Alfredo Quintana encontra-se na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João numa luta pela vida, depois de uma paragem cardiorrespiratória. Após o jogo de domingo frente ao Águas Santas (um jogo onde Quintana brilhou com 14 defesas em 37 remates), o FC Porto preparava a viagem de terça-feira até à Bielorrúsia, onde jogava contra o Meshkov Brest  para a Liga dos Campeões de Andebol, com um treino na segunda-feira.

Segundo o que jornal O Jogo apurou, a equipa de andebol do FC Porto aproveitou um intervalo de meia hora no Dragão Arena, antes do treino de hóquei em patins, para se divertirem com um jogo de futebol. Quando a bola voou para a bancada e enquanto conversava com preparador físico Tiago Cadete, o jogador luso-cubano caiu inanimado. Foram 45 minutos em paragem cardiorrespiratória e só depois de ser transportado para o Hospital de S.João é que conseguiu ser reanimado.

Uma TAC detetou um edema cerebral, consequência da longa paragem cardíaca e só depois é que se poderá saber se existem mazelas cerebrais no internacional português. Na newsletter Dragões Diário, publicada na quarta-feira, o FC Porto afirmava que “Alfredo Quintana continua internado com prognóstico reservado no Hospital de São João”.

Onda de solidariedade

Ao longo das últimas 72 horas, todo o mundo do andebol se uniu em prol de Alfredo Quintana. As mensagens de apoio vieram um pouco por todo o lado, desde companheiros até rivais, numa luta onde não há inimigos, mas sim colegas de profissão e admiradores do atleta, do seu contributo para a modalidade e para o país. Exemplos claros desta admiração vieram, esta terça-feira, de clubes historicamente rivais do FC Porto: Sporting CP e SL Benfica.

No duelo contra o Kristianstad para a Liga Europeia, os jogadores do Sporting entraram com uma t-shirt onde se vislumbrava o nome de Quintana e o “seu” número 1. Horas mais tarde, a equipa de andebol do Benfica jogou frente ao Póvoa AC, num encontro a contar para o Campeonato Nacional de Andebol, e trocou o nome de todas as camisolas dos seus atletas por um só nome: Quintana.

Esta “onda” de apoio também surgiu um pouco por todo o mundo, com declarações de Xavi Pascual, treinador de andebol do Barcelona que, em conferência de imprensa, disse que “gostaria de enviar um forte abraço ao Alfredo Quintana. Espero que recupere o mais rápido possível depois do choque que foi para ele, evidentemente, para a família, para o FC Porto e para o mundo do andebol”.

Dentro da “família portista”, Sérgio Conceição, treinador de futebol do FC Porto, recorreu ao Twitter para enaltecer o “Homem de família, um atleta e um grande desportista português“, terminando a dizer “estamos todos contigo”.

O clube já agradeceu o apoio de “todas as pessoas e entidades”, enaltecendo todos os “que se têm solidarizado com a situação” de Alberto Quintana.

De Havana para o Porto

Alfredo Eduardo Quintana Bravo nasceu em Havana, Cuba, a 20 de março de 1988. Durante a infância, o basquetebol e o basebol eram os seus desportos de eleição, muito fruto da sua elevada estatura (2,03m). Com o passar dos anos, o gosto pelo andebol foi-se desenvolvendo e a sua cidade natal, Havana, foi o palco do crescimento como “pessoa e como jogador“.

Chegou a Portugal em 2010, aos 22 anos de idade, para representar o Futebol Clube do Porto, numa aposta única no mercado cubano por parte do ex-treinador e diretor desportivo do FC Porto José Magalhães. Desta forma, Quintana tornou-se no primeiro jogador cubano a atuar no campeonato português.

O clube da Invicta vinha de dois títulos consecutivos e nas cinco primeiras temporadas do guarda-redes cubano em Portugal, a equipa portista tornou-se heptacampeã, um feito histórico para a modalidade, em Portugal, e para o clube. Nos restantes cinco anos, conquistou mais quatro provas nacionais pelos “azuis e brancos”: um campeonato (2018/19), uma Taça de Portugal (2018/19) e duas Supertaças (2014 e 2019).

Com Hugo Laurentino, o FC Porto tinha ao seu dispor uma das melhores duplas de guarda-redes da Europa. Numa entrevista ao jornal O Jogo do ano passado, Alfredo Quintana enalteceu a importância do colega na sua carreira, afirmando que nunca teve “um apoio tão forte de um colega“.

O “Polvo Português”

Naturalizou-se português e em 2014 foi pela primeira vez convocado para representar a seleção das Quinas, tornando-se assim no quarto jogador naturalizado a jogar por Portugal (Viktor Tchikoulaev, Vladimir Bolotskih e Vojislav Kraljic). Apesar de ter representado Cuba em competições internacionais (Mundial 2009), as regras da Federação Internacional de Andebol (IHF) permitem que “um jogador atue por outra seleção desde que esteja três anos sem jogar pelo seu país“.

Esta convocatória, levada a cabo pelo até então selecionador nacional Rolando Freitas, causou alguma controvérsia no universo andebolístico, visto que Portugal tinha muitas opções para ocupar a posição de guarda-redes (Humberto Gomes, Hugo Laurentino, entre outros). Com o passar do tempo, o luso-cubano mostrou toda a sua qualidade e esteve presente nos melhores momentos internacionais da Seleção Nacional.

Rui Guimarães, jornalista de O Jogo, diz que “a envergadura do atleta“, “a sua agilidade brutal” e o seu “trabalho” foram as chaves para o sucesso do guarda-redes luso-cubano. “Não tenho dúvida nenhuma que (o Quintana) foi fundamental para o crescimento do andebol português”.

No Europeu de Andebol de 2020 fez um total de 84 defesas, com 31% de eficácia e recebeu uma alcunha da European Handball Federation (EHF): “O Polvo Português”. Nomeado para melhor guarda-redes do Europeu, Quintana foi uma peça fundamental para a seleção portuguesa, que alcançou o sexto lugar, melhor classificação de sempre para Portugal, garantindo presença no Torneio de Qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Foto: Federação Portuguesa de Andebol Foto: Federação Portuguesa de Andebol

Já em 2021, no Mundial de Andebol, realizado no Egito, Portugal voltou a superar todas as expectativas e terminou no décimo lugar, o melhor resultado da história da seleção nacional nesta prova.  Alfredo Quintana voltou a ser figura de destaque, especialmente no duelo da fase de grupos com a poderosa Islândia, jogo em que Portugal venceu por 25-23 e o guarda-redes luso-cubano brilhou com dez defesas, numa vitória histórica para a equipa das quinas.

Agora, Quintana procura a maior defesa da sua vida, numa batalha que é difícil, mas como disse o próprio, em 2020: “Tenho lutado desde que era criança. Não sou um sobrevivente. Sou um guerreiro extraordinário.

Artigo editado por Filipa Silva