A Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) suspendeu o docente Pedro Cosme Vieira pelo período de 90 dias, na sequência de uma participação escrita por alunos da Licenciatura de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia (da qual o JPN faz parte). O professor, que lecionava Introdução à Economia, no curso da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), é acusado de ataques racistas e xenófobos, dirigidos a pessoas de cor e a ciganos”. A notícia foi avançada esta quarta-feira à noite pelo jornal “Público”. A decisão foi tomada a 28 de janeiro, tendo a suspensão entrado em vigor a 15 de fevereiro.

O documento, a que o JPN teve acesso, e que foi assinado por mais de 120 alunos, denuncia o comportamento do docente por considerarem que algumas atitudes e comentários violam o código de conduta da universidade. A participação entregue à direção da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e à Comissão de Ética desta faculdade expõe intervenções do docente que, na opinião dos signatários, “incitam o ódio e constituem crimes de assédio e discriminação.

Os alunos acusam ainda o professor de “realizar vários atentados à cidadania” e que estas atitudes “não devem passar impunes”, desprestigiando “o bom nome da universidade”. No documento, pode ainda ler-se alguns dos exemplos das citações polémicas do professor como: “Os homens casam-se porque não querem comer sandes” e “Sabem o que é uma caçadeira? Aquela arma que os homens usam para matar as mulheres”.

Um “ambiente tóxico e discriminatório” gerou uma onda de revolta que culminou na desistência de vários alunos de assistirem às aulas.

Vasco Ribeiro, professor e diretor do curso de Ciências da Comunicação, considera que este processo, ainda “em averiguações”, o “envergonha”, a ele e “a qualquer colega, com um pingo de humanismo e responsabilidade”. Em declarações ao JPN, acrescentou ainda que tomou uma posição como diretor e “tomá-la-ia da mesma forma como docente”.

O professor de Relações Públicas enaltece a “coragem dos estudantes” e sublinha que a comissão de acompanhamento foi mera  intermediária “na rápida resolução por parte da direção da Faculdade de Letras e da Faculdade de Economia.”

FEP aguarda conclusão do processo

A Faculdade de Economia da Universidade do Porto confirmou ao JPN que “instaurou um processo disciplinar ao professor” após ter recebido uma participação “sobre a conduta do referido docente em contexto de aula”.

As diligências instrutórias ainda estão em curso “pelo que se aguarda o seu desfecho para determinar a possível aplicação de sanção disciplinar”, como se lê no comunicado.

“Perante alegações que, a serem confirmadas, se revestem de particular gravidade”, a FEP desencadeou um processo disciplinar, mas não quis prestar mais declarações “até à conclusão” do processo.

A instituição relembra também que a universidade “pauta a sua atuação por elevados padrões éticos, humanos e sociais, incluindo o respeito pela dignidade individual, a valorização da diversidade e da inclusão, a aceitação da diferença, mas também o direito de defesa dos seus trabalhadores.”

Alunos surpreendidos com a “velocidade com que a FEP agiu”

Um dos alunos signatários, que pediu para não ser identificado, enalteceu o tempo da decisão da suspensão que demorou “menos de uma semana”. Informou ainda que esta foi “uma pequena vitória”  e que espera ver “se a nossa democracia resulta em justiça verdadeira”.

Deste processo disciplinar, o aluno espera que resulte a demissão do docente.

O processo instaurado ao docente não foi o primeiro. Já em 2015 o mesmo foi alvo de uma suspensão de 30 dias, quando teceu comentários nas aulas como: “Para aumentar o número de contribuintes, é preciso desviar os barcos com a pretalhada que atravessam o Mediterrâneo para o Algarve” e considerou que a solução para “diminuir o número de pensionistas é matá-las”.

O JPN tentou, esta manhã, contactar por e-mail o docente, sem sucesso até à hora de fecho deste artigo.

Artigo editado por Filipa Silva

Nota da redação: por lapso, na primeira versão da notícia, não mencionámos que o JPN é um projeto da Licenciatura em Ciências da Comunicação e que a notícia em causa foi avançada na véspera pelo jornal “Público”. Os dados em nada interferiram com a informação veiculada – que, como sempre, tentamos verificar recorrendo a fontes próprias -, mas deviam ter estado no texto. Pelo lapso, pedimos desculpa.