O encontro entre o Manchester City FC e o Borussia Mönchengladbach desta terça-feira para a Liga dos Campeões acabou por apenas ter uma direção. Não se perspetivava um jogo fácil, mas a verdade é que os Cityzens fizeram parecer que sim e ganharam por 2-0. Não tanto por demérito da equipa de Marco Rose, que tem princípios de jogo interessantes, mas sim pela força dominante que os ingleses mostraram.

Desde que perdeu face ao Tottenham Hotspur, a 21 de novembro, que o City está, literalmente, imbatível. Numa altura em que o próprio Pep Guardiola admitou estar a afastar da sua própria ideia de jogo, o treinador espanhol fez algumas alterações à forma como a equipa estava a jogar e os resultados têm sido impressionantes.

Uma componente muito importante dessa mudança passou pelo regresso de Bernardo Silva ao meio-campo, visto que andava a atuar várias vezes como extremo, e consequentemente à melhor forma, e a constante evolução de João Cancelo. A forma de Bernardo já não é surpreendente, simplesmente estamos a vê-lo novamente ao nível da época de 2018/2019, quando Guardiola afirmou que este era o melhor jogador da equipa.

Mas o caso de João Cancelo é muito diferente. Apesar de já vir a mostrar muita qualidade há algum tempo, tem tido algumas dificuldades em afirmar-se num clube de topo. Teve sucesso ao serviço do FC Inter, mas não conseguiu mostrar essa forma na Juventus FC. E foi apenas agora, na segunda época ao serviço dos Cityzens, que tem mostrado todo o seu potencial.

Sempre foi visto como um lateral muito atacante, sempre a jogar colado à linha a tentar ganhar a profundidade e efetuar cruzamentos e passes para a área. Mas não é isso que Pep pede aos seus alas. Com os extremos sempre abertos, Guardiola posiciona os laterais como médios-interiores, fazendo subir os criativos para o último terço. Não foi algo imediato, mas Cancelo está já completamente habituado a essa função, e a fazê-la como ninguém.

Neste encontro frente ao ‘Gladbach, a importância do papel de Cancelo, a povoar mais a zona central do campo enquanto que atraía a pressão adversário, libertando o flanco para o extremo partir no 1×1 contra o lateral contrário, foi fundamental. Mas o português, para além deste papel mais tático, tem depois a capacidade de drible para causar ele próprio problemas ao oponente.

E foi precisamente isso que vimos várias vezes no encontro. Progressão com bola, sempre com muito critério, e boas decisões. Aliás, ambos golos nascem de passes de rotura por parte de João Cancelo, direcionados para desmarcações de Bernardo Silva no chamado half space na direita, entre central e lateral esquerdo da equipa alemã.

No primeiro golo, o cruzamento de Cancelo encontra a cabeça de Bernardo Silva numa zona em que este podia atacar a baliza diretamente, e foi isso mesmo que o médio fez. Estava feito o 1-0 aos 29’. O City continuou a controlar, e aos 65’ surgiu nova jogada tirada quase a papel químico. Novo cruzamento de Cancelo a partir do espaço entre o meio e a esquerda para rotura de Bernardo. Mas neste segundo golo, Bernardo não tinha o melhor ângulo para encostar para a baliza, e então cabeceia de volta para o meio, onde Gabriel Jesus ataca e finaliza.

E no momento defensivo, os portugueses tiveram muito destaque também. Bernardo Silva continuou a mostrar a sua surpreendente veia de pressão intensa, com uma resistência que o permite perseguir os adversários durante todos os 90 minutos de jogo. Já o posicionamento de Cancelo, mais dentro no campo, permite à equipa estar mais junta quando perde a bola, e facilita o trabalho de recuperação que Guardiola tanto insiste.

Cancelo e Bernardo foram os dois destaques de uma exibição irrepreensível, e mostram que são dois dos melhores jogadores portugueses da atualidade. O médio é titular já há algum tempo, ainda que na posição de extremo-direito e não no meio-campo onde se tem destacado, mas Cancelo parece estar a resolver o “problema” da posição de lateral-direito da Seleção Nacional. Claro, o único problema existente é o de muita qualidade na posição, com Semedo e Ricardo Pereira também eles opções muito válidas.

Neste momento, será muito difícil para Fernando Santos ignorar a época que Cancelo tem realizado, especialmente tendo em conta que nenhum dos outros dois nomes tem ganho grande destaque nas suas equipas. O Wolves de Semedo está a fazer uma temporada abaixo das expetativas, e Ricardo tem sofrido várias lesões que o tem impossibilitado de assumir a 100% a titularidade do Leicester City FC.

 

De qualquer das formas, será uma questão que o selecionador certamente gostará de resolver, e o otimismo em relação à qualidade de opções que este dispõe estará também em alta. Há neste momento muita qualidade na Seleção Nacional, e vários jogadores em topo de forma – com Cancelo e Bernardo à cabeça.

Artigo editado por Filipa Silva