A revista científica Lancet Psychiatry revelou um estudo, a 17 de fevereiro, no qual apontou que a maioria dos países europeus excluem as pessoas com doenças mentais graves do grupo prioritário de vacinação contra o vírus da Covid-19. Portugal está incluído nesta lista.
A pesquisa foi realizada por um grupo de trabalho de 18 investigadores do European College of Neuropsychopharmacology (ECNP), sociedade independente com sede na Holanda, onde analisaram os planos de vacinação de 20 países e apenas a Dinamarca, Holanda, Reino Unido e Alemanha reconhecem a “doença mental grave como uma condição médica de alto risco elegível para a vacinação prioritária”.
A exceção na primeira fase do processo de vacinação em curso, ocorre quando as pessoas com doença mentais são residentes em instituições públicas e do sector social. Para a pesquisa, contaram com o apoio de várias instituições de saúde e investigação europeias que abordam o mesmo assunto.
Rosa Cruz Gonçalves, médica psiquiatra e diretora clínica do Centro Hospitalar Conde de Ferreira, em declarações ao JPN afirmou que “este cenário de só vacinar na primeira fase os doentes institucionalizados, condiciona uma discriminação negativa destes doentes que não estando institucionalizados, também têm doenças mentais graves“. A médica realça o papel do Plano Nacional de Saúde na reinserção destes doentes nas comunidades, mas alerta que, apesar de estabilizados, “estes doentes têm uma probabilidade 65% maior de contrair COVID-19 e um risco duas ou três vezes superior de morrerem em consequência das complicações possíveis, do que a população em geral“.
Segundo as conclusões tiradas pelo estudo, pessoas com perturbações mentais graves – esquizofrenia, bipolaridade, depressão– apresentam um risco igual ao superior às pessoas com outro tipo de doenças crónicas. A maioria do grupo de países estudados não atribui prioridade para pessoas com doenças mentais nem na segunda fase de vacinação, nem mencionam a saúde mental nas suas orientações de vacinação.
Rosa Cruz Gonçalves sublinha ainda que a esquizofrenia é o segundo maior fator de risco na doença da Covid-19, ultrapassado apenas pela idade, uma vez que estes doentes tendem a ter maiores dificuldades em compreender a importância das recomendações das autoridades de saúde e, consequentemente, colocam-se em situações de risco mais elevado para si e para terceiros. Deste modo, para a psiquiatra, é fundamental que sejam considerados nos Planos Nacionais de Vacinação, quer estejam institucionalizados ou não.
Artigo editado por João Malheiro