A Seleção Nacional de Andebol conseguiu, este domingo, a sua primeira qualificação olímpica da história. Graças a uma reviravolta dramática no último encontro do Torneio Pré-Olímpico, disputado em Montpellier, frente à França, Portugal assegurou uma das vagas em oferta para os Jogos Olímpicos de Tóquio e conseguiu a melhor homenagem possível a Alfredo Quintana, o guarda-redes luso-cubano que faleceu no final de fevereiro.

A participação dos “Heróis do Mar” na competição começou com uma vitória convincente frente à Tunísia, na sexta-feira, por 34-27. Claros favoritos para esse encontro, os portugueses construíram cedo uma vantagem no marcador que lhes permitiu gerir o jogo e a condição física dos atletas para os embates dos dias seguintes frente a duas seleções com enorme historial e palmarés na modalidade.

A Croácia foi o adversário que se seguiu, no sábado, e apesar da prestação desapontante no Mundial do Egipto, em janeiro, e da derrota perante a França na jornada inaugural, a tarefa não se antevia fácil para as cores nacionais. Uma vitória praticamente selava o apuramento para os Jogos Olímpicos – bastava que a França vencesse horas depois a Tunísia, o que acabou por acontecer – e retiraria os croatas do principal evento desportivo deste verão.

Embora tenha conseguido uma vantagem de seis golos no início do segundo tempo, a formação orientada por Paulo Jorge Pereira acabou por acusar o momento e, com vários erros técnicos e falta de eficácia no ataque, desperdiçou a liderança no marcador e viu a Croácia vencer pela margem mínima e adiar todas decisões para a última jornada.

À imagem do que se verificou no último Campeonato do Mundo, em que a França foi o último obstáculo de Portugal no apuramento para os quartos de final, que acabaria por não ultrapassar, os gauleses voltaram a estar no caminho do objetivo português. Desta vez, estava em discussão a qualificação para os Jogos Olímpicos. A vitória da Croácia frente à Tunísia obrigava Portugal a vencer os franceses para fazer história.

O início foi tremido e chegou-se a temer mais uma derrota desnivelada frente à seleção da casa, que, rapidamente, chegou a um resultado de 9-3. Na sequência de um desconto de tempo pedido pelo selecionador nacional, os portugueses estabilizaram e começaram a recuperar no marcador de forma constante. Depois de estarem a perder por seis golos, chegaram ao intervalo em desvantagem pela margem mínima.

A meio da segunda parte, Portugal colocou-se pela primeira vez na frente, mas seria de novo a França a descolar no resultado nos cincos minutos finais, momento em que a Seleção Nacional perdia por três golos de diferença. Graças a defesas importantes de Gustavo Capdeville, os portugueses conseguiram empatar quando faltava menos de um minuto para o apito final.

Com os gauleses a tentar gastar o relógio, mas à beira do jogo passivo, um mau passe de costas acabou intercetado por Rui Silva, que saiu disparado para a baliza contrária e fez o 29-28, resultado com que a partida terminou. França ainda voltou a fazer balançar as redes nacionais, mas a buzina já tinha soado. Portugal qualificava-se assim para os Jogos Olímpicos de Tóquio, juntamente com a congénere francesa, graças ao melhor saldo de golos no confronto direto em relação à Croácia.

Um obrigado a Quintana

As reações ao feito histórico foram emotivas e, como se esperava, Alfredo Quintana foi um nome citado por todos. Paulo Jorge Pereira relembrou que “não conseguimos isto sozinhos”, antes de referir que “para chegar aqui houve uma pessoa que nos ajudou muito, o Alfredo Quintana. Por isso, quero agradecer-lhe muito tudo aquilo que ele fez por nós“.

O selecionador nacional descreveu os seus jogadores “como grandes pessoas, grandes competidores e grandes guerreiros” e mencionou que estes marcos não seriam possíveis “se não tivesse gente com este caráter”. Classificou ainda o apuramento como “justíssimo”, ao afirmar que “teria sido uma injustiça, depois do que aconteceu ontem [derrota com a Croácia no sábado], não sermos apurados”. O próximo passo? “Lutar pelas medalhas”.

Fábio Magalhães, que chegou às 150 internacionalizações por Portugal, dedicou a vitória a “Quintana e a toda a família dele” e referiu que “no remate do Rui [Silva] estávamos todos no braço dele”.

Miguel Laranjeiro, presidente da Federação de Andebol de Portugal, em declarações à RTP3, disse que os jogadores “foram uns heróis, estivemos todos com o Quintana no coração, ele onde estiver está também alegre, tal como estamos todos aqui no balneário. Isso é muito bonito e jamais o esqueceremos. Sentia-se nos atletas que era preciso fazer esse tributo”.

Numa nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa definiu o apuramento da seleção de Andebol para os Jogos Olímpicos como “a vitória póstuma de Quintana” e sublinhou o empenho e dedicação dos jogadores. Também António Costa, através do Twitter, felicitou o feito conseguido.

Sentida foi igualmente a homenagem de Rui Silva, autor do golo que deu o bilhete para Tóquio a Portugal, que revelou a sua tatuagem de Quintana no braço direito acompanhada da seguinte mensagem: “Correste comigo, remataste comigo e marcaste golo comigo. Agora vamos a Tóquio e juntos continuaremos a fazer história! Hoje e sempre será por ti”.

 

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Para além de Portugal e França, apuraram-se também para os Jogos Olímpicos por via deste torneio as seleções de Alemanha, Brasil, Noruega e Suécia.

Artigo editado por João Malheiro