Realizaram-se as eleições para a presidência do FC Barcelona, este domingo. Joan Laporta, ex-líder do clube blaugrana entre 2003 e 2010, conseguiu reunir maioria absoluta de 54,28% dos votos contra os 29,99% de Victor Font e 8,58% de Toni Freixa. A contagem total superou os 51.000 votos, número quase histórico e próximo dos 57.000 do sufrágio de 2010.
Laporta, de 58 anos, deixou saudades na massa associativa do “Barça” e tentará restabelecer a harmonia no clube, depois da eclosão do escândalo “Barçagate” que envolveu diretamente o agora antigo dirigente Josep Maria Bartomeu.
No seguimento deste caso e por força dos maus resultados da equipa de futebol, vários jogadores mostraram-se descontentes com o rumo da equipa e da instituição. Luís Suárez chegou mesmo a abandonar o clube catalão e tornou-se jogador do atual líder do campeonato espanhol – o Atlético de Madrid.
O destaque maior vai para Lionel Messi, vencedor por cinco vezes da Bola de Ouro e considerado por muitos como o melhor jogador da atualidade. O craque argentino por várias vezes forçou a saída, que lhe foi negada, mais recentemente no outono passado. Para já, não há indício de que renove e o contrato termina em junho.
Joan Laporta tem um futuro complicado e exigente para levar o Barcelona a patamares já antes atingidos sob a sua tutela entre 2003 e 2010. Os adeptos do clube recordam-se das grandes contratações que Laporta orquestrou, com grande destaque para Deco, Thierry Henry, Samuel Eto’o e Ronaldinho Gaúcho.
O legado de Laporta
Joan Laporta foi um dos maiores responsáveis pelo reaparecimento do Barcelona como clube grande na Europa do futebol. Em 2003, pouco depois de ser eleito, foi buscar Ronaldinho Gaúcho ao Paris Saint-Germain. A superestrela brasileira, que tinha ganho recentemente o Campeonato do Mundo em 2002 com o Brasil, trouxe consigo o futebol da magia e do deslumbramento para o Camp Nou. Em 2004, foi buscar a grande estrela do FC Porto e da seleção nacional Deco. ‘O Mágico’, como ficou conhecido, tinha acabado de ganhar a Liga dos Campeões com os azuis e brancos e chegado à final do Campeonato da Europa em Portugal, com a Seleção Nacional.
Laporta tinha agora as condições perfeitas para disputar o título espanhol com os ‘Galáticos’ do Real Madrid e afirmar-se como principal candidato a campeão da Europa. O treinador era o holandês Frank Rijkaard, com Ronaldinho e Deco juntarem-se a Xavi, Iniesta, Puyol e Valdés – quatro dos jogadores mais simbólicos do Barcelona, formados na academia do clube – e um jovem Messi, que já espreitava um lugar na equipa principal.
O Barcelona tornou-se campeão nacional em 2005 e 2006 e europeu em 2006. O título nacional fugia das mãos catalães desde os tempos de Figo – época de 98/99. A ‘Champions’ tinha sido conquistada apenas por uma vez, 14 anos antes, em 1992.
O segundo mandato de Laporta, iniciado em 2007, marcou a transição do elenco, a partir da saída de Rijkaard, em 2008. Para substituí-lo, o Barcelona apostou no ex-jogador do clube Pep Guardiola, que tinha iniciado a sua carreira de treinador no Barcelona B.
A passagem de Guardiola no Barcelona já faz parte da história do futebol mundial. Sem Ronaldinho e Deco, que deixaram o clube em 2008, Guardiola montou uma equipa que marcou o futebol. Muitos consideram mesmo a melhor equipa de todos os tempos. Lionel Messi era a estrela principal, suportado pelo capitão Carles Puyol, Gerrad Piqué, Daniel Alves, Sergio Busquets, Xavi, Iniesta e Thierry Henry.
O Barcelona de Guardiola e Messi conquistou 14 títulos em quatro temporadas, metade deles nos últimos dois anos de mandato de Laporta (2009 e 2010), incluindo a Liga dos Campeões de 2008/09. Nesse ano, conquistou os seis títulos disputados: Espanhol, Taça do Rei, Supertaça Espanhola e Europeia, Mundial de Clubes e Liga dos Campeões.
A queda de Bartomeu
O caso “Barçagate” abanou o futebol mundial. A 17 de fevereiro de 2020, a rádio espanhola Cadena SER tornou pública a informação de que a direção do Barcelona contratou a empresa I3Ventures para defender o presidente Josep Maria Bartomeu e criticar nas redes sociais alguns jogadores do clube, como Messi e Piqué e os seus familiares. O clube pagaria, segundo o diário espanhol La Vanguardia, cerca de 1,2 milhões de euros para cobrir polémicas como a contratação de Griezmann ao Atlético de Madrid ou a origem da doação de fígado ao ex-atleta do clube Eric Abidal. Para isso, Bartomeu transferiria dados pessoais dos sócios do Barcelona para criar uma base de dados a partir de onde se controlariam divulgações de escândalos internos e críticas à direção do clube.
A partir desse momento, as constantes demissões de elementos da junta diretiva multiplicaram-se e deixaram Bartomeu cada vez mais sozinho e atacado como única figura responsável pelo estado do clube.
Meses passaram até ao retorno do futebol, devido à pandemia. O Barça acabaria por perder a Liga Espanhola para o Real Madrid e seria humilhado pelo Bayern de Munique nas meias finais da Liga dos Campeões, ao sofrer uma derrota de 8-2 em Lisboa. Todos estes acontecimentos motivaram Messi a deitar a toalha ao chão e pedir a saída do clube. Havia um problema. La Pulga tinha no seu contrato uma cláusula de saída a custo zero caso saísse no verão, época habitual do mercado de transferências. Ora, a época acabou forçosamente mais tarde devido à Covid-19 e, em agosto, Messi ainda disputava a Liga dos Campeões pelos blaugrana.
Quando o mercado de transferências abriu, em setembro, já era tarde. O argentino bem protestou e tentou sair, mas acabou mesmo por ficar. Não renovou, é certo. O seu contrato acaba no fim de julho.
Em outubro, já desgastado por todas as polémicas e lutas internas, Bartomeu finalmente desistiu e renunciou à presidência do clube. Carlos Tusquets assumiu internamente a liderança da comissão de gestão do clube até às eleições deste domingo. Entretanto, os Mossos d’Esquadra (corpo policial catalão) fizeram, na manhã de 1 de março, buscas em Camp Nou e detiveram Bartomeu, assim como vários membros da sua direção.
Joan Laporta herda assim um clube fragilizado e à procura de reviver o sucesso de eras passadas, razão pela qual os sócios barcelonistas o elegeram em maioria absoluta.
Artigo editado por João Malheiro