Que tipo de médico queremos para o futuro? A esta pergunta-chave procuraram dar resposta os intervenientes da Conferência sobre Formação Médica que decorreu online esta quinta-feira (18). Da formação de jovens profissionais aos desafios da integração da medicina académica na prática médica, foram muitos os tópicos em debate.
Dinamizada pela Federação das Academias Europeias de Medicina (FEAM) com o apoio da Academia Portuguesa de Medicina, a conferência estava planeada em formato presencial na cidade de Lisboa, mas devido à pandemia, foi adaptada ao meio virtual.
Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, deu as boas-vindas ao painel de especialistas e sublinhou a pertinência da discussão face aos tempos de “incerteza” que se vivem na Europa e no mundo. O ministro reforçou ainda a importância da educação superior como “forma de progresso”.
A conferência foi marcada por diversos momentos e contou com palestras sobre diferentes tópicos. Fausto Pinto, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), abordou “as mudanças da medicina nos próximos 10 anos”. Nesta exposição, Fausto Pinto discorreu acerca da contribuição dos avanços tecnológicos para a área da saúde, nomeadamente a Inteligência Artificial, que considera que “deve ser mais e mais usada pela comunidade médica” como apoio ao diagnóstico e tratamento.
O docente referiu ainda que, com estas mudanças no paradigma médico, os pacientes são cada vez mais informados e “empoderados”, pelo que devem ser envolvidos nas estratégias de tratamento.
Stefan Constantinescu, da Academia Real de Medicina da Bélgica e da Academia Romena de Ciências Médicas, desenvolveu o tópico da “integração da medicina académica na prática médica” e explicou que “a combinação de investigação e ensino é o melhor ingrediente para o progresso médico e a prática médica de excelência”.
Reforçando novamente a necessidade de ouvir os doentes, Stefan Constantinescu referiu a diferença entre o estudo académico, orientado para “identificar e resolver um problema”, e a prática clínica, em que “não é realista” considerar que todos os casos podem ser resolvidos. Nestas situações, a abordagem passa por compreender e definir o problema. Assim, o “médico do futuro” combinará na sua a abordagem a “atual medicina académica/clínica” com um “conhecimento básico na área da investigação”, de forma a conseguir acompanhar os avanços da área.
Ainda sobre o tipo de profissionais médicos que a comunidade deseja ter no futuro, Manuel Sobrinho Simões, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e membro da Academia Portuguesa de Medicina, explicou que, mesmo num “país tão pequeno como Portugal”, a sociedade apresenta diferenças nas várias áreas geográficas.
O patologista sublinhou, assim, a importância de os jovens profissionais se preocuparem cada vez mais em “entender as bases científicas”, mas também em desenvolver “competências sociais e culturais”, nomeadamente nas áreas da comunicação e empatia. “Um paciente não é apenas um monte de genes e é importante os estudantes de medicina entenderem isso”, reforça.
Tendo Manuel Sobrinho Simões como presidente de painel, lançou-se depois uma discussão aberta sobre a pergunta de partida, que contou com a intervenção especialistas de Estrasburgo, Londres, Madrid e Berlim.
A conferência foi organizada sob a chancela da Presidência Portuguesa do Conselho da UE 2021. A FEAM tem 23 academias espalhadas pela Europa e conta com a vice-presidência de Maria do Céu Machado, ex-presidente do INFARMED, que também esteve presente no colóquio.
Artigo editado por Filipa Silva