O UV-Robot é fruto de mentes portuguesas e está a ser desenvolvido no CEiiA, em Matosinhos, pela startup Follow Inspiration. Purifica o ar, desinfeta superfícies e surge num contexto onde toda a ajuda é necessária para fazer frente à pandemia.

Nas palavras do líder e fundador da startup criadora do projeto, Luís Matos, estamos perante algo que ainda não tinha sido feito. O robô destaca-se pela capacidade de eliminar microrganismos que estão na origem de algumas doenças – como a Covid-19 – através de lâmpadas que emitem radiação ultra-violeta (UV). “Queríamos fazer uma coisa diferente, e acho que o conseguimos fazer. O nosso robô, quando realiza a tarefa de desinfeção de ar, consegue andar no meio de pessoas. É o único robô, provavelmente, no mundo, que tem esta característica e que consegue desinfetar tendo pessoas no seu redor”, afirmou o responsável ao JPN.

Luís Matos salienta a importância desta particularidade que, a seu ver, marca “a grande diferença para os demais”: a propagação do vírus acontece, tipicamente, através das excreções e das gotículas que circulam no ar. Assim sendo, se for possível “purificar logo nessa primeira fase, a probabilidade de não haver mais contágios e das superfícies não ficarem contaminadas é maior.”

Com cerca de 60 centímetros de diâmetro, entre 1,80 e 1,90 metros de altura e um peso que pode variar entre os 80 e os 90 quilos, o instrumento não necessita de intervenção humana para realizar o seu trabalho, desempenhando as tarefas de desinfeção nos espaços que tenham sido previamente mapeados pelos sistemas.

Em entrevista ao JPN, Luís Matos referiu que a ideia surgiu da combinação entre a sua área profissional e a necessidade de combater a problemática atual: “a ideia do UV-Robot surgiu durante a pandemia e sendo a Follow Inpiration uma empresa de robótica com produção própria, tentamos perceber de que forma é que as nossas skills podiam ajudar no combate à pandemia”.

Não obstante, o especialista salienta que o que está a ser desenvolvido “não é apenas um robô para o Covid”. O objetivo é que o equipamento seja utilizado noutro tipo de espaços para além das unidades hospitalares: “[o robô] não foi pensado apenas para os hospitais (…) as preocupações com os espaços em que as pessoas circulam e interagem vão continuar, mesmo depois de eliminar este vírus, e achamos que é um equipamento que pode ajudar na preparação destes espaços para receber melhor as pessoas, para que as pessoas se sintam mais seguras neles”.

No pico da pandemia surge, então, o UV-Robot, que além de eliminar a presença do vírus, fá-lo numa cobertura de 360 graus. A existência de sensores deteta objetos e movimentos e a presença de pessoas é captada através de uma câmara. A sua circulação pode ser feita de forma isolada, ligando automaticamente as luzes UV-C, ou entre pessoas, desligando-as. Basta a entrada de uma pessoa num espaço que o robô esteja a desinfetar que as luzes são imediata e automaticamente desligadas, de forma a “não haver nenhum problema de saúde”.


O Hospital de Santo António, no Porto, é parceiro do projeto e tem sido, desde janeiro, o palco dos testes do UV-Robot, que opera em modo “100% autónomo”. Os resultados são animadores: “Ainda não temos conclusões finais, temos resultados preliminares que dão boas indicações.” Luís Matos explica que os testes feitos às salas são feitos da seguinte forma: “primeiro sem o robô de ar, e vai para laboratório para ser testado e para contabilizar quantos germes é que tem. Depois colocamos lá o robô durante 5 minutos e retiramos amostra.” O mesmo acontece nas análises relativas à desinfeção de superfícies.

Analisando os resultados obtidos, Luís Matos refere que “há casos de salas em que as bactérias e os fungos que existiam no ar foram eliminados quase pela metade em apenas 5 minutos. Os indicadores são bons, são promissores”, garante. Apesar das experimentações positivas, Luís Matos admite que também existiram “alguns dados que contradiziam outros” e que, como forma de tornar o aparelho o mais eficaz possível, vai ser necessário validá-los e realizar mais testes.

O robô, que começou a ser pensado no início da pandemia em Portugal e que é de produção 100% nacional, tem um software que permite definir tarefas e rotinas e, quando em modo automático, estas são desempenhadas na ordem que o instrumento determinar. Sem paragens, o mesmo pode estar em ação entre 6 a 10 horas, e a autonomia das baterias garante uma velocidade máxima de 1,5 metros por segundo, consoante os cenários. A duração do período de desinfeção de um espaço varia de acordo com a existência – ou não – de mobiliário ou objetos. Mas, em média, Luís Matos avança que o robô demora cinco minutos a desinfetar uma sala de 20/30 metros quadrados.

Ainda numa fase de testes e aperfeiçoamento, o responsável pelo UV-Robot afirma que a empresa tem “capacidade para em três meses conseguir implementar o produto em escala. Basta haver uma compra”, explica o responsável. Depois de realizados todos os testes necessários e estando o equipamento no mercado, o “objetivo é escalar, para o Santo António e para os demais”, bem como para o mercado internacional.

No que diz respeito ao preço, Luís Matos refere que “não está estabelecido”, uma vez que “depende das características do local onde vai ser aplicado – se o robô vai ter de ser modificado ou não – bem como se o mesmo vai ser alugado ou comprado”.

Artigo editado por Filipa Silva