Foi em 1960 que o Bairro da Pasteleira marcou o seu nome na cidade do Porto. Volvidos sessenta anos, os 27 blocos habitacionais estão, agora, a ser reabilitados. Num projeto que já deu muito que falar, a conversa entre moradores e responsáveis pela obra é mais próxima agora.

A obra de reabilitação do Bairro da Pasteleira, no Porto, começou no ano passado e já tem um bloco concluído. O bloco 1, o maior do bairro, já sofreu as alterações previstas no plano e é agora o exemplo do que os outros 26 blocos vão também ser, brevemente. A melhoria das condições de salubridade, a segurança contra incêndios e ainda a correção de erros anteriores são alguns dos objetivos da requalificação avaliada em 11,3 milhões de euroes (ver caixa).  

O lote 1, no Bairro da Pasteleira, é o exemplo do projeto de reabilitação Foto: Rita Magalhães

Bloco 16, afinal, não foi esquecido

Aquando da apresentação do projeto por parte da Câmara, alguns residentes levantaram questões. Em causa, estava o facto de o bloco 16, caracterizado pelos moradores como um edifício “em perigo há mais de 10 anos”, não estar incluído nesta fase. As preocupações culminaram numa contestação pública, a 11 de fevereiro, que contou com a presença da vereadora da CDU, Ilda Figueiredo. 

Uma semana depois, durante a reunião do executivo, o presidente da Câmara, Rui Moreira, explicou que todos os blocos estão incluídos na obra, em especial o 16, que vai sofrer uma “melhoria significativa”. 

Atualmente, o bloco encontra-se em avançado estado de degradação. Uma das maiores preocupações dos habitantes são as escadarias do bloco. As escadas estão reforçadas com estruturas de metal, uma vez que o estado de danificação é tão avançado que representa um perigo. 

Inserido no plano de melhoria, o bloco vai ter dois elevadores, um para cada entrada.  O bloco 16 é o maior, em termos de altura. Apresenta quatro andares e aloja mais de 30 famílias. Devido a ser constituído por mais um andar do que os restantes blocos, o projeto é obrigado, por lei, a englobar os elevadores. Deste modo, é “um meio suave de acesso ao prédio mais alto da Pasteleira e a mais de 100 frações”, explicou o presidente da Câmara do Porto na reunião.

Obra faseada, dividida em quatro lotes:

  • Lote 1: engloba unicamente o bloco 1 e já foi concluído; Empreitada estimada em 800 mil euros.
  • Lotes 2 e 3: engloba os blocos de 2 a 15 e 17 a 22 e prevê-se que estejam concluídos em outubro de 2022; Orçamento previsto de 3,5 milhões de euros.
  • Lote 4: os blocos 16, 23 a 27 encontram-se, de momento, a concurso público para contratação da obra que começará em maio de 2021. Prevê-se que termine em dezembro de 2022; Valor estimado de 3.550 milhões de euros – o mais caro dos quatro.

Em conversa com o JPN, numa visita ao bairro, Joana Ferreira, presidente da Assembleia Geral da Associação de Moradores do Bairro Antigo da Pasteleira (AMBAP), confirma as afirmações do autarca: “É uma coisa mais elaborada, e por isso é que demorou mais a saber o que se ia fazer. As pessoas até saberem disso estavam, claro, todas nervosas”. Agora, assegura que todos estão por dentro do assunto e confiantes nas obras. “Futuramente, não iniciam obras em nenhum bloco sem nos chamar [Associação de Moradores] e aos representantes de cada bloco. Isto para as pessoas ficarem esclarecidas”, afirmou.

O que vai acontecer ao Bairro da Pasteleira?

A passagem do tempo não passa despercebida. Os prédios, outrora amarelos, são agora de uma cor desbotada, adornada de buracos. O que moradores e dirigentes procuram é o mesmo que resultou da intervenção no bloco: “um espetáculo”,  como o descreve Jorge Vidal, presidente da AMBAP.

Joana Ferreira, presidente da assembleia e Jorge Vidal, presidente da Associação de Moradores do Bairro Antigo da Pasteleira Foto: Rita Magalhães

Desta forma, e consoante as deadlines já apresentadas, os blocos serão alvo de reabilitação, maioritariamente, no exterior. Em termos das fachadas, pretende-se reparar as fissuras existentes e, ainda, isolar melhor os edifícios com a utilização do sistema capoto. Todas as caixilharias de madeira serão trocadas por novas de alumínio e com vidro duplo. Vão ser instaladas, também, portas corta-fogo e novos estores

A intervenção vai passar, igualmente, pela reabilitação das coberturas. Os blocos 1-4, 7-9, 13, 14 e 25-27 vão ver os seus telhados remodelados com novas telhas e aplicação de uma subtelha. Nos restantes, a cobertura foi reabilitada entre 2014 e 2016 e, por isso, não vão sofrer nenhuma alteração. De modo a diminuir a quantidade de humidade nas casas, o plano contempla aplicação de isolamento térmico, nomeadamente Lã de Rocha sobre a laje do desvão da cobertura, espaço entre o telhado e o teto do último andar. 

A proposta de alteração dos moradores

Embora o plano de remodelação esteja a ser aceite pela maioria, alguns dos elementos do projeto para o bairro da Pasteleira não agradaram aos moradores. Em causa está, por exemplo, a substituição de entradas individuais das frações do rés do chão por corredores partilhados. Esta ideia desagrada aos moradores, uma vez que elimina a marquise, vulgarmente utilizada como uma divisão extra. “As pessoas mostraram o descontentamento por questões de insegurança. Porque têm receio, não estão habituadas”, esclarece Joana Ferreira. Numa primeira proposta por parte da associação dos moradores, a Proteção Civil avançou que não seria possível manter as entradas individuais devido à legislação existente. 

Os inquilinos criticam, também, as janelas originalmente escolhidas para o projeto. No plano, as janelas abrem para dentro de casa, tirando alguma área, o que, segundo os moradores, representa um perigo para as crianças. “Os moradores mais uma vez explicaram que o espaço já é curto, com as crianças a brincar, fica perigoso”, explica a presidente da Assembleia.

Maria Cerqueira, moradora no bloco 2, corrobora os pedidos avançados pela AMBAP. A habitante do rés do chão, em conversa com o JPN, explica que, segundo o plano, vai perder a entrada individual. “A vizinha tinha a privacidade dela e não tinha contacto nenhum comigo. Nem eu com ela. E agora vamos deixar de ter a nossa privacidade”, esclarece. 

Maria Cerqueira, moradora no bloco 2 do Bairro da Pasteleira Foto: Rita Magalhães

Entre as suas preocupações, está, também, a falta de segurança devido ao corredor comum. Para a residente, a perda da marquise é um dos maiores impactos, que obriga à reorganização dos eletrodomésticos em casa. Para além disso, afirma que as janelas são outro problema do projeto, porque “uma criança a brincar podem bater com a ‘cabecinha’ na janela”. 

As alterações solicitadas já foram propostas à Câmara Municipal do Porto. Por enquanto, e devido a estas solicitações, todas as obras estão paradas. A resposta deve chegar entre esta e a próxima semana. 

Sobre as obras, o presidente da Associação de Moradores, Jorge Vidal, conclui: “isto está a correr bem. Porque isto é um bairro social e as obras que estão a fazer é em benefício de toda a gente, quer queiram quer não”. 

A reabilitação está agora a ser realizada no bloco 2 e 3 Foto: Rita Magalhães

Apesar de as obras estarem, de momento, interrompidas devido aos pedidos de alteração, a reabilitação do Bairro da Pasteleira deve estar terminada até ao final do ano de 2022

Artigo editado por Filipa Silva