Com uma crise interna a abalar o clube, António Salvador assume a presidência do Sporting Clube de Braga em 2003. Desde então, o clube minhoto tem cimentado a sua posição entre os "três grandes" do futebol português.

Depois de ser despromovido em 1970, o novo SC Braga começa no pós-25 de abril com o regresso à Primeira Divisão, em 1976, iniciando um período de crescimento, que perdura até os dias de hoje, o que o torna, a seguir aos três grandes, no clube português que há mais anos está no primeiro escalão.

Entre finais da Taça de Portugal e a quarta posição no campeonato, o SC Braga teve um percurso oscilante no futebol português, dividindo o estatuto de quarto maior clube.

Em 2003 António Salvador torna-se presidente dos arsenalistas e dá início ao processo de modernização do clube. Entre 2004 e 2020, apenas por duas vezes os Guerreiros do Minho não ficaram nos cinco primeiros lugares, qualificando-se todas as épocas para as competições europeias e conquistando, inclusive, a Taça Intertoto em 2008/2009.

A entrada de António Salvador

No ano de 2003, o SC Braga vivia uma profunda crise financeira e o clube estava sem presidência depois da demissão de João Gomes de Oliveira no ano anterior. O clube, sem ninguém no leme, vivia um clima de tensão, onde ninguém tinha coragem para pegar num Braga que não perspetivava ter um futuro risonho.

No dia 26 de fevereiro de 2003, António Salvador é convidado a assumir a responsabilidade e aceita o cargo. Nesse ano, a época estava a correr muito aquém das expectativas e o Braga encontrava-se a lutar pela permanência e corria sérios riscos de descer, mas o trabalho árduo de Salvador garantiu a permanência.

António Salvador.

António Salvador. Foto: SC Braga Foto: Sporting Clube de Braga.

A influência do novo presidente rapidamente se fez sentir quando na época seguinte, o clube abandonou o Estádio Primeiro de Maio e inaugurou o Estádio Municipal de Braga, que ofereceu todas as capacidades para o desenvolvimento do clube.

Os anos seguintes foram épocas pintadas de ouro para os minhotos que consolidaram o quarto posto da liga e garantiram a presença em competições europeias ano após ano. Nos anos de 2008/2009/2010 o clube, com Jorge Jesus, conquista o seu primeiro título internacional, a Taça Intertoto, tornando-se assim no quarto clube português a conquistar uma competição europeia.

Passado um ano, Salvador impõe a ideia de construir ainda mais infraestruturas para assegurar o futuro do clube. Após longas negociações com a autarquia, o presidente consegue adquirir os terrenos para a construção da Cidade Desportiva do Braga. Em 2017, concluíram-se as obras da primeira fase da Cidade Desportiva que conta com três campos de treino, dois campos de jogos oficiais, um campo de futebol de sete e um campo de futebol de praia.

A segunda fase começou em maio de 2020 e terminará em dezembro de 2021. Vai custar 26 milhões. Entre salas de lazer e áreas de restauração, destacam-se a criação da loja “Sporting de Braga Store” e a loja do associado. Desta fase, excluiu-se a construção do Estádio Centenário, no qual jogarão as equipas B e feminina e que contará com 2.400 lugares.

Os frutos do investimento

Com o grande investimento feito em todas as vertentes do clube, a formação começou a ficar cada vez mais competitiva para fazer frente às melhores equipas jovens da região Norte. O resultado disso são as presenças assíduas nas fases finais do Campeonato Nacional de Juniores, mas sempre esbarrando nos “três grandes”. Jogadores como Trincão, David Carmo ou Pedro Neto começaram a emergir e a ser presença assídua na equipa principal.

O caso de Francisco Trincão é o melhor exemplo daquilo que foi o crescimento da formação do Braga nos últimos anos. Com passagens por Porto e Vianense, o jovem avançado rapidamente se mostrou ao futebol nacional. No dia 2 de abril de 2016 Trincão estreou-se profissionalmente no Braga B, num jogo da Segunda Liga, com apenas 17 anos. Passados quatro anos, Francisco transferiu-se para um dos maiores clubes do mundo, o FC Barcelona, numa transferência a rondar os 31 milhões de euros com uma cláusula de rescisão de 500 milhões de euros.

Francisco Trincão.

Francisco Trincão. Foto: Miguel Ruiz / Barcelona FC Foto: FC Barcelona

Depois de se destacar na formação, o jovem de Viana do Castelo liderou a Seleção Nacional Sub-19 à conquista do Europeu de Sub-19, tornando-se no melhor marcador do torneio com cinco golos.

Dois anos antes da ascensão de Francisco Trincão, outro jovem avançado natural de Viana do Castelo foi lançado na equipa principal. Apesar de só ter jogado dois jogos na sua primeira época, ainda conseguiu marcar um golo. Na época seguinte, transferiu-se para a Lazio, mas pouco ou nada jogou pelo conjunto italiano.

Foi em Wolverhampton que Pedro Neto descobriu o seu melhor futebol, treinador por Nuno Espírito Santo. Apoiado pela armada lusa que o conjunto inglês dispõe, Neto foi ganhando cada vez mais confiança. Na sua primeira época, jogou 44 jogos e marcou cinco golos. Na segunda época, leva 32 jogos e cinco golos e promete não ficar por aqui.

Outro pupilo lançado por Abel foi David Carmo. O jovem defesa-central estreou-se na equipa principal em 2019/2020 e fez 19 jogos. Apesar de ter feito jogos na equipa secundária e nos sub-23, foi na equipa A que o central se consolidou. Na presente época já era titular indiscutível com 21 jogos, mas uma lesão num lance com Luis Díaz obrigou-o a parar durante vários meses.

Antes da lesão, já tinha sido associado a grandes clubes como o Liverpool ou Manchester United. Inclusive, a transferência para o campeão inglês teve muito perto de se concretizar devido às lesões no eixo central dos reds, mas o Liverpool optou pela contratação de Ozan Kabak, do Schalke 04.

Os treinadores que lapidaram os diamantes

Para existir esta aposta na formação, são necessários treinadores que os motivem e saibam tirar o melhor deles. Mesmo que António Salvador tenha contratado 19 treinadores em 17 anos (Domingos Paciência, Jesualdo Ferreira, António Caldas, Rogério Gonçalves, Jorge Costa, Manuel Machado, Jorge Jesus, Leonardo Jardim, José Peseiro, Jesualdo Ferreira, Jorge Paixão, Sérgio Conceição, Paulo Fonseca, Jorge Simão, Custódio, Artur Jorge, Abel, Rúben Amorim e Carlos Carvalhal), alguns souberam aproveitar os pupilos da formação bracarense.

Apesar de não ter sido o treinador que iniciou a época de 2016/2017, Abel Ferreira aproveitou os maus resultados de José Peseiro e Jorge Simão para se aventurar nos comando da equipa principal bracarense, depois de ter treinado a equipa B do Sporting e do Braga. Foi Abel que lançou Pedro Neto nos palcos da Liga NOS, assim como outros jovens. Na sua primeira época, alcançou o quarto lugar no campeonato, passou a fase de grupos da Liga Europa, mas foi eliminado na Taça de Portugal pelo Rio Ave numa fase precoce da competição.

Depois da uma primeira época sólida, Abel voltou a merecer a confiança de António Salvador e lançou Francisco Trincão. Voltou a atingir o quarto lugar no campeonato, chegou às meias-finais da Taça de Portugal, mas foi eliminado na Qualificação para a Liga Europa. Quando tudo indicava que Abel ia comandar a equipa pela terceira época, o jovem treinador português aventurou-se em terras gregas, no PAOK. Depois de época e meia na Grécia, foi para o Palmeiras, onde conquistou a Libertadores e a Taça do Brasil passado 25 anos.

Com a ida de Abel Ferreira para o PAOK, o presidente dos Gverreiros do Minho apostou em Ricardo Sá Pinto e em Custódio, mas rapidamente se percebeu que tinha sido um tiro ao lado. Rúben Amorim era o treinador que se seguia.

O ex-jogador do Braga, Benfica ou Belenenses, teve sucesso imediato com dez vitórias em 13 jogos. Pelo meio, conquistou uma Taça da Liga, a primeira desde 2012 e conseguiu o terceiro lugar no campeonato. Em apenas meia época, Rúben Amorim protagonizou a transferência mais cara de um treinador no panorama nacional, com o Sporting a pagar os 10 milhões da sua cláusula de rescisão.

Com o dinheiro da venda de Rúben, António Salvador trouxe Carlos Carvalhal, treinador que já tinha passado pelo clube. Com um misto de qualidade (Nico Gaitán, Rolando ou Al-Musrati) juntamente com juventude (David Carmo, Bruno Rodrigues ou Francisco Moura) o projeto desportivo do Braga serve para futuros exemplos. Até à data, o clube bracarense foi eliminado da Liga Europa pela Roma e perdeu na final da Taça da Liga contra o Sporting de Rúben Amorim, mas encontra-se no segundo lugar do campeonato e vai jogar a final da Taça de Portugal contra o Benfica no Jamor.

As peças fundamentais ao longo dos anos

Desde que António Salvador assumiu a presidência, aliado a bons treinadores, existiram jogadores que foram bastante importantes para o sucesso desportivo do clube.

Alan é, considerado por muitos, o melhor jogador do último século do Braga. O jogador que chegou do rival Vitória SC, foi, desde o primeiro momento, fundamental no sucesso dos Arsenalistas, assumindo-se como uma referência dentro e fora de campo. Começou como um extremo vertiginoso, de finta e progressão, com uma boa capacidade de finalização. Com o passar dos anos, foi amadurecendo como jogador e assumiu-se como peça fundamental no conjunto de Paulo Fonseca, onde o futebol positivo e dominador eram palavra de ordem. Hoje em dia, é diretor de relações institucionais no clube.

Apesar de se ter afirmado antes de António Salvador chegar ao clube, Quim é uma figura incontornável do clube minhoto. Em 2003, foi para o Benfica onde permaneceu até 2009, antes de voltar ao seu clube de coração, onde ficou durante três épocas. Fez mais de 300 jogos pelo Braga e, recentemente, foi eleito o melhor guarda-redes da história do clube.

Depois de algumas épocas no Valência, Osasuna e Newcastle, Hugo Viana voltou a Portugal depois de jogar no Sporting, mas desta vez para o Braga. Inicialmente emprestado pelo clube ché, acabou por ficar nos Guerreiros mais três épocas. Entre 2009 e 2013, fez mais de 100 jogos e marcou mais de 20 golos, pautando o meio-campo arsenalista com qualidade e subtileza.

Contratado ao Marítimo em 2008, Márcio Mossoró foi uma das principais figuras durante as cinco épocas que teve nos minhotos. Com técnica e qualidade, era um jogador que encantava as bancadas com grandes gestos técnicos. A partir de 2014 embarcou para terras turcas, de onde nunca mais saiu.
Outra contratação dentro do mercado nacional foi o ponta-de-lança Lima, ex-jogador do Belenenses. Ficou duas épocas nos Guerreiros onde marcou 40 golos, com uma média de quase um golo a cada dois jogos. Posicionamento e instinto matador fizeram com que o Benfica desembolsasse quatro milhões de euros para a sua contratação. Também no Benfica encantou tudo e todos, com mais de 70 golos em três épocas.

O culminar do sucesso

Contratar barato, valorizar e vender. Durante a presidência de António Salvador, o Braga lucrou como nunca. Apesar de só ter feito dois jogos na equipa principal dos bracarenses, Pizzi foi uma das maiores vendas. Entre sucessivos empréstimos ao Ribeirão, Covilhã ou Paços de Ferreira, o transmontano foi vendido por 13,5 milhões de euros em 2011.
 
Passado um ano, chegou ao Braga B um central brasileiro com imenso potencial vindo do Trofense. Aderlan Santos durante duas épocas com Sérgio Conceição, Jorge Simão e Jesualdo Ferreira tornou-se titular indiscutível com mais de 70 jogos. Na época seguinte, o Valência comprou o seu passe por 9,5 milhões de euros.
 
 
Vindo do Feirense, um jovem português emergia no principal escalão do futebol português. Depois de uma grande época na Segunda Liga, Rafa chegou a Braga para se tornar indiscutível. Fez três épocas pelos Guerreiros antes de se transferir para o Benfica a troco de 16 milhões de euros. Nesta mesma época, o Braga vendeu Boly ao Porto por 6,5 milhões de euros e Wallace para a Lazio por 8 milhões de euros.

Já com Abel Ferreira no comando, o Braga vendeu dois dos jogadores com mais jogos na época 2018-2019. Danilo Barbosa foi vendido para o Nice por dez milhões de euros, enquanto Nikola Vukcevic foi para o Levante por 8,9 milhões de euros.

 
Nesta última época e com Carlos Carvalhal, os minhotos venderam Francisco Trincão por 31 milhões de euros para o FC Barcelona e Paulinho para o Sporting por 16 milhões de euros. O avançado que tinha sido contratado ao Gil Vicente em 2017, foi a principal referência atacante durante quatro épocas marcando mais de 60 golos.

A final da Liga Europa e as Taças da Liga

Associados aos grandes jogadores, estão as grandes conquistas. Apesar de ainda não ter sido campeão, o título é uma hipótese bastante forte e António Salvador já o assumiu em público: “Acredito no Braga campeão nacional“.
 
No entanto, a equipa bracarense já esteve diversas vezes perto disso. Em 2009/2010 com Domingos Paciência ao leme, o Braga conseguiu uma época brilhante liderando o campeonato durante quase dois terços da competições, discutindo o título com o Benfica até à última jornada. O segundo lugar valeu a primeira qualificação de sempre para a Liga dos Campeões.
 
A primeira participação na prova milionária não correu de feição e caíram para a Liga Europa. Chegaram à final contra o FC Porto, mas a equipa azul e branca levou a melhor com um golo solitário de Falcão.
 

Nas épocas 2012/2013 e 2019/2020 o Braga conquista a Taça da Liga ao derrotar o Porto duas vezes na final. O título em 2012 representou o segundo como presidente do clube, depois da conquista da Taça Intertoto em 2008.

Com Paulo Fonseca, os Gverreiros alcançam os quartos-de-final da Liga Europa 2015/2016 e conquistam pela segunda vez na história a Taça de Portugal, depois de uma decisão por grandes penalidades diante do Porto de José Peseiro.

O Braga de Carlos Carvalhal

Com Carvalhal no comando da equipa outra vez, o Braga tem-se assumido cada vez mais como um candidato ao título. Com jogadores como Al-Musrati, Fransérgio ou Ricardo Horta, o caminho para o sucesso parece estar ao virar da esquina.
 

Na presente época, o Braga já obteve grandes resultados ao ganhar ao Benfica no Estádio da Luz, empatar com o Leicester City em casa, ganhar ao Porto no Estádio do Dragão ou ganhar ao Vitória SC.

A época está longe de estar acabada, mas o Braga encontra-se bem posicionado para disputar mais um apuramento para a Liga dos Campeões e discutir a Taça de Portugal com o Benfica, na final no Jamor.

Artigo editado por João Malheiro