Na manhã de sexta-feira, o centro de vacinação montado no Pavilhão Multiusos de Gondomar encheu-se com 260 uniformes de forças de segurança e bombeiros que, de forma faseada, receberam a primeira dose da vacina contra a COVID-19.
Com oito anos de carreira nos Bombeiros Voluntários da Areosa-Rio Tinto, Catarina Fernandes foi a primeira pessoa da corporação a ser vacinada contra a Covid-19 ao fim da manhã de sexta-feira (19), no Pavilhão Multiusos de Gondomar.
Já no recobro – onde os utentes esperam 30 minutos para o acompanhamento de possíveis efeitos secundários -, afirma não ter qualquer tipo de apreensão em relação à eficácia da vacina que acabou de tomar: “acho que devemos confiar, porque quem a faz sabe o que está a fazer. [As vacinas] não iam ser administradas se tivessem algum tipo de problemas”.
“É importante que nos vacinem, porque temos de continuar cá para ajudar as pessoas. Se estivermos contagiados, não o podemos fazer”, comenta.
Sílvio Cerqueira, também bombeiro voluntário da Areosa-Rio Tinto, faz destas palavras as suas, ao destacar que a vacina contra a Covid-19 “é uma mais-valia”, da qual estavam “à espera há muito tempo” – um tempo de espera que corre o risco de aumentar para os restantes profissionais que ainda não foram inoculados e cuja prioridade foi reduzida.
Antes de Catarina, já cerca de 180 efetivos das forças de segurança (PSP e GNR) tinham sido inoculados durante a manhã e, depois dela, foi a vez dos restantes elementos de um segundo grupo de 80 bombeiros locais. O primeiro grupo, constituído por 90 bombeiros, tinha sido vacinado na semana anterior.
Um circuito em três partes
Ao longo da manhã, foram administradas duas vacinas: os bombeiros foram inoculados com a da Pfizer, enquanto que as forças de segurança tomaram a da AstraZeneca.
As duas são semelhantes, sendo que “a grande diferença” reside na sua preparação – que não permite qualquer margem de erro, sob o risco de se comprometer a dosagem e a eficácia.
“A vacina da Pfizer tem de ser diluída e agitada” e a da AstraZeneca “já tem o preparado pronto para a vacina” e “é só seringar”, esclarece Patrícia Pereira. Na opinião da enfermeira, que está a trabalhar com a vacina da AstraZeneca pela primeira vez, esta “é mais fácil” de preparar.
A conservação das duas vacinas é, por seu turno, muito semelhante. O armazenamento e transporte são feitos em rede de frio e, à chegada, são colocadas no frigorífico, para que se mantenham a uma temperatura entre os dois e os oito graus negativos.
No centro de vacinação montado no Pavilhão Multiusos de Gondomar, a administração das vacinas funciona como um circuito. À chegada, todos os utentes respondem a um questionário composto por “perguntas básicas” relativamente aos seus “antecedentes”, segundo explica o médico Luís Salgueiro. Quem tem alergia a algum componente da vacina não a toma e, caso esta seja a da AstraZeneca, ser maior de 65 anos também se torna numa contra-indicação.
Além disso, qualquer pessoa que tenha sido diagnosticada com Covid-19 ou tenha tido algum contacto de risco também não é vacinada nesta fase, por estar, possivelmente, imune. “A assunção é que, se já tiveram contacto, devem ter algum tipo de imunidade e, portanto, nesta fase, não têm indicação para vacinação. Eventualmente, serão vacinados, mas não será nesta fase prioritária”, afirma Luís Salgueiro.
Após a resposta ao questionário, os profissionais da linha da frente passam para uma das quatro mesas de vacinação disponíveis para serem inoculados. Segue-se um recobro de 30 minutos, onde, sentados de forma distanciada, todos aqueles que receberam a vacina são vigiados por profissionais de saúde, para serem assistidos no caso de algum efeito secundário – algo que não aconteceu durante todo o processo. “Estão todos ótimos!”, garantiu a enfermeira Rita Cendão, presente nesta fase.
Entre a PSP, GNR e os bombeiros locais, o Pavilhão Multiusos de Gondomar encheu-se de uniformes por três vezes, para a concretização deste circuito que durou toda a manhã. Durante a tarde, foi retomada a vacinação das populações vulneráveis.
Mudança de planos
A verdade é que a mudança no plano de vacinação – ao colocar as pessoas com 80 ou mais anos ou de idade maior ou igual a 50 com doenças crónicas no topo das prioridades – dada a escassez de vacinas, veio mudar o cenário para os vários concelhos do país. Marco Martins, que passou a manhã no local, está seguro de que a mudança não provocará grandes efeitos em Gondomar.
“Essa medida – que, naturalmente, respeito, embora não a entenda – já não fará muito efeito aqui em Gondomar, onde a PSP, a GNR e grande parte dos bombeiros já ficarão hoje vacinados”, declara o autarca, acrescentando ainda que admite “que essa indicação seja geral para o país e não para os concelhos-piloto”.
Marco Martins afirma não haver qualquer atraso na chegada de vacinas ao concelho e que é esperada a vacinação de 480 pessoas por dia já esta semana. “O número 500, que era o objetivo e a capacidade instalada neste espaço, para a semana, vai ficar muito perto de atingido”, garante ao JPN.
Contudo, o adjunto de comando dos Bombeiros Voluntários de Valbom, onde 50% dos efetivos já estão vacinados, espera, agora, um atraso na inoculação dos restantes. Assim, Manuel Viana esclarece que foi dada, desde logo, a prioridade aos bombeiros presentes em grupos de risco e aos que fazem serviço operacional. E, nesse sentido, congratula a Câmara e o ACeS de Gondomar, “porque conseguiram vacinar um grande número de efetivos e que fazem serviço operacional”.
Independentemente da vacinação, as medidas de proteção continuam em vigor, não só para proteger os cidadãos, mas também os próprios profissionais que não foram vacinados e que, segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários de Areosa-Rio Tinto, “estão mais vulneráveis”. João Nunes ressalva que “a Câmara está a fazer um excelente trabalho” de organização, mas lamenta a escassez de vacinas. “Nós não temos pressa. Só queremos fazer o nosso trabalho”, conclui.
Artigo editado por Filipa Silva