Embora este fim de semana tenham sido realizados os Campeonatos Nacionais Universitários (CNU) de Atletismo de Pista Coberta, em Pombal, as competições desportivas no Ensino Superior, tuteladas pela Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), continuam envoltas num “clima de incerteza” e têm no regresso do ensino presencial às instituições universitárias um elemento fundamental de esperança para a conclusão da atual época desportiva.
Quando em março do ano passado, os estabelecimentos de Ensino Superior substituíram o ensino presencial por um à distância e o Governo decretou o primeiro confinamento geral para o país, as provas desportivas universitárias foram adiadas e por fim canceladas. O cenário repetiu-se a nível internacional, com as provas europeias e mundiais a serem igualmente afetadas pela pandemia de Covid-19.
Arranque da época com as modalidades de “baixo risco”
Com o desconfinar progressivo a partir do verão, a Federação Académica do Desporto Universitário (FADU) preparou a época 2020/2021 ciente do grau de imprevisibilidade associado à evolução pandémica em Portugal. Para a primeira metade da temporada ficaram marcados os CNU das modalidades definidas pela Direção-Geral de Saúde (DGS) como de “baixo risco”.
Badminton (em Braga), Karting (Évora), Ténis (Monsanto), Ténis de Mesa (Braga) e Xadrez – por equipas (Braga) e individual (Lisboa) – foram os campeonatos já disputados. Apesar da ausência de nomes importantes entre os participantes, André Reis, presidente da FADU, explicou ao JPN que “apenas três clubes” informaram a organização de que “não participariam nas competições nacionais universitárias por decisão das lideranças das instituições”.
Segundo o responsável, algumas instituições de Ensino Superior entenderam que “com o momento que o país estava a viver, as competições nacionais universitárias também deviam estar paradas”. A Universidade do Porto (UP), por exemplo, foi um dos estabelecimentos que tomou essa decisão e não participou nos campeonatos de Ténis de Mesa por equipas onde era campeã em título, tanto na vertente feminina, que não se disputou, como na masculina. Isso teve impacto no número de inscritos, uma vez que a “UP costuma participar com um número significativo de atletas em várias modalidades”.
Ainda assim, André Reis refere que a quebra de atletas inscritos em provas da FADU se explica não pelo número de participantes nas modalidades que já tiveram os seus campeonatos, mas sim pelos muitos desportos que ainda estão parados.
Segundo confinamento comprometeu os planos originais para a segunda metade da época
O plano previa que para 2021 ficassem agendadas as competições nas modalidades de “médio e alto risco”, onde se incluem os desportos coletivos como Futebol, Basquetebol e Andebol, e os desportos de combate, como Judo e Karaté. A agenda original contemplava também a realização das provas de apuramento para as fases finais da zona NCS [Nacional], bem como os campeonatos regionais de Lisboa e Porto.
Como resultado do segundo confinamento geral decretado em janeiro, o plano inicial “ficou evidentemente comprometido na medida em que nós estávamos a pensar começar essas provas a partir do final de fevereiro/início de março”. Nesse sentido, a FADU já está a trabalhar num calendário alternativo, “que os clubes já conhecem bem”, mas que está dependente de um regresso do ensino presencial às instituições de Ensino Superior a partir da Páscoa, algo que ainda não foi confirmado pelo Governo.
“Há a vontade da FADU de terminar os CNU, revendo os modelos competitivos, para que eles possam decorrer com menor número de jogos possíveis e, simultaneamente, para que ocorram num menor espaço de tempo”, realçou André Reis. A realização das fases finais dos Campeonato Nacionais Universitários continua a estar planeada para as últimas semanas de maio, mas tal vai depender “da data a partir da qual a FADU poderá conseguir retomar os apuramentos”.
Se isso acontecer a partir da Páscoa, como deseja o presidente da Federação Académica do Desporto Universitário, “ainda será possível manter as datas das fases finais”, mas é necessário aguardar por “mais dados por parte das entidades governamentais e por parte das instituições de Ensino Superior para percebermos como se vai processar este regresso ao ensino presencial e, por consequência, o regresso das modalidades coletivas ao calendário da FADU”.
Preocupações com os alunos bolseiros e a participação em provas internacionais
Toda esta incerteza fez com que André Reis tenha escolhido a palavra “impotência” para descrever o “momento que estamos a viver”, durante a sua intervenção na audição às entidades desportivas realizada na Assembleia da República, a 10 de fevereiro. Já nessa altura, o presidente da FADU alertava para o facto de algumas das maiores instituições terem optado por não participar nos campeonatos universitários realizados no primeiro semestre, bem como a não reabertura de algumas das suas instalações desportivas.
No documento entregue na sequência dessa audição, a FADU elencou várias das suas preocupações sobre o panorama atual, entre as quais está a saída de vários estudantes do sistema desportivo nacional, as “situações como o burnout [esgotamento físico e mental], o stresse e a depressão” provocadas pela paragem da prática desportiva, a perda de receitas dos clubes e associados da Federação e a incapacidade de reter talento nos seus quadros.
Durante a audição, houve também um alerta para o impacto que o cancelamento de provas nacionais e internacionais está a ter na atribuição das bolsas de mérito desportivo aos estudantes-atletas. Apesar de não ter dados concretos sobre essa situação, André Reis acredita que o número de afetados esteja “na casa das centenas de estudantes”.
Ainda que o apoio ao nível do alojamento, alimentação e acesso gratuito a instalações desportivas continue a ser garantido, as ajudas ao nível da redução do valor das propinas estão condicionadas, uma vez que estão associadas a resultados desportivos. Ao não conseguirem participar nas competições, seja porque foram canceladas ou por outro motivo, “deixam de estar elegíveis para receber essa bolsa”, um auxílio importante para “conciliarem a sua vida desportiva com a vida académica”.
Entre as medidas sugeridas pela FADU para fazer face à situação atual está o pedido de maiores apoios à internacionalização do desporto universitário, ao referir que “os clubes têm muitas dificuldades em participar em provas internacionais”, por se tratarem de “provas que implicam grande despesa”. Questionado pelo JPN sobre o impacto da retoma tardia dos CNU no apuramento para os Jogos Europeus Universitários, a disputar em Belgrado, em julho, o presidente da Federação voltou a fazer menção a essas dificuldades.
“A participação internacional dos nossos clubes nos Jogos Europeus Universitários está absolutamente condicionada pela disponibilidade que esses clubes tenham para poderem investir financeiramente nessa participação”, disse André Reis. Como é habitual, ao serem realizados os CNU, os clubes vão ser apurados para as provas europeias, com a FADU a assegurar o pagamento das taxas de garantia de participação na competição.
No entanto, esse “apoio pode não ser suficiente para [todos os clubes] equacionarem participar nos Jogos Europeus Universitários, mas pelo menos é algum dinheiro para garantir que o desporto universitário em Portugal continua devidamente representado a nível internacional”. Com isso em mente, e em conjunto com as restantes entidades desportivas, a Federação pede que seja dada prioridade, na terceira fase da vacinação, aos atletas que representam o país no estrangeiro.
“Indicador positivo” dado pelos CNU de Atletismo de Pista Coberta
Sobre as provas de Atletismo de Pista Coberta deste fim de semana, André Reis considera que foram um “indicador muito positivo” para o desporto universitário, até porque significou o regresso à competição de alguns clubes da FADU. Um deles foi a UP, que revalidou, pelo décimo segundo ano consecutivo, o troféu coletivo nesta competição e que já não participava em qualquer prova a este nível há precisamente um ano.
Esta situação oferece “mais otimismo e expectativas de que, com o desconfinamento prestes a ser anunciado pelo nosso Governo, e com o regresso generalizado da prática desportiva, possamos retomar as provas nacionais universitárias e, acima de tudo, garantir que não temos uma segunda época consecutiva em que o calendário desportivo da FADU e os CNU têm de ser cancelados”.
Com a retoma das competições ainda com vários pontos de interrogação a si associados, o momento parece certo para uma aposta mais séria nos desportos eletrónicos – os eSports. Nesse campo, a FADU tem “muitas novidades em cima da mesa para divulgar nas próximas semanas”, com o primeiro Campeonato Nacional Universitário de eSports a estar prestes a tornar-se uma realidade.
André Reis relembra que o CNU de Futebol de 11 foi “simbolicamente” terminado com uma competição de FIFA 20. Segundo o próprio, a prova “foi um sucesso, o feedback dos clubes foi muito positivo e a FADU começou, a partir desse momento, a estudar a possibilidade de criação do primeiro CNU de eSports”.
Por enquanto, a Federação Académica do Desporto Universitário continua a aguardar pelas medidas relacionadas com o regresso do ensino presencial no Ensino Superior, algo fundamental para que o seu calendário desportivo seja cumprido e as competições realizadas.
Artigo editado por Filipa Silva