Mário Ramadinha é proprietário de um restaurante e marcou presença, na fila da frente, da manifestação “A Pão e Água”, que esta sexta-feira à tarde ocupou boa parte da Avenida dos Aliados e a Praça Humberto Delgado, frente à Câmara Municipal do Porto. O empresário juntou-se ao protesto, que terá ali reunido algumas centenas de pessoas, para mostrar a sua “indignação perante as medidas adotadas pelo governo e a ausência de apoios”. Mário garante ter tido apenas direito ao layoff e que como não atinge “quebras de faturação de mais de 25%” não consegue ter outros apoios. Pede a reabertura dos estabelecimentos de restauração, porque considera que não é lá que “a transmissão [do vírus é mais importante”.
No protesto, o JPN encontrou também empregados de restauração como Denis Samar, que trabalha num restaurante que “está em layoff e não faz take away” e, por isso, viu o seu salário encolher. Denis pede para voltar ao trabalho, rapidamente, porque “não consegue sobreviver assim”.
A restauração contou com o apoio de outros setores
Mas não foi só de trabalhadores da restauração que a manifestação se fez. José Freixo, da organização, conta ao JPN que os organizadores fizeram um apelo às pessoas de “vários setores, dos cabeleiros à restauração, aos bares e às discotecas” afetados “por esta pandemia que nos está a arrasar” e vincou os motivos da manifestação: “os apoios não chegam ou chegam tardios, queremos comer e dar algum conforto aos nossos funcionários”, sublinhou.
A poucos metros de Denis está Rute Santos, proprietária de um salão de beleza encerrado há um mês. Rute não esconde a indignação por ter recebido apenas 219 euros de apoios do Estado, que não chegam para “sustentar os filhos e a família”, lembra que já estava a “trabalhar por marcação, com máscara e desinfetantes”. Por tudo isso, foi uma das manifestantes que subiu ao palanque para dar um grito de revolta perante o que considera ser uma injustiça.
Mais abaixo, o JPN encontrou Clara Queirós que pedia o regresso ao trabalho porque “tem contas para pagar”. Segundo a proprietária de um salão de beleza, os apoios que recebeu não chegam para todas as despesas, nomeadamente a segurança social e os salários dos seus funcionários, também eles presentes na manifestação com cartazes nos quais se podia ler “Basta! Chega! Queremos trabalhar”.
Ao longo do protesto subiram ao palanque montado em frente à Câmara Municipal do Porto vários proprietários de estabelecimentos de comércio de rua, mas também alguns membros da organização. Como é o caso de Miguel Camões que se mostrou indignado com o facto de os apoios prometidos pelo governo não terem ainda chegado a todos – “aos nossos bolsos não chegam tostões”, afirmou. O porta-voz do movimento “A Pão e Água” pediu um plano de desconfinamento e afirmou ainda que não compreende porque é que “não se pode ir a um take away e trazer uma garrafa de água quando ao lado se pode ir a um supermercado e trazer o que se quiser”.
Durante o intervalo entre cada intervenção ecoavam pela avenida vários cânticos com palavras de indignação perante as medidas tomadas e críticas dirigidas a todo o setor político.
Ao contrário do que aconteceu em novembro de 2020, na última manifestação deste movimento, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, não acedeu ao pedido dos manifestantes para se juntar à iniciativa.
Cerca de uma hora depois do início da manifestação, que decorreu na tarde de sexta-feira, chegou ao local, para uma breve aparição, o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos. O líder centrista em declarações aos jornalistas – momento que gerou alguma contestação dos manifestantes – disse que “é fundamental que o Governo ponha os olhos nestas pessoas que estão desesperadas e apresente um plano de desconfinamento controlado para o futuro”.
Manifestantes exigiram o fim do confinamento
Ao fim de duas horas, coube a Tiago Carvalho, proprietário de um restaurante e DJ anunciar que o fim da manifestação estava próximo e fazer o discurso de encerramento. Tiago gritou a plenos pulmões: “Queremos o fim do confinamento já! Queremos um Plano de desconfinamento já e queremos o fim do Estado de Emergência já!
Durante a sua intervenção, a avenida ficou pintada de fumo preto graças às tochas lançadas no meio dos manifestantes. A manifestação terminou com a promessa de mais eventos do mesmo género.
Artigo editado por Filipa Silva