Foi com um abraço forte que Luís Diamantino, vereador da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa do Varzim, se despediu de Luis Sepúlveda no final da edição do ano passado do Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim. Com um abraço e uma promessa: a de que o escritor chileno marcaria presença na edição número 22 do certame. Sentiu, por isso, um grande vazio quando, um mês e meio depois, Luís Diamantino soube da morte do autor de “O Velho que Lia Romances de Amor”, vítima da COVID-19.

O festival, que este ano se realiza entre os dias 26 e 27 de fevereiro, presta homenagem ao chileno que marcou presença na primeira edição e em todas em que foi convidado. Carmen Yáñez vai marcar presença nas homenagens.

Ao JPN, o vice-presidente da Câmara da Póvoa de Varzim reconhece e agradece “o trabalho que Luis Sepúlveda fez pelo livro, pela liberdade e ainda aqui pelo Correntes d’Escritas,   deu um nome muito forte ao festival”.

Uma das homenagens passa por uma exposição fotográfica que mostra o mundo pessoal e profissional de Sepúlveda, momentos captados pelo seu amigo Daniel Mordzinski. Esta galeria totalmente dedicada ao escritor, promete fazer uma viagem pela sua vida “enquanto homem, marido, escritor, defensor da liberdade e ecologista“, como se pode ler no programa.

O número 22 da revista literária “Correntes d’Escritas” tem como base fundamental o autor chileno. As suas páginas foram preenchidas por “escritores e amigos” de Sepúlveda.

“Marcou gerações e vai continuar a marcar. Luis Sepúlveda não está morto. Está bem vivo nas suas obras e na ânsia que nos deixou. E isto é o mais importante”, rematou o vice-presidente e organizador em declarações ao JPN.

Estas homenagens vão estar disponíveis online para “as pessoas apreciarem”, informou ainda Luis Diamantino.

“Só voa quem se atreve a fazê-lo” e “Admiro os resistentes” são alguns dos temas e afirmações retirados da obra de Luis Sepúlveda que servem de mote para conversas em mesas online e discussões entre autores de países de língua espanhola e portuguesa. Valter Hugo Mãe, Lidia Jorge e  Josep Maria Esquirol estão entre os convidados.

Novos desafios, novas realidades

 Com as novas medidas de confinamento e uma transição total para o online, perde-se o contacto e a cumplicidade entre o escritor e o leitor, além de “os abraços, o sorriso, o estar junto, o respirar o mesmo ar que agora não se pode”.

Mas Luis Diamantino ressalva os amigos que ao longo dos 22 anos do festival se criaram amigos e é a amizade que sobressai: “Este ano vamos ter 150 escritores, mesmo online. Todos querem escrever na revista, participar na residência literária que vamos fazer, que não tem casa, que se chama Casa Vazia”.

Poetas, alguns bem conhecidos dos poveiros, aceitaram o desafio para ler poemas nos locais mais improváveis em 12 pontos do concelho. Desta iniciativa vão resultar 22 episódios em formato audiovisual que pretendem “promover a literatura desta localidade”.

As famílias foram incentivadas a ler um livro e a partilharem a sua leitura em vídeo nas redes sociais do município. Ler poesia na rua e partilhar memórias das edições passadas serão também novos desafios do festival.

As Penélopes”, 12 histórias nas camisolas poveiras

Um projeto “único” e pluridisciplinar que nasce através da parceria entre o município da Póvoa de Varzim e a cooperativa Bairro dos Livros pretende unir a literatura e a arte do bordado. Uma ligação entre as artesãs da Póvoa de Varzim e a escrita no feminino.

Doze autoras da literatura portuguesa, incluindo Isabel de Sá e Raquel Patriarca, inspiraram-se na obra de Homero e escreveram textos que representam simbolicamente as 12 servas da Odisseia de Ulisses. Doze artesãs poveiras juntaram-se às escritoras e bordaram camisolas com palavras retiradas das obras das autoras e com os tradicionais símbolos do padrão da bandeira da Póvoa de Varzim.

Desta parceria resulta uma exposição no Diana Bar, um livro e um pequeno documentário de João Cayatte, que será apresentado online.

O programa completo do Correntes d’Escritas deste ano pode ser consultado no site oficial.

Artigo editado por Filipa Silva