Nascido em 1976 numa zona rural próxima de Moscovo, Alexei Navalny é há uma década o líder da oposição democrática na Rússia. A sua intransponível resistência já lhe valeu inúmeros processos judiciais, penas de prisão e duas presumíveis tentativas de envenenamento. O ativista tem provocado um acérrimo nervosismo no seio do Kremlin, divisões políticas e uma onda de protestos em várias cidades, de norte a sul do país.
Hoje, ainda que imensamente ignorado pela imprensa e com o acesso ao Parlamento vedado e impossibilitado de se candidatar a cargos políticos até 2028, não se deixa intimidar e promete cumprir a missão pela qual tem lutado.
Trajeto político controverso
Filho de pai ucraniano e mãe russa, Alexei Navalny é advogado de formação, mas desde cedo entrou no universo político. Em 1999, o arrojado dissidente ingressa no Yabloko, partido liberal com alguma relevância. Esse ano mostrou-se basilar para o panorama da nação russa, dado que foi o último de Boris Ieltsin à frente de Kremlin, antecedendo a eleição, no seguinte ano, do até então primeiro ministro, Vladimir Putin, que se viria a assumir, ininterruptamente, como o segundo líder há mais tempo no poder na história do país, somente atrás de Josef Stalin.
A estadia de Alexei Navalny no partido da oposição seria curta e chegaria ao fim em 2007. As suas posições consideradas demasiado nacionalistas e a sua defesa de restrições à imigração foram as razões da sua expulsão.
Após o seu afastamento, o ativista decide formar o seu próprio partido, denominado Narod, no qual se encontravam refletidas as ideologias que já havia evidenciado no Yabloko. Em 2010, recebe uma das bolsas de estudo do Programa Maurice R. Greenberg da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, cujo intuito era o de formar líderes globais, passando a assumir-se como um ativista anti-corrupção e a denunciar o mau uso de dinheiros públicos.
Em 2013 candidatou-se pela oposição à presidência da Câmara de Moscovo, tendo arrecadado 27% dos votos, não obstante a quase inexistente cobertura noticiosa dos media estatais. Acabou, porém, por perder para Sergei Sobyanin, que detinha o apoio do Governo.
Em declarações ao JPN, José Milhazes, afirma que Nalvalny é o principal opositor de Putin, dada a inexistência de outra pessoa que lhe faça frente, tecendo várias críticas às políticas adotadas pelo presidente russo.
A aposta nas redes socais como forma de desmascarar o poder
Dado o seu impedimento de se candidatar a cargos políticos, Alexei Navalny tem apostado noutro tipo de palcos para se fazer ouvir, nomeadamente, as suas redes sociais, contando com mais de 2 milhões de seguidores no Twitter, e através do seu canal de Youtube, com cerca de 4 milhões de subscritores, como forma de mobilizar os seus seguidores, maioria jovens.
Ao mesmo tempo que expõe as suas ações de campanha e organiza manifestações contra o governo de Putin, divulga investigações anti-corrupção que tem levado a cabo, nas quais desvenda as fraudes existentes no sistema. Esta evidência está comprovada no documentário “Don’t Call Him Dimon”, sobre o ex-primeiro ministro Dmitry Medvedev.
E mais recentemente, a 19 de janeiro de 2021, com a publicação de um vídeo intitulado “O Palácio de Putin”, no qual acusa o Chefe de Estado de ser o beneficiário de um opulento “palácio” às margens do Mar Negro, cuja construção teria custado mais de mil milhões de euros, tendo sido projetado com financiamento público.
Segundo José Milhazes, o ativista “apenas apresentou um exemplo das dimensões que a corrupção tem na Rússia” e “da forma como os seus dirigentes se aproveitam do domínio da propriedade pública”, atuação que tem manchado o regime de Vladimir Putin.
Ao longo da sua carreira, Navalny foi detido diversas vezes, acusado de violar as leis sobre manifestações e o ambiente de crispação em torno do ativista tem subido de tom. Segundo os partidários do opositor, o Presidente russo procura permanentemente afastar o seu detrator número um, que tem sido alvo de inúmeras e violentas afrontas ao longo dos últimos anos.
Em 2017, o proeminente líder opositor foi vítima de um ataque Zelyonka à saída da Fundação Anti-Corrupção, tendo o seu rosto sido pulverizado com uma tinta verde antissética. A substância provocou-lhe uma queimadura química no olho, demorando uma semana a ser completamente eliminada.
Condenado por envenenamento
Em agosto de 2020, Navalny foi novamente notícia pelas piores razões. Enquanto regressava ao seu país natal de uma viagem à Sibéria, o ativista sentiu-se indisposto, obrigando o piloto a fazer uma aterragem de emergência que demonstrou ser vital, caso contrário teria morrido. Após ser transportado para Berlim, recebeu tratamento contra uma neurotoxina identificada como Novichok, um químico desenvolvido na União Soviética.
O caso suscitou uma acesa disputa política. Enquanto que a Rússia afirma que nada teve a ver com o ocorrido, apesar dos principais suspeitos serem os serviços secretos russos. O Kremlin defende-se, declarando que a Alemanha se recusa a ceder as provas de que se tratou efetivamente de envenenamento.
O acontecimento já conheceu, entretanto, desenvolvimentos e no passado dia 2 de fevereiro, Alexei Navalny foi condenado a dois anos e meio de prisão. Em causa está o facto de o ativista ter violado a liberdade condicional, depois de ter recuperado em solo germânico do presumível envenenamento.
A decisão do tribunal russo despoletou uma onda de insatisfação e diversas organizações como a ONU, a EU e Amnistia Internacional ordenaram a imediata libertação do ativista.
O ex-correspondente do Público e da SIC na Rússia, José Milhazes, refere que os consecutivos ataques de que Alexei Nalvalny tem sido alvo, são a prova de que Vladimir Putin utiliza a repressão a seu favor, “temendo qualquer tipo de oposição não sistémica, isto é, que não possa controlar”.
Na opinião do tradutor e comentador da SIC, José Milhazes, em termos internos, o objetivo de Putin está bem delineado e “passa por denegrir completamente a imagem de Navalny, acusá-lo daquilo que ele fez e daquilo que ele não fez”, procurando descredibilizá-lo e terminar com qualquer possível oposição que exista.
Antagonicamente, Alexei Navalny promete não abdicar da sua causa, continuando a expor, pleno de determinação e coragem, a corrupção da elite russa e a vida luxuosa do “novo czar”, mesmo perante a pressão do Kremlin.
Artigo editado por Filipa Silva