Após uma temporada de afirmação no World Tour em 2020, João Almeida continua a mostrar todo o seu potencial como voltista, acrescentando mais um Top 10 em provas por etapas ao seu currículo. O ciclista português ficou em sexto lugar da classificação geral do Tirreno Adriatico.

A “Pantera das Caldas”, alcunha pelo qual ficou conhecido após a prestação no Giro d´Itália em 2020, mostrou bastante consistência ao longo de toda a competição, defendendo-se nas etapas de alta montanha e demonstrando maturidade acima da sua idade.

A etapa final do Tirreno Adriatico, o habitual contrarrelógio individual em San Benedetto del Tronto, consagrou Tadej Pogacar como o “Rei dos dois Mares”, após uma semana de domínio do prodígio esloveno. O vencedor do Tour de France 2020 regressa ao lugar mais alto do pódio, após a vitória na Volta aos Emiratos Árabes Unidos, competição em que João Almeida terminou pela primeira vez no pódio de uma prova do World Tour, alcançando o terceiro posto.

A vitória no esforço individual de quarta-feira sorriu ao belga Wout van Aert, que continua a evoluir na alta montanha e alcançou o seu primeiro pódio em provas por etapas no World Tour, ao concluir na segunda posição. Habitualmente focado em provas de um dia, o ciclista belga da Jumbo-Visma procura colmatar a saída de Tom Dumoulin e ser mais uma opção para as provas por etapas, a par de Primoz Roglic.

Ao fazer o terceiro contrarrelógio mais rápido da história do Tirreno Adriático (média de 54.595 Kph), van Aert bateu dois dos melhores contrarrelogistas do mundo, o suíço Stefan Kung (Groupama-FDJ) e o campeão do mundo de contrarrelógio Filippo Ganna (Ineos Grenadiers), que vinha de oito vitórias consecutivas neste esforço individual.

Wout van Aert (Jumbo-Visma) foi o vencedor da última etapa do Tirreno Adriatico. Fonte: Tirreno Adriatico/Facebook

Nelson Oliveira (Movistar Team) e Ivo Oliveira (UAE Team Emirates) foram os outros portugueses que participaram na “Corrida dos dois Mares”, terminando a última etapa no Top 20.

Etapa 7 (San Benedetto del Tronto – San Benedetto del Tronto; 10.1 Km)

  • 1.º Wout van Aert (Bélgica; Jumbo-Visma) 11:06
  • 2.º Stefan Kung (Suiça; Groupama-FDJ) a 6“
  • 3.º Filippo Ganna (Itália; Ineos Grenadiers) a 11´´
  • 4.º Tadej Pogacar (Eslovénia; UAE Team Emirates) a 12´´
  • 5.º Benjamin Thomas (França; Groupama – FDJ) a 16´´
  • 6.º Alberto Bettiol (Itália; EF Education-Nippo) a 18´´
  • 7.º João Almeida (Portugal; Deceuninck – QuickStep) a 24´´
  • 8.º Kasper Asgreen (Dinamarca; Deceuninck – QuickStep) a 26´´
  • 9.º Michael Hepburn (Austrália; Team BikeExchange) a 27´´
  • 10.º Tobias Ludvigsson (Suécia; Groupama-FDJ) a 28´´
  • 17º Nelson Oliveira (Portugal; Movistar Team) a 36´´
  • 20º Ivo Oliveira (Portugal; UAE Team Emirates) a 37´´

 Classificação Geral Final

  • 1.º Tadej Pogacar (Eslovénia; UAE Team Emirates) 26:36.17
  • 2.º Wout van Aert (Bélgica; Jumbo-Visma) a 1´03´´
  • 3.º Mikel Landa Meana (Espanha; Bahrain Victorious) a 3´57´´
  • 4.º Egan Bernal Gomez (Colômbia; Ineos Grenadiers) a 4´13´´
  • 5.º Matteo Fabbro (Itália; Bora-Hansgrohe) a 4´37´´
  • 6.º João Almeida (Portugal; Deceuninck-QuickStep) a 4´54´´
  • 7.º Tim Wellens (Bélgica; Lotto Soudal) a 5´00´´
  • 8.º Romain Bardet (França; Team DSM) a 5´50´´
  • 9.º Vincenzo Nibali (Itália; Trek-Segafredo) a 6´30´´
  • 10.º Simon Yates (Grã-Bretanha; Team Bike Exchange) a 7´45´´
  • 68.º Nelson Oliveira (Portugal; Movistar Team) a 41´34´´
  • 106.º Ivo Oliveira (Portugal; UAE Team Emirates) a 54´58´´

Nas restantes classificações, Tadej Pogacar leva também a camisola de melhor trepador e da juventude para casa, enquanto Wout van Aert conquista a camisola por pontos. João Almeida terminou na terceira posição na Classificação da Juventude (ciclistas com menos de 25 anos), atrás dos dois últimos vencedores do Tour de France: Tadej Pogacar (2020) e Egan Bernal (2019).

O domínio da nova geração do ciclismo

Muitos dos principais ciclistas do pelotão internacional participaram na edição de 2021 do Tirreno Adriatico. O campeão de 2020, Simon Yates, procurava defender o título contra uma oposição repleta de antigos vencedores da competição, como Vincenzo Nibali e Michal Kwiatowski, assim como jovens com provas dadas em provas por etapas, como Tadej Pogacar, Egan Bernal. Wout van Aert, Mathieu van der Poel, Geraint Thomas, Mikel Landa e João Almeida eram os outros nomes de destaque à partida da competição.

A primeira etapa, talhada para sprinters, começou e terminou em Lido di Camaiore com uma vitória de Wout van Aert, ao sprint, uma característica cada vez mais desenvolvida pelo ciclista belga, e assumiu a liderança da prova.

No dia seguinte, a chegada a Chiusdino aguçava o apetite a ciclistas como van der Poel e o campeão do mundo Julian Alaphillippe. João Almeida esteve perto de vencer a etapa, com um ataque perto do final da tirada, sendo apanhado já nos últimos 500 metros pelo pelotão.

Em Gualdo Tadino, foi a vez de Mathieu van de Poel vencer, superando-se ao seu rival de longa data, desde o ciclocrosse até ao ciclismo de estrada, Wout van Aert.

A etapa rainha era a quarta etapa, com final em Prati di Tivo, onde se esperavam diferenças consideráveis entre os principais favoritos à vitória. Tadej Pogacar atacou a dez quilómetros do final da subida e nunca mais foi apanhado, continuando a mostrar superioridade suprema na alta montanha. João Almeida defendeu-se como pôde, terminando a etapa na sexta posição, a 35 segundos do esloveno da UAE Team Emirates. Wout van Aert concluiu em nono lugar, a 45 segundos, perdendo a camisola azul para Pogacar.

João Almeida defendeu-se na chegada ao alto de Prati di Tivo. Fonte: Deceuninck-QuickStep/Facebook

A quinta etapa que se antevia-se complicada devido às constantes subidas curtas, mas com forte inclinação, acabou por ser a etapa chave da prova, num dia com muita chuva e vento que trouxe muitas diferenças na classificação geral. Mathieu van der Poel atacou a 50 quilómetros da meta e nunca mais foi alcançado, num dia em que só Pogacar e van Aert foram capazes de dar alguma luta ao prodígio holandês da Alpecin-Fenix. João Almeida perdeu mais de 3 minutos para Pogacar, num dia complicado para a Deceuninck-QuickStep e com isto a hipótese de fazer mais um pódio no World Tour.

A chegada a Lido di Fermo repôs a normalidade na competição, numa etapa plana onde foi uma fuga que vingou. Mads Wurtz Schmidt (Israel Start-Up Nation) foi o vencedor, enquanto Nelson Oliveira terminou na quinta posição e lutou ao sprint pela vitória.

Wout van Aert concluiu a prova italiana com uma vitória no contrarrelógio final de San Benedetto del Tronto, em sete dias que mostraram ao mundo o domínio atual na nova geração de ciclistas nascidos no final dos anos 90: Pogacar, van de Poel, van Aert, Bernal e Almeida.

“A Corrida dos dois Mares”

Com a sua primeira edição em 1966, o Tirreno-Adriatico era, inicialmente, uma prova de um dia, habitualmente conquistada por especialistas em sprint.

Com o passar dos anos, a prova italiana foi sofrendo ligeiras alterações e tem, desde 2002, um total de sete etapas variadas e talhadas para todo o tipo de ciclistas, desde contrarrelogistas, sprinters, trepadores e especialistas em colinas, servindo como um verdadeiro teste de preparação para o Giro d´Itália.

Programada todos os anos para o mês de março, é conhecida como a Corrida dos dois Mares. O pelotão atravessa a zona central da Itália, começando na costa do Mar Tirreno até à costa do Mar Adriático ao longo de sete dias, terminando sempre em San Benedetto del Tronto (à exceção da primeira edição, em 1966).

Desde 2010 que o vencedor da competição é presenteado com um tridente dourado, numa alusão à arma utilizada por Neptuno, Deus do Mar na mitologia romana, coroando assim o ciclista vitorioso como o “Rei dos dois Mares”.

Alberto Contador na consagração como “Rei dos dos Mares” em 2014. Fonte: Tirreno Adriatico/Facebbok

Entre os vencedores da prova na última década, encontram-se vencedores de grandes voltas (Giro d´Itália, Tour de France e Vuelta a España):

  • Cadel Evans (Austrália) – Tirreno-Adriatico 2011; Tour de France 2011
  • Vincenzo Nibali (Itália) – Tirreno-Adriatico 2012 e 2013; Giro d´Itália 2013 e 2016; Tour de France 2014; Vuelta a España 2010
  • Alberto Contador (Espanha) – Tirreno-Adriatico 2014; Giro d´Itália 2008 e 2015; Tour de France 2007 e 2009; Vuelta a España 2008, 2012 e 2014
  • Nairo Quintana (Colômbia) – Tirreno-Adriatico 2015 e 2017; Giro d´Itália 2014; Vuelta a España 2016
  • Primoz Roglic (Eslovénia) – Tirreno-Adriatico 2019; Vuelta a España 2019 e 2020
  • Simon Yates (Grã-Bretanha) – Tirreno-Adriatico 2020; Vuelta a España 2018

Tadej Pogacar torna-se assim no segundo esloveno a vencer a competição e continua a mostrar um excelente momento de forma, após a vitória na Volta aos Emirados Árabes Unidos.

Artigo editado por João Malheiro