Para combater o estigma associado à saúde mental, João Francisco Lima assumiu uma voz ativa no Instagram. Depois de ter perdido no verão passado o pai, o ator Pedro Lima, o jovem de 22 anos quis contribuir para que “este assunto se torne uma não-questão”.

Se tivesse que descrever a saúde mental numa palavra, seria “aceitação”. Acredita que o primeiro passo para a manutenção de uma boa saúde mental é ter a “capacidade de aceitar quem somos”. Caso já haja algum problema do foro psicológico, o importante é “saber aceitar que estes problemas são normais e temos de reagir aos mesmos e não olhar para eles como um monstro, ou para nós como alguém diferente por estarmos a passar por esses problemas,” afirma o jovem. 

Deste modo, é com uma presença ativa no Instagram, que João Francisco Lima fala da saúde mental, não só com base na opinião de profissionais, mas também na sua experiência. “Ao dar a minha opinião pessoal, ao expor-me e ao permitir-me à vulnerabilidade, porque estou a falar da minha vida pessoal, eu sinto que as pessoas tendem a relacionar-se um bocadinho com a história e tendem a abrir-se mais à possibilidade da sua própria partilha”, explica o jovem em entrevista ao JPN.  

João Francisco Lima, estudante de marketing, faz questão de frisar que não tem formação na área da psicologia que lhe permita dar uma opinião profissional sobre o assunto, pelo que pretende apenas alertar para um tema que “precisa, de facto, de atenção e fazer com que as pessoas não se sintam desconfortáveis a falar sobre ele. Nada mais do que isso”, esclarece.

Por não ter habilitações no campo da psicologia e da psiquiatria, o jovem tem consciência de que podem surgir reações negativas. “Eu sinto que, especialmente em temas sensíveis como este, pode sempre haver aquela sensação de que eu estou a falar de coisas que não sei, ou que venho impor a minha opinião. Portanto, eu sempre que falo, estou preparado para esse tipo de feedback”, confessa. Mas as reações têm sido positivas e as pessoas agradecem que “haja “alguém – infelizmente ainda se vê desta forma – que tenha tido a coragem para falar sobre isto da forma como eu tenho estado a falar”, conta.     

A importância da introspeção

Para João Francisco Lima uma das formas para lidar melhor com o estado da mente passa por fazer um exercício de introspeção. Para o jovem é necessário que cada um seja capaz de se comprometer com uma reflexão sobre si mesmo, isto porque, “nós temos a tendência para evitar o autoconhecimento, porque é difícil pararmos”. 

Esta resistência acontece porque “quando paramos, começamos a evitar pensar sobre nós, sobre os nossos problemas, sobre onde é que queremos ou não ir”. O medo de encontrar “coisas que não queremos” faz com que tentemos “evitá-las”. 

O jovem propõe, então, que se faça o exercício oposto, ou seja, uma “constante avaliação do nosso ponto de situação para aprendermos a lidar com todas as questões que a nossa individualidade tem, com todos os nossos problemas, mas também com as coisas boas”, refere. A introspeção serve, assim, para um “autoconhecimento na plenitude” e para a “aceitação da nossa individualidade”, o que, para o jovem, é mais útil do que a “constante retrospeção que nós fazemos da vida”.

“Estamos sozinhos juntos”

Para além das iniciativas no Instagram, João Francisco Lima tem uma parceria com a marca de roupa. Através da mensagem “You are not alone” (em português, “não estás sozinho”) que está escrita nas peças, o objetivo da linha de roupa é expressar a importância da saúde mental e pôr um fim ao estigma. Na opinião do jovem, esta mensagem “faz todo o sentido porque, especialmente neste tipo de assuntos, as pessoas tendem a fechar-se em si próprias por causa dessa sensação de que estão sozinhas”

“É nesse sentido que “you are not alone” é importante. É percebermos que nós temos os nossos problemas e que estamos sozinhos neles, mas que não estamos sozinhos no paradigma de ter problemas”, explica. João Francisco Lima dá o exemplo do confinamento: “estamos sozinhos juntos. Cada um está no seu barco, mas a tempestade é a mesma”, e, por isso, convida-nos a “olhar à nossa volta” para perceber que há mais barcos “a passar exatamente pela mesma tempestade”. 

Desta forma, o estudante de marketing destaca, ao longo de toda a conversa com o JPN, a importância da comunicação como “o primeiro passo para a resolução de grande parte destes problemas”, dado ser a ação que abre “caminho para a procura concreta de ajuda”. 

E, entre remar o nosso barco e ver o que acontece no barco do lado, o debate sobre saúde mental tem vindo a crescer – porque são cada vez mais pessoas a remar. “Quando tu tens um número crescente – e muito crescente – de pessoas que se deparam com problemas de saúde mental, mais facilmente essas pessoas vão estar disponíveis ou interessadas em saber sobre o assunto e falar sobre o assunto” e, para o jovem, foi este o maior benefício da pandemia, que obrigou à abordagem de “um tema que precisava de ser abordado há muito tempo”. 

É exatamente para este debate que, à sua maneira, João Francisco Lima tenciona continuar a contribuir. Por agora, através do Instagram, mas com a possibilidade de uma partilha presencial, se o futuro assim o permitir e for esse o “percurso natural das coisas”. 

 “Se tiver convites para dar a minha opinião de uma forma presente e física, no futuro, eu acho que terei todo o gosto em fazê-lo”, admite. Mas, por agora, é a internet o seu megafone. 

Artigo editado por Filipa Silva