizaram-se as suspeitas de que a artista é excessivamente controlada contra a sua vontade. “Framing Britney Spears” conta também com o testemunho das autoras de um podcast chamado “Britney’s Gram”, dedicado a decifrar as publicações do Instagram da cantora, onde, acreditam as autoras, Britney tentará transmitir mensagens subliminares e pedidos de ajuda. Jamie Spears já se pronunciou sobre o movimento que considera ser enquadrável em “teorias da conspiração”.

Em novembro de 2020, realizou-se a mais recente audição em tribunal relativa à tutela e da sessão saíram declarações que vieram dar nova força ao movimento, que se manifestou no exterior do tribunal. “A minha cliente informou-me que tem medo do seu pai”, declarou na sessão o advogado nomeado para defender a cantora, em declarações logo reproduzidas nos jornais. “Ela não voltará a atuar enquanto o pai estiver a gerir a sua carreira”, declarou ainda Samuel Ingham. Esta quinta-feira, 11, está marcada uma nova audiência em tribunal.

Caras conhecidas juntam-se à discussão

Durante o último fim de semana, logo após a estreia, o documentário já provocou bastantes reações de indignação por parte do público em geral. Celebridades como Miley Cyrus, a atriz Sarah Jessica Parker, a vocalista dos Paramore Hayley Williams são algumas das que se pronunciaram em apoio da princesa da pop.

A produção do documentário contou para o trabalho com os testemunhos da já referida Felicia Cullota; de advogados envolvidos nos processos, como Adam Streisand; de profissionais da indústria que trabalharam com a princesa da pop; fãs e ativistas membros do movimento ‘Free Britney’ e mesmo paparazzi. A equipa responsável pelo trabalho, assinado por Samantha Stark, garante ter tentado entrar em contacto com toda a família de Britney, incluindo o pai e irmãos, bem como com o ex-tutor Andrew Wallet e todos se recusaram a prestar declarações. A própria artista também foi convidada indiretamente, mas os produtores afirmam não ter a certeza se a mensagem lhe foi transmitida.

Artigo editado por Filipa Silva