No país com “a taxa mais alta de divórcios da União Europeia”, Manuela Brás Marques sentiu que fazia falta ter disponível uma aplicação de responsabilidade parental. Seguindo o exemplo de aplicações semelhantes – e de sucesso – nos EUA e em alguns países europeus, a advogada que trabalha há 25 anos no ramo de Direito de Família, avançou para a criação da “Casa da Mãe, Casa do Pai”, num trabalho em parceria com a Júnior Empresa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a JuniFeup.
Trata-se de uma aplicação gratuita, disponível para iOS e Android, e cujo objetivo primordial é melhorar o contexto familiar – salvaguardando o bem-estar dos filhos – e evitar conflitos que possam levar a processos em tribunal. “As responsabilidades parentais são cada vez mais fontes de conflitos. Hoje, os tribunais de família estão cheios de processos relativos a responsabilidades parentais, portanto, é importante aliviar a pressão sobre os tribunais”, afirmou a criadora da aplicação em entrevista ao JPN.
Sendo assim, a aplicação vem promover, tanto quanto possível, uma coparentalidade saudável, assente numa comunicação construtiva, transparente e que evite qualquer tipo de mal-entendidos. Segundo Manuela Brás Marques, “quando há situações de melindre entre os pais, mais vale que esteja tudo registado”, e esse é, também, um dos papéis da aplicação, que não permite a edição de conteúdos.
Para além disso, a utilização dos filhos como “mensageiros” e ponte de comunicação entre os pais é, de acordo com a advogada, uma realidade muito presente nos relacionamentos de pais separados. Por conseguinte, evitar o envolvimento desnecessário das crianças na logística parental foi um dos motivos que levou à criação da aplicação e, consequentemente, é um dos principais objetivos traçados.
Funcionamento da “Casa da Mãe, Casa do Pai”
Aplicação “Casa da Mãe, Casa do Pai”
Trazer a aplicação para território português implicou a adaptação do conceito ao contexto nacional. A comunicação é a chave de todas as relações e a “Casa da Mãe, Casa do Pai” reúne quatro segmentos que promovem um relacionamento fluído e transparente, essencial para o cumprimento das responsabilidades parentais.
“Aquilo que eu notei ao longo destes anos é que não havia uma plataforma de comunicação num sítio concreto, destinado aos filhos e que permitisse armazenar toda a informação relativamente aos mesmos. Nem que seja para futuramente provar determinadas situações, às vezes, até no Tribunal.”, referiu a especialista.
Sendo assim, a aplicação dispõe de:
- Calendários (para cada filho e com push notifications) para assinalar eventos importantes;
- Chat de conversa onde, propositadamente, as mensagens não podem ser editadas nem apagadas, “o que garante a transparência de toda a comunicação”;
- Repositório de ficheiros importantes – despesas, documentos de identificação, contactos;
- Contactos da criadora para que a possam consultar, gratuitamente, caso haja alguma dificuldade ou dúvida no uso do aplicativo.
Com vista a “promover uma nova dinâmica familiar”, a aplicação deve ser partilhada pelos pais, mas, a eles, podem-se juntar outras figuras importantes e presentes no dia a dia dos filhos.
A “Casa da Mãe, Casa do Pai” está a ser pensada e desenvolvida há mais de um ano – o projeto começou ainda antes da pandemia –, mas a criadora refere que a situação em que atualmente vivemos “veio demonstrar, ainda mais, a utilidade desta aplicação”.
O conceito veio do estrangeiro, mas a escolha para a concretização em Portugal centrou-se na cidade do Porto, mais especificamente nos alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O facto de a JuniFeup ter um portefólio com trabalhos semelhantes e estar ligada ao mundo académico – um mundo mais jovem e com potencial para ajudar no aperfeiçoamento da aplicação – levou ao estabelecimento da parceria.
Apesar de recente, a expectativa é que, dentro de um país com elevado número de casos de divórcio, a aplicação tenha sucesso. “Eu espero que promova uma comunicação mais fluída, até porque é preciso desmistificar estas ideias do divórcio e da separação, porque é, efetivamente, uma realidade muito presente na sociedade portuguesa”, concluiu Manuela Marques.
Artigo editado por Filipa Silva