Anunciado a 18 de janeiro pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Van der Leyen, o Novo Bauhaus Europeu é definido pela instituição como “uma iniciativa criativa e interdisciplinar que proporciona um espaço de encontro para conceber futuros modos de vida“.

Algures na “encruzilhada entre a arte, a cultura, a inclusão social, a ciência e a tecnologia”, a iniciativa “visa aproximar o Pacto Ecológico [Europeu] dos sítios onde vivemos e mobilizar um esforço coletivo para imaginar e construir um futuro sustentável, inclusivo e belo”. O nome Bauhaus deve-se à influência da centenária escola de arquitetura com o mesmo nome.

Neste momento, o projeto está em fase de conceção, ou seja, numa etapa de “cocriação” em que participam 18 pensadores de diversas áreas disciplinares, como “embaixadores nas suas comunidades, para coordenar ideias, identificar as necessidades e desafios comuns mais urgentes e interligar as partes interessadas para definir um ‘conceito’”, lê-se numa nota de imprensa da Comissão.

Docente da Faculdade de Arquitetura é um dos “embaixadores”

Um dos pensadores envolvidos é o professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) José Pedro Sousa. Em declarações ao JPN, o arquiteto conta que o interesse pelo projeto “resultou sobretudo do reconhecimento da gravidade dos desafios do ambiente e sustentabilidade que enfrentamos e, por outro, da responsabilidade da arquitetura e da indústria da construção, quer na causa, quer no combate aos mesmos”.

Por isso, o professor considera que a arquitetura “tem uma oportunidade pela frente de desempenhar um papel importante nesta missão e de reforçar a sua importância na sociedade. Julgando que essa intervenção passará, entre outros, pela transformação digital dos processos de projeto, construção e monitorização do ambiente construído”, refere o docente da FAUP.  Por tudo isso, José Pedro Sousa decidiu integrar um processo de seleção para entrar para o grupo do Novo Bauhaus Europeu.

A importância da estética

José Pedro Sousa afirma que o aparecimento da pandemia “trouxe à tona a importância do espaço público e do espaço doméstico na nossa vida, bem como uma nova perceção da influência das telecomunicações na organização da mesma e, em particular, do trabalho”.

O projeto da Comissão Europeia inspira-se na escola de arquitetura com o mesmo nome. Foto: Pixabay Foto: Pixabay

Assim, apesar de não ter uma “fórmula mágica”, o professor de arquitetura da Universidade do Porto pensa que “o mote lançado pela Nova Bauhaus Europeia de não esquecer a estética na procura de soluções mais sustentáveis e económicas, é  muito certeiro e inspirador”.

Dada a subjetividade do conceito de beleza, os promotores da iniciativa decidiram definir concretamente o significado de “espaços belos”.

Assim, consideram que para ser belo o espaço tem de ser “inclusivo e acessível”, tem de ser “sustentável” e tem de potenciar “experiências enriquecedoras”, “que respondam às necessidades que vão além da nossa dimensão material, inspiradas na criatividade, na arte e na cultura”.

Um projeto aberto à participação dos cidadãos

O  professor da FAUP sublinha que esta é uma iniciativa “muito inspiradora”, porque alude a “uma escola de artes e arquitetura inovadora e reconhecida por todos”,  promove “uma grande abertura à participação e encoraja a colaboração entre diferentes áreas disciplinares” e convida os cidadãos “a pensar e atuar como europeus”.

Neste sentido, este é um projeto que possibilita que os participantes aprendam “todos uns com os outros” e que “com as diferentes experiências, de certeza que sairão ideias e projetos que contribuirão para, coletivamente, projetarmos espaços e futuro melhores”, realça José Pedro Sousa.

Apesar da iniciativa ainda estar no arranque, o docente da Faculdade de Arquitetura é perentório a afirmar que o projeto “está no bom caminho”, já que o site do projeto “tem registado muitas contribuições” e o mesmo se tem verificado nas “sessões públicas informativas realizadas até ao momento”.

José Pedro Sousa conta ainda que “vão surgindo, de uma forma bottom-up, eventos de discussão e projetos de ação em vários países”.

O programa organiza ainda um prémio, que este ano vai decorrer em março e abril. Os prémios destinam-se a “realizações já existentes” que estejam inseridas “nos valores da agenda política e cívica europeia.” Existem dez categorias e o prémio é de 30 mil euros e ainda um apoio para a realização de um documentário ou exposição.

Artigo editado por Filipa Silva