A Covid-19 afigurou-se como sinónimo de deterioração da qualidade e condição de vida para muitas pessoas, especialmente aquelas que já padeciam de algumas doenças e sobre as quais a escassez de comida se acentuou.
Perante este cenário de profundas dificuldades, José Dias, um assistente social de uma instituição do Governo do Canadá, não ficou indiferente e pôs mãos à obra. Sensibilizado pela crueldade de vivência a que muitas pessoas ficaram sujeitas, e tendo conhecimento de cada vez mais portugueses em situação precária, decidiu criar a iniciativa intitulada “Banco de Refeições- Comida deliciosa para os necessitados“.
Uma preciosa ajuda
Ciente do espírito de entreajuda da comunidade portuguesa, José Dias contactou prontamente algumas instituições de forma a verificar a exequibilidade do projeto, tendo recebido uma enorme aceitação, desde a primeira hora, por parte da Casa do Alentejo de Toronto. De portas fechadas desde março do ano transato, a associação fundada em 1984 por um grupo de alentejanos emigrantes naquele país da América do Norte, aceitou de bom grado dar o seu contributo, voltando ao ativo por uma causa maior.
Guiados pela vontade e pelo desejo de ajudar, preparam, semanalmente, quatro dezenas de refeições que incluem sopa, prato principal, sobremesa, pão e uma bebida. “Inicialmente a confeção das refeições era feita de quinze em quinze dias e somente para 25 famílias, mas a pandemia obrigou a que fosse realizada semanalmente”, realça Teresa Sousa, uma das dinamizadoras do Banco das Refeições.
A identificação das famílias é efetuada por José Dias, ao passo que cerca de uma dezena de voluntários asseguram a confeção da comida. Segundo a emigrante que chegou a Toronto em 1987, não servem unicamente um universo lusitano, distribuindo, igualmente, refeições para a população canadiana e para algumas instituições, nem todas em Toronto, algumas fora do perímetro urbano da grande cidade.
Parte fundamental de todo este processo são os donativos que a Casa do Alentejo do Toronto tem recebido e que possibilitam a concretização da iniciativa, acrescenta Teresa Sousa, que confessa estar agradecida por toda a onda de solidariedade demonstrada. “Quando nos comprometemos com este projeto, escrevemos uma carta e enviamos para empresas e particulares a pedir ajuda. Desde então, as pessoas têm aderido em massa. O donativo mínimo é de 300 euros, o que nos garante a feitura das 40 refeições”. As ofertas têm surgido das mais diversas formas, quer através de depósitos na conta da instituição, quer através de donativos de géneros alimentares.
Contudo, a atuação do “Banco de Refeições” não se restringe à distribuição de almoços. “Já demos 20 cabazes com géneros alimentares no Natal oferecidos pelas mulheres da nossa Casa e agora mais 10 oferecidos por um casal amigo da instituição“, afirma Teresa Sousa, enaltecendo o espírito de ajuda que habita em todos os voluntários do projeto.
Mais do que uma iniciativa, um motivo de felicidade
Além do seu imprescindível contributo para muitas pessoas, o “Banco das Refeições” significa muito mais do que uma mera iniciativa. “Significa uma oportunidade de rever um rosto amigo, de atenuar a solidão a que muitos idosos foram forçados com a imposição de confinamento“, gerando uma aura de positividade mesmo em tempos tão conturbados como os de hoje, admite Teresa Sousa.
O frio e a neve que inundam a cidade canadiana são facilmente ultrapassados com o calor e a alegria que transbordam do grupo de voluntários da Casa do Alentejo de Toronto a cada semana, conta a mulher que há 28 anos é sócia da Instituição, destacando o sentimento de gratidão que sente.
Projeções para o futuro
Teresa Sousa afirma que “gostaria de fazer mais, de ter a capacidade de abranger mais pessoas”, não tendo pretensões de terminar com a iniciativa. Deseja continuar “até não poder mais”, numa era em que há um número crescente de pessoas com necessidades de uma mão amiga.
Sobre o futuro, adianta algumas novidades: “Há um donativo do Governo canadiano que pode ir de cinco mil a 20 mil dólares se nos responsabilizarmos pela confeção de 100 refeições semanais”, em sinal de um claro sucesso e vitalidade por parte do “Banco das Refeições”, que promete continuar a encher barrigas e corações.
38º aniversário com contornos distintos
O Centro Comunitário da Casa do Alentejo de Toronto surgiu da necessidade de os Alentejanos residentes em Toronto terem um lugar que os aproximasse da sua terra Natal.
O sonho tornou-se realidade a 20 de fevereiro de 1983 e, desde então, tem-se destacado pelo seu papel dinâmico na promoção e preservação da cultura portuguesa na cidade de Toronto, contando com cerca de 350 sócios. Muitos foram os cantores, grupos corais, figuras do desporto, da cultura e da política, nascidos no Alentejo que já passaram pela instituição.
Este ano, os festejos do 38º aniversário foram bastante mais discretos e reservados, para tristeza dos seus membros.
É uma época marcada por incertezas para a instituição. Porém, um dado é certo: a Casa do Alentejo de Toronto e o seu projeto “Banco das Refeições” continuarão a afirmar-se como um aglutinador de sorrisos e da identidade portuguesa mesmo a um Oceano de distância.
Artigo editado por João Malheiro