A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou, esta quarta feira, que das 15 mortes declaradas no último trimestre de 2020 pelo surto da legionella no Grande Porto, apenas nove foram diretamente atribuídas à doença. Dos “15 óbitos considerados [no surto], algumas vítimas tinham outras comorbilidades associadas, nomeadamente Covid-19, em dois dos casos”, revelou.

No dia 13 de janeiro, a Administração Regional de Saúde de Norte (ARS-N) deu por extinto o surto de legionnella que atingiu a região do Grande Porto, anunciando 88 casos confirmados e 15 mortos associados à doença. Cerca de um mês depois, o balanço final da ocorrência é esclarecido. “Quando se codificou as causas das mortes, foram considerados 88 casos e nove óbitos atribuíveis à legionella. Duas mortes foram atribuídas à infeção por SARS-Cov-2 e as outras a patologias graves avançadas em doentes também com idade avançada”, avançou a diretora-geral da Saúde, numa audição na Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território realizada no Parlamento e requerida pelo grupo parlamentar do PSD, com o propósito de apurar as causas, procedimentos inspetivos e eventuais responsabilidades do surto.

A responsável lamentou “profundamente os casos e as mortes” provocadas pelo surto, realçando que, ao atingir “pessoas de idade avançada, como aconteceu, [a doença] provoca uma taxa de letalidade elevada”. Graça Feitas explicou, ainda, que a responsabilidade da DGS é a de “acompanhar, uniformizar critérios, colaborar e partilhar informações”, salientando que a gestão deste tipo de surtos é feita “primordialmente pelas Autoridades de Saúde locais e depois pelas Autoridades de Saúde regionais”.

“Fomos formalmente informados do surto no dia 5 de novembro, e a partir desse momento colaboramos dentro do que é nosso mandato. Há uma hierarquia que tem de ser respeitada, cumprimos o nosso papel, em articulação com as entidades da região norte”, afirmou a responsável.

José Brito e Silva, da Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT), foi, também, convidado a participar na audição, e salientou que, no caso do surto em questão, a investigação é da responsabilidade das Autoridades de Saúde locais. O responsável afirmou só ter sabido do encerramento das torres de refrigeração das empresas Ramirez e Longa Vida pela Comunicação Social, mas garantiu que o seu organismo mostrou “toda a colaboração”, dentro da sua esfera de ação, e explicou que “as obrigações de fiscalização se encontram repartidas por diferentes entidades”.

À data em que o surto no Grande Porto foi dado como extinto, uma fonte da Administração Regional de Saúde de Norte (ARS-N) garantiu que, nos hospitais onde foram recebidos 89 doentes infetados, já não havia ninguém internado devido ao surto.

O que esteve na origem do surto?

O surto de legionella que atingiu o Grande Porto teve início em outubro de 2020 e foi dado como extinto a 13 de janeiro de 2021. Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa do Varzim foram os concelhos afetados, o que levou à realização de análises nas redes de distribuição públicas de água, bem como em torres de refrigeração na área, como forma de apurar a origem do surto.

A bactéria foi detetada em novembro, em concentração elevada, nas torres de refrigeração da fábrica de laticínios Longa Vida, em Matosinhos. No entanto, não há dados conclusivos que garantam que seja essa a origem. A empresa, que, na altura, desligou preventivamente os equipamentos, garantiu não ter recebido “informação sobre a correlação entre a presença desta bactéria” nas torres de refrigeração e a origem do surto.

O Ministério Público determinou a abertura de um inquérito para investigar as causas do surto, ainda desconhecidas. Numa audiência na Comissão de Saúde da Assembleia da República, requerida pelo PCP, Rui Capucho, médico do Departamento Saúde Pública da Administração Regional de Saúde de Norte (ARS-N), afirmou: “estabelecemos uma relação entre o encerramento das torres de refrigeração de algumas indústrias da região e o fim do surto. Mas, infelizmente não podemos ainda fazer um nexo de causalidade entre nenhuma das torres em concreto como fonte de infeção”.

A doença do legionário, provocada pela bactéria ‘Legionella Pneumophila‘, contrai-se através da inalação de gotículas de vapor de água contaminadas (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares. O surto mais grave de legionella dos últimos anos foi o de 2014, em Vila Franca de Xira, que causou 12 mortos e mais de 400 infeções e teve origem em duas empresas da região, a Adubos de Portugal e a General Electric.

Artigo editado por Filipa Silva