Tiger Woods teve um acidente de carro esta terça-feira, perto de Los Angeles, Califórnia. O golfista sofreu múltiplas lesões “graves” na perna direita.

A família do atleta lançou um comunicado a falar sobre a sua condição atual. Neste momento, encontra-se em recuperação de operações efetuadas à perna e tornozelo.

Tiger Woods encontra-se “acordado, responsivo e a recuperar” no hospital onde foi assistido. Começa agora um processo de reabilitação que coloca questões sobre a continuidade da sua carreira.

Se há algo a que Eldrick Tont “Tiger” Woods está habituado na última década é adversidade. O melhor golfista da sua geração, e um dos melhores de sempre, parecia uma força imbatível dentro do desporto até chegar 2009. Desde aí, uma série de problemas pessoais e físicos têm abrandado a sua carreira.

Foi o pai que o introduziu à modalidade e Tiger era já inseparável dos seus tacos com um ano e pouco. Aos dois, apareceu na televisão norte-americana para mostrar as suas habilidades, pouco habituais  nessa idade.

Ao longo da sua infância, foi arrecadando títulos juvenis, competindo sempre contra crianças mais velhas e, na grande parte das ocasiões, derrotando-as com alguma facilidade. Na adolescência, ganhou praticamente todas as mais importantes competições amadoras.

O seu nome era já altamente conhecido dentro do mundo do golfe norte-americano e foi desejado por praticamente todas as universidades de nome ao chegar aos 18 anos. Escolheu a Universidade de Stanford, tendo feito a sua inscrição em 1994. Participou no seu primeiro major em 1995, ainda enquanto amador, competindo no icónico campo de Augusta, no Masters Tournament.

Quando se profissionalizou, em 1996, assinou de imediato contratos com a Nike e Titleist, uma das principais marcas de material de golfe, contratos esses considerados na altura como os mais lucrativos na história do golfe, mesmo sem qualquer participação profissional.

Ao entrar no PGA Tour, principal competição tanto a nível norte-americano como a nível mundial, começou a mostrar indícios de tudo o que estava para chegar na sua carreira. O seu swing, que fazia parecer fácil, entusiasmava os adeptos da modalidade, a sua potência revolucionava o desporto e o seu carisma tornou-o, rapidamente, no jogador mais seguido do Tour.

Na primeira época, em que apenas começou em agosto, ganhou dois torneios na principal competição dos Estados Unidos da América, e foi nomeado o Rookie do Ano.

Em abril de 1997 fez história. Ganhou o seu primeiro major, o Masters, por umas destacadas 12 pancadas e tornou-se no mais jovem vencedor do torneio, com apenas 21 anos. Dois meses depois, quebrou mais um recorde ao chegar à posição de número 1 mundial num período de tempo nunca antes feito.

Depois de não ter estado no topo da sua forma em 1998, voltou a chocar o mundo do golfe em 1999, com nove vitórias no circuito, incluindo o seu segundo major, o PGA Championship. Em 2000, fez, provavelmente, a sua melhor época.

Acabou com nove vitórias, seis delas seguidas, em mais um recorde, e ganhou ainda três majors. O domínio não abrandou nos dois anos seguintes, arrecadando dez vitórias, incluindo mais três conquistas nos principais torneios.

Passou pela pior fase da carreira até à altura, em 2003 e 2004, com “apenas” seis vitórias e nenhuma nos majors. Ainda assim, voltou à carga em 2005 com seis torneios conquistados, com nova conquista do Masters Tournament. Nesse ano, realizou uma das pancadas mais memoráveis da sua longa carreira.

Entre 2005 e 2008, não mostrou sinais de abrandar, sempre com o objetivo em mente de quebrar o recorde de 18 majors conquistados por Jack Nicklaus. Mas foi neste último ano que os problemas físicos começaram a aparecer. A velocidade que Tiger conseguia no seu swing sempre foi uma das suas grandes vantagens, contudo, em 2008, começou a sentir problemas no seu joelho.

O golfista demonstrou uma resiliência fora do comum. Depois de uma cirurgia ao joelho, ganhou o US Open de 2008 em claras dificuldades. Na altura, foi dito por um colega do circuito que “ele ganhou-nos a todos só com uma perna”. Tiger confessou que a sua lesão tinha piorado ao longo do torneio e que ia necessitar de mais uma operação. O próprio descreveu na altura a conquista como sendo o seu “melhor torneio de sempre”.

Voltou em 2009 como se nada fosse, com mais seis vitórias no Tour. Ainda assim, não conseguiu aumentar o seu número de majors, 14 à data. No final desse ano, surgiram todos os problemas pessoais de Tiger. Foi acusado de trair repetidamente a sua esposa, e acabou por admitir que as alegações eram verdadeiras. Pediu desculpa publicamente e disse que ia “fazer uma pausa” na sua atividade profissional.

Depois da polémica, e apesar de alguns bons resultados em 2012 e 2013, nunca mais pareceu o mesmo. Começou também a sofrer de muitos problemas nas costas, e foi obrigado a várias operações cirúrgicas. Teve que desistir de muitos torneios a meio, com claras dificuldades, e falhou muitos torneios importantes. Entre 2016 e 2017 participou apenas numa prova, e não a conseguiu terminar.

Atingiu o ponto mais baixo na vida e carreira ao ser detido, em 2017, quando esteve envolvido num acidente de carro. Depois de suspeitas de estar embriagado, foi confirmado que estava sob o efeito de fortes analgésicos para as dores. Woods admitou que tinha um problema de dependência de medicamentos.

Mas como sempre, Tiger voltou a dar a volta por cima. Fez o seu regresso em 2018, e conseguiu mostrar algum do seu melhor golfe. Apenas uma vitória, mas com sete resultados no top-10, incluindo um segundo lugar no PGA Championship, o seu melhor resultado num major desde 2009.

Este recuperar de forma culminou num dos momentos mais importantes da sua carreira – a vitória no Masters de Augusta de 2019. Foi uma semana muito especial para Tiger, no seu torneio de eleição, 11 anos depois da anterior conquista de um major, e na primeira vez sem o seu pai. Ao contrário de 1997, quando Woods saiu do green do buraco 18 para dar um abraço ao pai, em 2019 foi ter com o seu filho para um momento que ficou para a história.

Acabou por ser obrigado a mais uma intervenção cirúrgica em 2019, e o ano de 2020 foi, como não podia deixar de ser, altamente condicionado pela pandemia mundial. Em dezembro do ano passado, foi novamente à mesa de operações, para remover um fragmento de um disco pressurizado. O objetivo era recuperar a tempo de conseguir competir em 2021, sempre com o mesmo objetivo: ganhar majors e aproximar-se do recorde de Jack Nicklaus.

É, sem dúvida alguma, o atleta mais importante da história do golfe. Revolucionou a forma de jogar e o aspeto físico do desporto e tornou-se muito rapidamente na figura mais icónica do desporto. Mesmo fora do campo, é uma inspiração para jovens afro-americanos, tornando-se num dos melhores de sempre num desporto muitas vezes considerado elitista e muito direcionado para os homens brancos.

Mesmo que acabe por não voltar a competir, o legado que deixa para trás é inigualável e será para sempre um ídolo para gerações passadas e futuras.

Artigo editado por Filipa Silva