Portugal está a perder competitividade dentro do contexto futebolístico europeu. Os dados que confirmam esse facto foram dados por Tiago Madureira, diretor executivo da Liga Portugal, no webinar Thinking Football”, desta quarta feira. 

Carlos Daniel foi o moderador do debate que se dividiu em duas partes. Na primeira, o painel abordou os desafios do futebol de formação. Nelo Vingada, Tomaz Morais, Renato Paiva e Nuno Gomes falaram das suas experiências enquanto treinadores e dirigentes ligados ao futebol mais jovem.  

O antigo internacional português Nuno Gomes referiu que as equipas B e sub-23 trouxeram um espaço competitivo importante “para o processo de crescimento e evolução dos jovens jogadores, opinião partilhada pelo treinador Nelo Vingada. 

A questão do número de equipas na Primeira Liga volta a ganhar destaque, com cada vez mais pessoas a queixarem-se da falta de competitividade e número excessivo de jogos – problema que afeta as equipas que se mantêm em provas extracampeonato durante mais tempo. 

Tomaz Morais, dirigente do Sporting, debruçou-se ainda sobre a cultura competitiva portuguesa – ou falta dela. Reitera a necessidade de formar bons cidadãos antes de bons futebolistas: É isso que procuramos aqui [no Sporting], a habilidade natural e a capacidade de ser diferenciador. Formar e ganhar são coisas diferentes. Ganhar mas com processos formativos“. 

Renato Paiva é ex-treinador de futebol jovem no Benfica e dirige atualmente a equipa sénior do Independiente del Valle, no Equador. Na sua opinião, os técnicos nacionais “quiseram ser um bocadinho de ‘José Mourinhos’ desta vida” e não conseguiram entender a diferença em treinar atletas de 10, 11, 12 anos e de 24, 25, 26. “Nesta fase os miúdos têm de errar e não serem amarrados à questão tática“, afirma. 

O contexto pandémico também não foi esquecidoFicou patente a preocupação pelos jogadores portugueses mais novos, embora Nelo Vingada tenha lembrado que todas as crianças do mundo que jogam futebol têm sentido estes problemas”. 

Na segunda sessão, também conduzida por Carlos Daniel, foi dedicada aos problemas específicos do futebol profissional português. Nomeadamente, o estado da arbitragem em Portugal: quais os fatores, principais consequências dentro e fora de campo e a comparação com as melhores ligas europeias. 

Nesta segunda conversa, antes da participação dos convidados, CEO da Liga de Clubes Tiago Madureira apresentou alguns gráficos respeitantes ao tempo de jogo efetivo, número de faltas e pressão extra-jogo por intervenientes direta e indiretamente ligados aos clubes, sobretudo ‘grandes’. 

Segundo a Liga, na temporada 2019/2020, Portugal esteve na cauda da Europa, apenas à frente da Grécia e da República Checa no tempo útil de jogo. No último ano e meio, a Liga portuguesa teve 59 jogos com mais de 40 faltas, número superior ao somatório das cinco principais ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha) que tinham 43 jogos no mesmo período. 

Foi ainda destacada a diferença em relação aos jogos domésticos e às partidas nas competições europeias, quer nas equipas portuguesas, que cometem menos faltas nas partidas europeias, quer nos árbitros portugueses, que apitam menos faltas nos jogos fora de Portugal. 

Duarte Gomes, antigo árbitro de futebol, não foge às críticas e reconhece que esta geração de árbitros é menos competente do que outras”. No entanto, não deixou de responsabilizar quem joga e é desleal e quem não joga e que tantas vezes pressionam o coletivo de juízes do jogo: Os jogadores têm de mudar a sua postura. Menos simulações, conflito e protesto fácil“.

Daniel Podence, jogador do Wolverhampton, deu um exemplo elucidativo da chegada do fenómeno à Liga Inglesa. “Os jogadores começam a gritar e a protestar mais, os árbitros ficam mais sensíveis e marcam mais faltas. Isso mata o jogo”, referir o ex-jogador do Sporting. 

Tiago Madureira realçou que a 23 de março haverá uma reunião da LPFP com os treinadores, onde o tempo útil de jogo será um dos temas abordados e destacou que para o organizador de jogo esta temática é importante para o negócio que é o futebol português. 

Artigo editado por João Malheiro