A mais prestigiada prova de clubes do mundo está a ser reformulada e uma das principais alterações será o fim da fase de grupos. A proposta surge por parte da UEFA e tem como objetivo aumentar a competitividade entre as ligas europeias e, ao mesmo tempo, fazer esquecer a proposta da Superliga Europeia. As novidades estão previstas para 2024 e estarão em vigor até 2033, segundo a espanhola Cadena Cope.

Por entre todas as inovações, há características da prova que vão permanecer tal como o público conhece: o acesso vai continuar a ser através das ligas domésticas, os jogos serão jogados durante a semana e não haverá uma diminuição do número de equipas. Aliás, às 32 equipas que disputam anualmente a Champions, será acrescentada a presença de mais quatro conjuntos, passando o número total para 36.

O critério de acesso para duas destas quatro novas vagas será o coeficiente da UEFA de clubes que ainda não tenham garantido a presença na edição através da liga doméstica. O terceiro lugar ocupado por um destes “wild-cards” será um clube mais bem classificado da quinta melhor liga, neste caso, a Ligue 1. Por último, a UEFA pretende integrar um clube de uma liga que ainda não esteja representada nesse ano.

A grande novidade: o modelo suíço

A maior alteração na prova rainha do futebol internacional de clubes é o término da fase de grupos que, ao longo dos anos, tem habituado os fãs a surpresas e a grandes reviravoltas na Champions League.

O modelo substituto será o suíço que consiste na criação de duas ligas, nas quais cada equipa terá que disputar dez partidas no total. Após esses dez jogos iniciais, as ligas serão unificadas numa só tabela classificativa e os oito primeiros classificados garantem presença imediata nos oitavos-de-final da competição. Para Carlos Daniel, jornalista da RTP, o importante para os “portugueses” acaba por ser a “presença à mesa dos milhões”, já que a saída “significaria uma rutura definitiva com os Big 5”, com Portugal a fazer parte de uma segunda liga europeia.

Os seus opositores nessa fase serão as equipas dessa tabela classificativa que se encontrem dos 9º ao 24º lugar e que terão pela frente um “playoff” entre eles para conseguirem passar à próxima fase. O tema que se impõe neste capítulo é relativo ao possível excesso de jogos e consequente esforço dos jogadores. Luís Cristóvão, da Eleven Sports, argumenta quanto à possibilidade “das equipas de Champions precisarem de plantéis mais profundos agora com a sobrecarga de jogos”.

Novo formato para fazer esquecer a Superliga Europeia

As equipas serão, na mesma, divididas por quatro potes para, através de um sorteio, se formar as duas ligas. Exemplificando, uma equipa do pote um terá que fazer obrigatoriamente dois jogos contra equipas do mesmo pote, seis jogos contra equipas dos potes dois e três e dois jogos com equipas do quarto pote.

Desta forma, a UEFA pretende aumentar a competitividade e a espetacularidade da prova, ao aumentar os duelos entre equipas de topo logo no início da prova. O objetivo passa por acabar com o projeto “Superliga Europeia” que tem como principal defensor o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez. Os clubes consideram que o formato proposto pelo presidente dos merengues incentiva a um elitismo no futebol que não é bem-vindo e a UEFA procura agregar a possibilidade de fazer crescer ainda mais a prova e a abertura a mais clubes, para que haja uma evolução mais igual em todas as ligas europeias.

Carlos Daniel, assume-se enquanto um “romântico do futebol” e sublinha “a tendência é para este negócio [futebol] se ir otimizando com o tempo” e que para os portugueses esta inovação poderá ser “uma janela de oportunidade, mas é um risco ao mesmo tempo, porque deixa de ser garantido que em função deste sexto lugar (ranking ocupado por Portugal na UEFA) possamos ter equipas presentes”.

Para os clubes e ligas domésticas, admitem Carlos Daniel e Luís Cristóvão, a ideia “de uma eventual reformulação da liga portuguesa” não é, de todo, uma possibilidade posta de parte. O comentador de futebol da Eleven prevê um cenário, no qual “Porto, Sporting, Benfica vão ter que dizer que dão 10% do nosso valor à segunda liga para que passe a proposta da liga ter apenas 16 clubes”.

Este novo formato ainda está em discussão, mas a entrar em vigor seria no ano de 2024, prolongando-se por nove anos como o novo formato da principal competição internacional de clubes. Muitos clubes emblemáticos como o Celtic, Basileia, Dynamo Kiev ou tantos outros vêm agora as participações futuras colocadas em causa, com um formato que visa aumentar o rendimento financeiro da prova.

Artigo editado por João Malheiro