Rui, de 55 anos, perdeu o emprego devido à Covid-19 – um surto no lar onde trabalhava pôs fim ao seu contrato. O seu caso é um dos que fez aumentar o número de pedidos de ajuda recebidos pela Legião da Boa Vontade (LBV). Encontrámo-lo esta segunda-feira (15) na instituição, onde se deslocou para levar para casa um cabaz de alimentação. 

Foi encaminhado para a LBV através da Segurança Social e está na corda bamba, “à espera de arranjar um emprego e que as coisas melhorem”. Pela ajuda e pelo acompanhamento, numa altura delicada da vida, Rui agradece. 

A Legião da Boa Vontade entrega todos os dias cabazes a pessoas e famílias carenciadas – mensalmente, são mais de 300, segundo reportou ao JPN a assessora de imprensa, Eduarda Pereira. Durante épocas festivas como a Páscoa e o Natal, o número de pedidos de ajuda aumenta, já que são épocas “em que as famílias mais se reúnem”. 

A associação também realiza “rondas da caridade”, em que os voluntários saem à rua para apoiar pessoas em situação de sem-abrigo, e presta ainda  apoio “à pessoa grávida”

Foi nesse âmbito que Ana Rita, de 29 anos, começou a obter apoio da Legião da Boa Vontade. Conheceu a instituição há dois anos, quando engravidou e não tinha “possibilidade de trabalhar”. A sua situação torna-se mais complicada, porque tem “uma familiar oncológica em casa e um bebé de 15 meses” para cuidar. Por tudo isto, o auxílio que tem recebido por parte dos voluntários é “muito bom”.

Durante a ação de segunda-feira, o JPN falou também com Bruno, desempregado, tal como a esposa. Têm dois filhos pequenos e, por isso, receberam ajuda durante a gestação do segundo. Atualmente, estão inseridos no programa “Cidadão Bebé”

De coração aberto

Durante cerca de meia hora, uma pessoa de cada vez entra na sala para recolher o seu cabaz, com o auxílio dos voluntários – entre eles, está Ana Filipa, de 36 anos. A administrativa faz voluntariado na Legião da Boa Vontade há seis anos, executando tarefas que vão “desde peditórios até às rondas de caridade”. Ajudar o próximo é a sua forma favorita de ocupar o tempo livre e nem o contexto pandémico a impede. “Apesar da dificuldade”, Ana Filipa nota uma “entreajuda” constante no meio onde faz voluntariado. “Desde que se queira ajudar e se cumpra as regras, não há problema nenhum em nós darmos o nosso contributo”, garante.

Carlos, de 66 anos, está também a auxiliar na entrega dos cabazes, uma tarefa que conhece bem – dos cerca de 30 anos que a instituição tem, é voluntário há mais de 20. Começou “com os sem-abrigo na ronda da noite”, sempre com a expectativa de apoiar quem mais necessita. 

O voluntário revela que, com a chegada da Covid-19, “muita gente ficou sem os seus empregos” e cada vez chegam mais pedidos de ajuda à instituição. Nesta como noutras ocasiões, garante que as “as portas e o coração” da Legião da Boa Vontade “estão sempre abertos” para amparar as famílias.

“Cada vez mais temos pessoas que não precisavam e que agora estão também a recorrer”

Eduarda Pereira, explica ao JPN que a pandemia provocou um aumento do número de pedidos de ajuda de pessoas que, antes, ”não precisavam”. Ora porque tinham trabalhos precários e “deixaram de os ter”, porque tinham reformas baixas e doenças associadas e ficaram “sem retaguarda familiar”, ou porque ficaram em layoff, há mais gente “a recorrer” à Legião da Boa Vontade. 

Para responder a estes desafios, a instituição oferece ajuda “não só ao nível alimentar, da roupa e produtos de higiene”, mas também faz um trabalho de orientação, através do qual os beneficiários podem obter auxílio com “processos burocráticos e a enviar currículos”. 

Na opinião da assessora de comunicação da LBV, o propósito da associação é “estar aqui e ajudar ao máximo”. O apoio que recebem “da sociedade” – seja de empresas, de particulares ou dos próprios voluntários – contribui para o sucesso desta missão. 

Susana Veiga, assistente social que colabora com a LBV, refere que a média diária de pedidos é de quatro, superior à dos anos anteriores. 

Relativamente às dificuldades causadas pela pandemia, Susana conta que alguns membros da equipa e voluntários tiveram que dar uma maior resposta no seio familiar e “todas as medidas de higiene exigem uma organização diferente” da anterior.

Assim, as ações que, anteriormente, eram feitas de forma presencial, “com muitas pessoas juntas”,  têm de ser, agora,  efetuadas de “forma faseada’‘. Atualmente, a Legião da Boa Vontade dá resposta aos pedidos, maioritariamente, “via telefone”.

A Legião da Boa Vontade dinamiza várias rondas da caridade nas noites de sexta, sábado e domingo, nas quais atendem cerca de 80 pessoas em situação de sem-abrigo e entregam “um kit de alimentos, com fruta, pão, leite e sopa”. Susana Veiga acrescenta ainda que, além disso, existe sempre o que apelida de “humanização do cuidado” – a simples palavra amiga. Porque, para quem é “marginalizado” diariamente, “a nossa palavra, o nosso conforto, é um sinal de esperança”

Artigo editado por Filipa Silva