Para “trazer letras a Letras”, acaba de aterrar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) o projeto “Gavia”, um clube de leitura organizado pela associação de estudantes da instituição.

Beatriz Leitão é a coordenadora do departamento cultural da AEFLUP e a fundadora do clube, cujo nome é a palavra latina para “gaivota”. Uma homenagem às aves que, junto ao Douro, são já parte da moldura da faculdade.

Ao JPN, a estudante afirma que a ideia surgiu do gosto que tem pela leitura e da perceção de não existir um clube fixo e dedicado apenas a esse hábito: “quando entrei na faculdade, nem sequer se falava em clubes de leitura e eu pensei que de certeza que não era a única que tem este amor à leitura. Há pessoas até a especializar-se neste campo, portanto, só faz sentido haver [um clube]”. A partir daí, quando este ano integrou a equipa da associação de estudantes, Beatriz pôs mãos à obra: “se eu não conheço nenhum clube, vou ser eu a criá-lo”, sublinhou.

A intenção é estimular o conhecimento de novas obras e a partilha de experiências gratificantes enquanto leitor, ao mesmo tempo que se proporciona um momento de descontração para os alunos.

Os géneros literários serão abrangentes e dirigidos aos interesses do grupo e haverá até espaço para a apresentação de obras inéditas: “nós queremos também ver se, no universo de pessoas que estão inscritas, temos alguns autores recentes, se há pessoas que se estão a tentar lançar no meio da escrita”, explica. De horizontes abertos à experiência por vir, Beatriz admite que “vai ser muito jogar com as pessoas que nós temos e que nos aceitaram para também fazer algo que seja apelativo para todos. Isto é um grupo de todos para todos”, conclui.

As inscrições para o clube de leitura da FLUP estão abertas a todos os estudantes da Universidade do Porto.

O “Gavia” surge num momento de dificuldades acrescidas, principalmente, para quem está a iniciar a sua vida académica: “tendo em conta este momento de pandemia que vivemos e em que estamos todos em casa outra vez, nós sentimos que é importante que as pessoas se interliguem. É uma oportunidade de os estudantes se conhecerem uns aos outros”, refere a estudante. Por agora, as sessões serão online, mas o plano é tornarem-se presenciais no futuro.

Inicialmente dirigida apenas a alunos da FLUP, a iniciativa foi recentemente divulgada nas redes sociais da associação de estudantes e despertou mais interesse do que o esperado: “nós não estávamos à espera de tanta recetividade dos alunos. Neste momento, já estamos com 75 inscritos e estamos todos entusiasmados”. A primeira sessão ainda não tem data marcada e a periodicidade do clube ainda não está fechada, mas Beatriz informa que está para breve e será para “começar com uma conversa mais simples, mas para que todos percebam um pouco que a leitura está presente”.

Disponível para receber todos os estudantes da Universidade do Porto, o clube de leitura da AEFLUP tem as inscrições abertas.

“As Cotovias” do Coletivo Feminista de Letras

Foi em 2018 que “As Cotovias” fizeram ninho no Coletivo Feminista de Letras, mas apenas em 2019 iniciaram o projeto.  O livro “Feminismo para os 99%”, de Cinzia Arruzza, Heci Regina Candiani e Nancy Fraser foi a obra escolhida para a primeira roda de leitura. Porquê? “Por ser um livro que achamos muito importante, tendo em conta o tipo de feminismo que defendemos: um feminismo anticapitalista, um feminismo que se quer interseccional”, explica Sandra Pinheiro, membro do Coletivo, ao JPN.

A iniciativa surgiu, assim, como uma extensão natural dos propósitos do grupo: “pela necessidade que temos dentro do feminismo e dos movimentos sociais de fazermos reflexões críticas sobre aquilo que nos chega, de pensarmos o feminismo e de discutirmos a teoria para termos opiniões críticas e baseadas em alguma coisa”, explica Sandra.

A primeira sessão do Coletivo Feminista de Letras explorou o livro "Feminismo para os 99%".

Aberto não só à comunidade estudantil, mas ao público em geral, o grupo de nome inspirado no romance de Harper Lee vê no debate e no confronto de perspetivas uma possibilidade de “educar quem não está tão dentro do tema e quer ser educado e inteirar-se mais um pouco sobre todos os aspetos que envolvem o feminismo”, diz Carolina Saleiro, também do Coletivo, ao JPN.

O objetivo do clube passa, assim, por criar “um espaço de partilha” e colmatar a lacuna de sessões onde seja possível refletir sobre a causa ao redor de um livro. A integração de não estudantes permite abranger na atividade uma maior diversidade de pessoas e Carolina afirma que atualmente “o público tem aderido bastante”. “Temos pessoas de todas as idades, tanto de 19 como na casa dos 40, por isso, acho que a adesão tem sido maior do que aquilo que nós estávamos à espera”, sublinha.

Inicialmente aliavam a literatura ao cinema, mas este ano “As Cotovias” alteraram o rumo e focam-se apenas na leitura. Quase dois anos depois da última atividade, a ideia agora de “ressuscitar o clube de leitura” surgiu no seguimento da criação de “uma biblioteca feminista” onde o grupo põe “à disposição de toda a gente, obras e trabalhos da autoria de mulheres”, informa Carolina. Desde manifestos teóricos a literatura de ficção e poesia, o Coletivo Feminista de Letras põe à disposição da comunidade um repositório completo de livros, incentivando à leitura prévia das obras.

As inscrições para o clube de leitura do Coletivo Feminista de Letras estão abertas a todos.

Este ano lançam-se num “voo tardio” por escritos sobre o feminismo anticapitalista, explorando a obra “Feminismo e Marxismo”, também de Cinzia Arruzza, filósofa e ativista.  A próxima sessão contará com a presença da investigadora Ana Sofia Roque, autora do prefácio da obra a debater, e decorre no sábado, 27 de fevereiro, às 17h00, através da plataforma zoom. O evento é gratuito após inscrição e o grupo partilha o livro na sua biblioteca online.

Artigo editado por Filipa Silva